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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Da Psicologia Humanista à Psicologia Transpessoal - A Dignidade do Ser como Virtude d’Alma


Algumas Escolas do Pensamento Psicológico defendem a tese que o indivíduo, como pessoa humana, considerada quanto às suas características particulares, físicas e psíquicas, será, fatalmente, o resultado da sua programação hereditária, uma vez que nasceu modelado pelos fatores genéticos que lhe são peculiares.

Esta é a nosso ver, uma tese limitadora das possibilidades do Ser, pois, dela também deriva a ideia que, em assim sendo, nem mesmo a educação conseguiria contribuir eficazmente na transformação moral da criatura, quando as suas, forem tendências perturbadoras e responsáveis pelo comportamento dócil ou afetivo, alienado ou desastrado, pacífico ou violento que cada indivíduo apresenta.

Certamente é inegável que a genética se impõe na formação da aparelhagem fisiológica. Porém, é preciso observar que o indivíduo não é apenas um ser físico e orgânico, ele é, antes de tudo, o ‘Self’, o “Eu” profundo, responsável pelos seus conteúdos psíquicos. Este ‘Eu’ que algumas vezes é denominado de ‘Mente’, ou de ‘Alma’, ou de ‘Espírito’, ou simplesmente de ‘Energia’, ou de ‘Psique’, palavra grega que significa alma e que vem nos dizer algo que para alguns, pode até soar estranho, mas, que nos leva a olhar para além dos conceitos materialistas para nos permitir entender que, a criação e a vida da psique preexistem ao momento da concepção fetal e que a morte biológica não representa o término das suas funções.

Entre os grandes decifradores da alma humana, o genial Guimarães Rosa, anotou: - “As pessoas ainda não estão terminadas, elas estão sempre mudando... afinam ou desafinam. Verdade maior!”.

Carl Gustav Jung, decifrando o próprio ser, escreveu: - “Minha vida é a quintessência do que escrevi e não o contrário. O que sou e o que escrevo é uma só coisa. Todas as minhas ideias e todos os meus esforços, eis o que sou”.

Ainda nas pegadas do Mestre Jung, é importante lembrar que ele constatou que “a onda de materialismo que dominou as mentes no final do século XIX”, deixou marcas profundas no campo da Psicologia que àquela época iniciava sua autonomia científica. Não obstante, no campo das Ciências do Comportamento humano, homens e mulheres notáveis, trouxeram suas importantes contribuições que não se limitaram à observação puramente materialista. Foi assim que, William James (1842–1910) externou seu pensamento considerando não existir “outra causa para o fracasso humano senão a falta de fé do homem em seu verdadeiro ser”.

Os complexos mecanismos da psique foram se tornando melhormente compreendidos através dos estudos, das teorias e conceitos surgidos até mesmo daqueles estudiosos considerados ‘materialistas’. Deve-se destacar o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud, que, ao aprofundar seu olhar sobre os estudos do inconsciente fez com que a Psicologia avançasse significativamente.

Mas, como exarado no pensamento de Heráclito: -“Não se pode chegar aos limites da alma caminhando; mesmo que se percorram às pressas todas as ruas, seu sentido é por demais, profundo”.

Desta forma, é perceptível que os caminhos trilhados pelo pensamento psicológico renderam avanços nos estudos das suas variadas correntes e abriu-se o leque para a compreensão dos transtornos, das neuroses e das diversas manifestações do inconsciente, o que foi grandioso para o conhecimento da psique. Entretanto, também se percebeu que importantes questões em torno do ser permaneciam inexploradas, isto incentivou outros estudiosos a iniciarem suas pesquisas buscando os valores profundos da alma e os caminhos para a autorrealização do ser.

É certo que a Psicologia humanista agregou importantes conquistas para o conhecimento em torno do ser, mas, como ainda faltava integrar a dimensão espiritual para obter-se uma análise mais completa, surgiu uma Quarta Força, a Psicologia Transpessoal ou, a Psicologia como ‘estudo da alma’, que avançou a passos largos, depois que foram apresentados valiosos estudos em torno dos estados alterados de consciência que lhe engendraram o advento e que se propagou a partir de 1966 nos EUA. Foi muito importante esta corrente de pensamento por ter facultado que ensinos e experiências orientais, fossem introduzidos abrindo espaços para uma visão espiritualista do ser humano em maior profundidade.

Foi o próprio precursor das duas correntes, o psicólogo americano Abraham Maslow que assim considerou:

“Devo também dizer que considero a Psicologia humanista, ou Terceira Força da Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda ‘mais elevada’, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmo do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação...”.
Fato é que foi apoiando-se na contribuição valiosa da ancestralidade oriental que revelava os conhecimentos em torno do ser espiritual, que a Quarta Força estruturou-se oficialmente a partir de 1968 lá mesmo, nos Estados Unidos. É bem verdade que predominou certo preconceito acadêmico a respeito dos seus postulados. Mas, isto não intimidou seus aguerridos fundadores: Abraham Maslow, Viktor Frankl, Stanislav Grof, Antony Sutick, James Fadiman. Anteriormente, outros teóricos renomados já haviam lançado as bases para a constituição da Psicologia transpessoal, foram eles: Fritjof Capra, Carl Gustav Jung, Pierre Weil e Roberto Assagiogli, dentre outros.

Pierre Weil, assim define a Quarta Força:

“(...) trata do estudo de consciência em que se dissolve a aparente fronteira entre o “eu” e o mundo exterior, em que desaparece o que chamamos de pessoa e surge uma vivência que está além. Daí a designação “transpessoal”, já utilizada por C.G.Jung em sua Obra, tendo o termo “Psicologia transpessoal” sido oficialmente adotado nos Estados Americanos, em meados de 1969”.

A integração da dimensão espiritual possibilita um enorme avanço da Psicologia em direção ao conhecimento da essência do ser, o ‘Eu profundo’ ou ‘Self’, a totalidade da psique consciente e inconsciente, o arquétipo primordial, o Espírito, ser eterno enquanto imortal, pois que teve princípio tendo sido criado por Deus, mas, não terá fim porque seu destino é a evolução para a eternidade. Portanto, é o Espírito, o Ser inteligente da Criação Divina que preexiste e sobrevive à morte, o objeto das análises aprofundadas da Psicologia transpessoal.

Com este campo ampliado de visão, não somente a carga genética e os traumas de uma existência seriam os responsáveis pelos conflitos da personalidade, mas também, toda a vivência do Ser que somos, em toda a sua variada gama de experiências existenciais.

Poderemos considerar, sem medo de errar, que não são os caprichos dos genes que formam o ser, as suas características físicas, emocionais e psíquicas, embora haja a prevalência deles, mas sim o Espírito que neles imprime as necessidades de desenvolvimento intelecto-moral.

Desta forma, é de alta relevância o desempenho da educação no desenvolvimento emocional, comportamental e cultural dos indivíduos, trabalhando-lhes os valores internos e impulsionando-os à conquista do infinito.

Hábitos saudáveis e edificantes produzem harmonia emocional no indivíduo bem como no grupo social onde ele atua. Os processos educativos, especialmente aqueles de natureza moral, constituem-se nos responsáveis pela transformação das tendências agressivas e dos sentimentos de baixa estima para melhor. Os exemplos bons, nos esforços para quaisquer realizações benéficas, fazem parte dos processos educativos pensados e trabalhados para o bem moral das criaturas, ao mesmo tempo em que, mediante o estudo, a instrução e a aquisição do conhecimento, concorrem para o desenvolvimento cultural e intelectual, num somatório de valores que enobrecem o ser humano.

À educação, no sentido lato do termo, está reservada, a magnífica tarefa de formar homens e mulheres melhores e mais sociáveis. Sujeitos que desenvolvam as sementes do amor e da dignidade para progredirem espiritualmente, transcendendo os limites do egoísmo, tornando-se úteis à comunidade, quando lhes será possível adquirir a consciência de paz e dos valores éticos que constituem a vida do ser pensante.

O significado do progresso desapareceria caso houvesse o fatalismo genético sem chance de transformação, o que ensejaria a permanência da brutalidade ancestral, o primitivismo arbitrário, sem as claridades do saber e do comportar-se, enfim, da auto-iluminação.

Triste seria para a humanidade, se a fatalidade genética realmente moldasse o caráter e o comportamento dos indivíduos, posto que nenhuma das doutrinas científicas e filosóficas teria razão de existir, porque a psique estaria incapacitada para assimilá-las, na sua condição de dependência dos fenômenos fisiológicos automatistas.

Todas as criaturas são livres para exercitar as condutas mentais, emocionais e morais que lhes aprouver, mas, são também responsáveis pelos resultados que serão colhidos desta liberdade de agir. Como reza a sabedoria do dito popular, “a sementeira é livre, mas, a colheita é obrigatória”. É a esta condição de vivenciar a virtude da dignidade perante a sua existência e a existência alheia que a Psicologia transpessoal pode e deve conduzir seu cliente.

Indispensável, portanto, para terapeutas e pacientes, o conhecimento e a vivência da Lei Moral de justiça, amor e caridade que induzirá as criaturas à conduta psicológica saudável.

Por MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO

Monicaventura

-Advogada especializada em Direito de Família e Sucessões, Direito Internacional Público e Direto Administrativo.

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