Para Karol
Não adiantam os falatórios em sussurros, os diz-que-diz desses nossos amigos – ou inimigos – de que você não vai voltar; nunca mais. Estão todos enganados, tenho certeza disso!
Também não adiantam as mandingas e os despachos umbandistas. Não adiantam as rezas em todos os credos existentes e a serem criados, ainda. E tampouco adiantam as profecias bíblicas, sejam apocalípticas, sejam mais amenas. E não adiantam, também, as consultas aos horóscopos seu e meu. Ou aos jogos de búzios, ou as cartas do tarô.
Não adianta nada disso! Você vai voltar. Você vai voltar NESSE PRÓXIMO INSTANTE, tenho certeza disso! E, ponto final!
E bem por isso, é que eu tratei celeremente de arrumar a casa.
Comecei, com muito esmero, por varrer e encerar o chão. Depois, limpei os móveis e os quadros na parede. Espanei e arrumei os livros na estante. Lavei os azulejos da cozinha, e os pratos, as facas, os garfos e as colheres. Depois troquei os lençóis e as fronhas dos travesseiros de nossa cama, E, também, as toalhas usadas nos incontáveis banhos nossos comuns de cada dia, de cada hora, de cada momento.
Fiz tudo isso, porque sei que você vai voltar nesse próximo instante.
E fiz mais ainda: fui ao jardim e arranjei todos os canteiros, e arranquei as ervas daninhas, e ajeitei as muitas flores amadas e acariciadas por nós: ─ os cravos, as margaridas, os bem-me-queres, os lírios e as açucenas. Depois arranquei os espinhos das rosas para que eles não ameaçassem suas mãos; as suas tão suaves mãos! Fiz isso, porque sei que você vai voltar nesse próximo instante.
E porque sei, e porque tenho certeza, é que fiz tudo isso, e muito mais. Assoviei, e assoviei, e assoviei muito imitando todos aqueles pássaros que surgiam de manhã cedinho para nos acordar com suas cantorias e seus chilrados. (Você se lembra? Eles chegavam sempre acompanhados com o enxame das diversas cores espalhafatosas das borboletas. Você se lembra? Eles nos acordavam para a vida de um novo dia, depois das noites de nossos amores loucos e desenfreados... Você se lembra, sim; claro que sim!)
Ah, me deixa ressaltar uma coisa importante: não me esqueci de tirar as pedras da estrada e do caminho que levam à nossa casa. Todas as pedras. Todas! Não quero que elas venham ferir seus pés, em passos resolutos, quando você voltar nesse próximo instante.
Fiz tudo isso e mais ainda: abri todas as janelas e escancarei a porta, porque sei que você vai voltar nesse próximo instante. Repito, em alto e bom som: ─ eu sei que você vai voltar nesse próximo instante!
E depois disso tudo, me recostei e me pus a esperar.
E esperei, esperei, esperei tanto por você, esperei tanto por esse próximo instante, que quando você chegar – finalmente – você vai me encontrar cansado, sujo de pó, e semicoberto de teias de aranhas:
De tanto lhe desejar nesse ESPERADO INSTANTE.
Por LUÍS LAGO
- Acriano, por criação ─ Paulistano, por adoção ─ Cearense, por paixão;
- Cronista, por obsessão ─ Artista plástico e fotógrafo, por distração ─ Psicólogo, por formação e
-Autor de "O Beco" (poesias) e de "São tênues as névoas da vida" (romance EM estilo de "realismo fantástico")
Belissimamente triste!
ResponderExcluirEntão, Marta, minha Amiga?!... Bateu forte aqui dentro, uma emoção desenfreada, ao ler este seu gentil comentário. No entanto, ainda tenho um fiozinho de fôlego pra te dizer OBRIGADO.
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