No Brasil, vivemos tempos realmente, muito difíceis, há crises e isto é uma constatação.
Crise de valores, de ética, com uma corrupção da qual jamais se imaginaria. Nem mesmo os gênios roteiristas e destemidos de Orson Wells ou de Steven Spielberg, conceberiam.
Crise política que espera uma reforma urgentíssima da qual estamos desalentados e descrentes por não conseguirmos vislumbrá-la.
Crise econômica numa fase recessiva e inflacionária para a qual muitos ainda não despertaram ou não quiseram fazê-lo.
Crise do emprego com o crescimento do desemprego e com a falácia dos investimentos desenvolvimentistas.
Crise na educação clamando por uma reforma educacional urgente no País, cujo governo escolheu por lema ser “Pátria Educadora” – Onde? Quando? Como? Não é possível perceber no vigente ‘status quo’.
Crise habitacional e agrária com os sem-teto e os sem-terra, soltos e raivosos, invadindo e destruindo propriedades alheias com a máscara da vitimização dos ‘coitados’, míseros e desgraçados, acolitados pelo assistencialismo politiqueiro e eleitoreiro governamental que pretende mantê-los subjugados aos objetivos escusos do poder.
Crise energética mascarada por um governo que se apresenta bom entendedor e gerenciador, porém, com políticas que estão destruindo o setor de energia ao invés de alavancá-lo.
Crises, enfim. Será este momento crítico uma fatalidade?
Dedicando-me a estudar as Obras do Mestre e pedagogo lionês, Hippolyte Léon Denizard Rival(1804-1869),autor de Obras especialíssimas, entre estas a Edição da Revue Spirite, Journal D’Êtudes Psychologiques (Janeiro/1858 a Dezembro/1869), aprendi que “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea”. Isto tem pautado minha ética e conduta profissional, social e familiar desde sempre, “é preferível rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira”.
Rivail foi Discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), o pedagogo suíço cujas teorias criaram as bases do ensino primário moderno. Pestalozzi, por sua vez, foi Discípulo de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), escritor e filósofo suíço, considerado o grande renovador do sistema político e social de sua época e “pai da democracia moderna”, cujo lema, desde o princípio foi “dedicar sua vida à verdade”, a verdade do sentimento, do bom senso e do raciocínio lógico.
O pensamento de Rousseau lançou um olhar novo sobre a educação dos indivíduos, pois, ensinava que “a educação do homem começa no nascimento; antes mesmo de falar ou antes de ouvir, ele já se instrui”. Defendendo a tese de que “o homem nasce livre”, Rousseau rejeitava toda autoridade apoiada sobre privilégios naturais ou sobre o direito do mais forte.
Interessante observar que todos, sem exceção, desde governos e autoridades, formadores de opinião e pessoas simples do povo, falam da importância da educação, sem, contudo, terem a mínima ideia exata de tudo o que ela abarca. Paradoxalmente, existe um grande abismo entre o falar e o fazer. Neste abismo, há também os pontos escuros das individualidades adornadas pela pusilanimidade e pelo péssimo hábito das mentiras.
A pusilanimidade é, a meu ver, um, dos piores adjetivos que a criatura pode alimentar em seu comportamento. A pessoa pusilânime é covarde, tem o ânimo fraco. A um caráter pusilânime falta firmeza e decisão. Euclides da Cunha, no clássico “Os Sertões”, anota: “Um contraste: a raça forte e íntegra abatida dentro de um quadrado de mestiços indefinidos e pusilânimes”. Ainda há mais, o pusilânime é medroso. Sobre o medo, uma anotação muito especial, encontramos sob a pena literária do humilde e saudoso exemplo do Homem de Bem, que em 2012 foi eleito “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, em um concurso homônimo realizado pelo SBT e pela BBC de Londres, cujo objetivo foi "eleger aquele que fez mais pela Nação, destacando-se pelo legado altruísta à sociedade", Francisco Cândido Xavier, que escreveu: “o medo é força paralisante da Alma”.
E o doentio hábito da mentira? É aviltante ouvir-se, seja de autoridade ou não, de alguém próximo a nós ou não, uma mentira. Quando isto ocorre nos sentimos no pior dos mundos, porque quem mente adultera, engana, finge, tripudia sobre a nossa confiança. Quem poderá, em sã consciência, sentir-se confortável perante um mentiroso?
Na orientação para o comportamento ético e moral das criaturas, lê-se na Lei Mosaica do Antigo Testamento, a Lei Divina, promulgada no Monte Sinai. Esta Lei é invariável e apropriada aos costumes e ao caráter de um Povo em todos os tempos, na qual, entre os dez, o VI Mandamento determina:
VI: “Não cometerás adultério”.
A nível de adultério entre casais, há muito, isto deixou de ser algo que se fazia “às ocultas”, está banalizado, vulgarizado pelo cinema, pelas novelas, pela mídia, pelo comportamento de pessoas que acham que isto é até “normal”, e muitos estão transgredindo esta Lei Divina, porém, cada qual tem a sua consciência e deverá saber como se libertar deste imbróglio, afinal, o sentimento alheio merece respeito e consideração.
Pretendo aqui me reportar a um outro tipo de adultério. Pensemos: o que significa ‘adulterar’?
Significa alterar, falsificar, distorcer, corromper ou corromper-se, deturpar ou deturpar-se, viciar ou viciar-se, mudar, modificar, deformar, contrafazer. Tudo isto é sinônimo de ‘adulteração’ conforme os lexicógrafos.
Desta forma, percebemos que, ainda que sejamos muito fiéis à esposa ou ao marido, ao companheiro ou à companheira, poderemos, pela falta de vigilância, pelo descuido e pela deseducação, adulterar com as coisas. Assim, quando mentimos adulteramos a verdade; quando iludimos corrompemos a confiança. Se no trabalho, na profissão, no cargo público ou privado, não cumpro com o meu dever, estou adulterando. Quando eu prego uma coisa e faço o contrário do que falei, também aí, estarei adulterando. Aquele dito popular: “faça o que eu digo, mas, não faça o que eu faço” é o coroamento vergonhoso do adultério sob todas as formas possíveis.
São variáveis as situações que estão sujeitas à adulteração quando o indivíduo não age corretamente amparado pelos sistemas, da ‘Educação’, da ‘Moral’ e da ‘Ética’.
A ‘Educação’ é a arte de formar caracteres. É a arte de formar os homens, ou seja, é a arte de fazer eclodir nas criaturas os gérmens da virtude e orientar para alijar os dos vícios. Educar é desenvolver a inteligência e dar instrução própria às necessidades. Em suma, educar é a meta, é o objetivo que deve consistir no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais do Ser. Desta forma, ela não pode se restringir aos bancos escolares que têm, na verdade, a tarefa da instrução. A educação precisa ser trasladada das escolas e universidades para todos os campos das atividades humanas, onde cada qual, deve ser educador para a vida, sem se esquecer que está vinculado, àqueles que se transformam em seus seguidores conscientes ou não. São estes, os aprendizes dos recursos de que cada qual se faz portador.
Assim, a ‘Educação’ é tarefa de todos nós e seu esforço não poderá jamais ser desconsiderado sob pena de permitir-se a anarquia, a estroinice, os estados de vandalismo, gerados pela deseducação ou pela educação deficiente e perniciosa. Educação, eis o que todos repetem, porém, quantos a praticam?!
O segundo e o terceiro sistemas estão vinculados. Um é originário do latim ‘morale’, significa “a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal”. E o outro, ‘ética’, do ponto de vista racional, significando as normas de convívio e os valores de conduta.
Os Pensadores distinguem “Moral” como um sistema mais antigo do que a “ética” e dizem que, como tal, aquela deverá ter vida mais longa que esta, pois, moral é tradicionalmente religiosa na qual se pressupõe uma origem do bem que é Deus e que nos dá regras claras, que se não forem seguidas, resultarão em consequências pelas quais deveremos responder dentro das responsabilidades que nos competem. Conforme exarado no Evangelho de São Mateus, 16, 27: “a cada um, segundo suas obras”.
A “Moral”, é sabido, é extremamente importante para o caminhar da Humanidade. Sua parte racional, a ‘ética’ tem conotação de prioridade nos códigos de conduta humana. Foi Aristóteles, o célebre filósofo, grande pensador de Estagira, no norte da Grécia, e professor de Alexandre Magno, quem lançou, por sua vasta Obra, uma ética dedicada a seu filho, Nicômaco. Nesta ética Aristotélica, existe a ideia de que o primeiro princípio da ética é o equilíbrio, pois, o excesso ou a falta são destrutivos dos princípios humanos. Outro ponto a se destacar é o de que ser ético é o caminho seguro para a felicidade, porque, como disse outro filósofo, leitor de Aristóteles, chamado Etienne de Laboici no Século XVI: “os maus vivem em sobressalto e não têm amigos, apenas cúmplices. Os maus nunca ficam à vontade por que estão sempre achando que seu mal virá a descoberto”. Donde depreende-se que a ética é garantidora da consciência pacificada para um sono tranquilo, repousante, de quem vive ao lado da felicidade.
Talvez, alguns brasileiros, nestes tempos de crises, fizessem o bem a si próprios, se se questionassem, humildemente: estarei feliz com a consciência pacificada e o sono tranquilo?!
Convido-os, caros leitores, a refletirmos juntos em algumas situações passíveis de adulteração, caso as criaturas olvidem a educação, a moral e a ética:
O pai ou a mãe que não cumpre seus deveres educacionais, éticos e morais perante seus filhos no Lar, constrange os ditames que a Sabedoria Divina lhes confiou. Citando apenas um exemplo que já presenciei com dissabor, uma família foi às compras. No supermercado, abriram os pacotes de doces, sempre olhando de soslaio, imaginando que não seriam vistos. Esconderam os pacotes vazios nas bolsas depois da degustação disfarçada e evitaram pagar pelo que consumiram, achando em sua ‘esperteza’ sinônimo de graça.
Um dirigente, um comandante, um governante, um político, quando deixam de honrar seus dirigidos, seus comandados, seus governados, ou àqueles que lhes confiaram o mandato público, adulteram seus deveres. Aqui, me permitirei não fazer citações, uma vez que cada leitor atencioso poderá encontrar nas páginas do noticiário diário, fartos exemplos destes adúlteros.
O legislador que faz da sua autoridade instrumento de opressão. O magistrado que não sustenta a justiça. O advogado que não preserva o direito. O administrador que não respeita a posse e o dinheiro a ele confiado para empregar os recursos no bem comum, com o devido discernimento. O chefe que foge à imparcialidade e à razão. Todos estes, deturpam, distorcem, malbaratam a humanidade e a generosidade.
O operário, o lavrador, o comerciante e o comerciário, o dono de indústria e o banqueiro, quando, respectivamente, envilecem suas tarefas dissipando o tempo, destruindo a terra, quando visam lucro exorbitante e fácil em detrimento da fome e do sacrifício alheio, estão adulterando com o sagrado respeito. E o quê dizer daquele que nos diz, na caradura: “com nota fiscal é mais caro”...???!!!
Em nosso País, presenciamos cotidianamente estes tremendos desconfortos morais. Não apenas por aqui, é fato, mas, aqui é o nosso torrão natal, onde desejamos nos sentir seguros e confortáveis, logo, estes comportamentos negativos nos incomodam sobremaneira.
Governos Federal, Estaduais e Municipais, nos mentem em publicidades aviltantes pagas com o dinheiro dos nossos impostos. Estamos subjugados a um governo Federal do qual se diz foi legitimamente eleito, mas, duvidamos da contagem final dos votos realizados em secreto conforme noticiado por toda imprensa escrita e televisiva. Além de desconfiarmos muito do estelionato eleitoral que, comprovadamente, atestou a mentira de quem apregoou uma coisa acusando outrem de querer realizar aquilo que o acusador realizou com a maior desfaçatez. Pior, os engodos prosseguem sem limites e para citar apenas um dos mais recentes, o governo está gabando-se de tomar medidas que diminuirão os custos da energia elétrica no País. Ora, o que a imprensa governista não explica ao Povo iludido e que não tem ânsias de bem informar-se, é que haverá o fechamento das termoelétricas que estavam em funcionamento até agora, porque o consumo caiu enormemente por causa da crise recessiva que o Brasil experimenta, mas, isto, no máximo, reduzirá em 1% para o consumidor que já foi taxado com aumentos que variaram entre 50% e 80%.
Vamos citar ‘Mensalão’, ‘Petrolão’ e outros ‘ãos’ que virão com Eletrolão, BNDES, Fundos de Pensão...?! Não. Vamos deixar aos especialistas. Apenas registrar que, primeiramente, tentou-se negar a existência desta roubalheira que estarrece o mundo por seu gigantismo e ousadia em tirar das empresas públicas propinas, somas vultosas e ‘pixulecos’ não menos dispendiosos, para a manutenção de “um projeto criminoso de poder” nas palavras de um dos preclaros Juristas, Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Seguindo em frente:
O mestre, o professor que não honra sua cátedra ensinando construtivamente seus alunos, também adultera.
O médico que negocia com as dores dos enfermos, adulterando a dignidade e o juramento da profissão.
Neste particular, visitando uma parturiente, assustei-me quando soube que o médico que a acompanhou em toda a gestação, onde tudo ocorria nos conformes, informou-a que ele somente realizaria o parto se ela se decidisse pela cesárea, caso contrário, ela deveria procurar outro profissional... Não acreditei na desumanidade, pois, ele ‘adulterou’ matando, literalmente, toda a confiança que esta mãezinha depositou em sua assistência para receber o filhinho amado que viria à luz!
O escritor, o poeta, o artista que olvidam que a inspiração deve ser fonte de luz para exaltação do gênio e da sensibilidade e viciam sua arte com a deturpação das verdades imorredouras do bem e do belo.
Então, toda vez que a criatura corromper ou distorcer a verdade ao seu talante, ao seu bel prazer, estará adulterando com as coisas sagradas que lhe foram confiadas. Fico meditando, se não foi por tudo isto e muito mais que o Mestre Jesus vaticinou aos fariseus e aos saduceus que solicitaram d’Ele um milagre:
“Quando vem a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado. E de manhã, hoje haverá tormenta porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis distinguir o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos? Essa raça perversa e adúltera pede um milagre! Mas, não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas! (...)” - Evangelho Segundo São Mateus, 16, 1-4.
E mais adiante no versículo 6: “Guardai-vos com cuidado do fermento dos fariseus e dos saduceus”.
Referindo-se, assim, claramente, que era preciso acautelar-se contra a doutrina daquela raça perversa e adúltera dos fariseus e saduceus. E nem todo mundo ali, enganava o marido ou a mulher, mas, O Mestre Jesus referia-se, certamente, àqueles que distorciam a verdade, que corrompiam, que deturpavam, adulterando as diversas facetas da vida.
Ah, Brasil!! Observemos o que está proclamado em duas estrofes na letra do Hino do Rio Grande do Sul:
“Mas não basta para ser livre Ser forte, aguerrido e bravo Povo que não tem virtude Acaba por ser escravo”
“Mostremos valor, constância Nesta ímpia e injusta guerra Sirvam nossas façanhas De modelo a toda Terra”
Por MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO
-Advogada especializada em Direito de Família e Sucessões, Direito Internacional Público e Direto Administrativo.