Nesta 6ª feira como prometido quando criei esta seção (17.04)teremos a postagem "Opinião de 3ºs" com um artigo de um(a) amigo(a) deste blogueiro. Na 6ª feira que vem, teremos novamente um artigo meu.
Hoje, para apreciação de vocês posto o artigo de Beatriz Mesquita,cronista brasiliense. Obrigado Bia. Este espaço estará sempre aberto para você!!
A memória de um povo
Eu tinha 27 anos quando morreu Tancredo Neves. Havia acabado
de parir meu segundo filho e mudar para Brasília. Minha vida mudou no mesmo
ritmo que a do Brasil. No ano anterior morava no Rio, trabalhava no Palácio
Guanabara, profundamente engajada na Campanha das Diretas Já e, em um piscar de
olhos, me vi no Planalto Central acompanhando, pela tela fria da televisão, a
frustração dos brasileiros no velório de Tancredo.
Trinta anos depois é impossível deixar de imaginar o que
seria o Brasil, se o primeiro presidente do período pós-ditadura militar não
houvesse morrido. Embora se diga que os dezesseis anos do golpe nos privaram de
uma geração de bons políticos, a verdade é que, duas gerações após seu término,
não vejo despontar ninguém que se compare aos que brilhavam, então.
Onde os Ulysses Guimarães, Mários Covas,Tancredos Neves, Fernandos Henriques, Brizolas e
tantos outros que não vou citar para não cometer a injustiça do esquecimento?
Basta resgatar as fotos dos palanques dos comícios das Diretas Já para ver quem
são. Em que leitos dormem distraídos os estadistas, os políticos vocacionados,
realmente interessados em trabalhar pelo bem do povo, não em busca de
enriquecimento pessoal, em detrimento do país?
No momento mesmo em que escrevo, o relator do Orçamento no
Congresso, senador Romero Jucá, triplicou a verba prevista para o fundo
partidário, estabelecendo um valor recorde de R$ 867,5 milhões, devidamente
sancionado pela presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo em que socorrem os
partidos atingidos pelo fim das doações das empreiteiras envolvidas na
Lava-Jato, pedem à população que pague
ainda mais impostos para sanar o rombo deixado pela corrupção e pela inépcia.
A concepção grega do político como homem nascido livre e
igual, com direito a falar na Ágora e discutir sobre o que a cidade poderia ou
não fazer; nos autoriza a inferir que, em sua origem, o político era a voz dos
que não a tinham. Quanta diferença de hoje, em que políticos ignoram a voz das
ruas e somos governados por uma administração reprovada por 60% da população,
segundo a última pesquisa Datafolha, e considerada apenas regular por mais 27%.
Quem nos representa? Quem fala por nós? Não há democracia sem representação
popular.
Vivemos um momento tão especial neste abril de 2015 quanto o
foi o distante abril de 1985. Há trinta anos éramos um povo cheio de esperança
e sonhos de um futuro melhor. Sem tortura, sem injustiça social, sem
privilégios, sem mordaças, sem a censura personificada na figura da Dona
Solange, imortalizada pela irreverência do Pasquim. Pessoas que não se
conheciam sorriam, cúmplices, na rua; um novo mundo estava nascendo.
Hoje somos uma nação desolada, cabisbaixa. Não há mais sonho;
fomos vencidos por quem jurou nos defender. Uma sucessão de péssimos
administradores e políticos de ocasião, com a devida exceção para os dois
governos Fernando Henrique Cardoso - um político sério, apesar dos erros que
cometeu -, nos levou tudo: esperança, saúde, educação, segurança, teto,
dignidade, economia estável e, principalmente, memória.
As novas gerações, educadas por professores aparelhados e
criminosamente tendenciosos, passaram por um condicionamento tal que não
conseguem mais distinguir a verdade da fantasia. Em um país onde já não há
partido de direita no poder há anos, chamam de reacionário a quem está um pouco
menos à esquerda do que eles e reinventam a História recente sem pudor. Por que
não?
Aqui se pode tudo. De “pedaladas” fiscais a mudar a Lei de
Responsabilidade Fiscal no apagar das luzes de 2014, para evitar que a
presidente Dilma Rousseff fosse enquadrada por ela. De fazer o diabo para se
reeleger, destruindo reputações, mentindo sem corar, até fazer exatamente tudo
o que prometeu não fazer, antes mesmo de tomar posse no segundo mandato.
Acontece, como já dizia Karl Marx, que o PT deveria ler até
por obrigação...digamos...profissional: que “A História se repete, a primeira
vez como tragédia e a segunda como farsa ...”. Assim como nas Diretas Já e no
impeachment do Collor, o povo está nas ruas. Por vontade própria, convocado por
redes sociais que não existiam naquela época.
Conseguimos o impeachment de Collor graças a um Fiat Elba. Os
bilhões de reais, contabilizados até agora, no que é chamado no exterior como
“O Maior Escândalo do Mundo”, ainda não comoveram Parlamento e Judiciário, o
povo ainda está só; nas ruas e em seu desejo de ver o governo petista fora do
Planalto – somos 63%, como mostra a pesquisa Datafolha.
Não vamos nos render, como disse o então presidente da
Câmara, Ibsen Pinheiro: “o que o povo quer, esta casa acaba querendo”. E o povo
quer um governo mais enxuto; transparente; quer saber o que fizeram com o
dinheiro de seus impostos, altíssimos, aliás; quer abrir a caixa-preta dos
empréstimos do BNDES e dos fundos de pensão; quer contas de luz mais baixas e
comida mais barata. O povo definitivamente não quer pagar a conta da corrupção
de um governo que desaprova.
O povo quer ser ouvido. O momento é delicado e espera-se dos
políticos que estejam à altura dele.
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