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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A Doença do Capitalismo


Nesta primeira postagem para este prestigiado blog, gostaria de abordar o atual estágio do capitalismo, dado que, no futuro, esta lógica prevalecerá em todas as postagens que porventura venham a acontecer acerca da economia brasileira ou mundial.

Inicialmente, saliente-se que entende-se ser o capitalismo o sistema mais engenhoso que o homem construiu para a produção de riquezas. Ocorre, como em todas as construções sociais engendradas pelo homem, que o capitalismo sofreu mudanças em seu funcionamento ao longo do tempo.

O capitalismo surge num período histórico em que começaram a florescer os ideais democráticos e solidificou-se como modo de produção sob a égide da consolidação da democracia. Da mesma forma que a democracia somente funciona com base na harmonia dos poderes (legislativo, executivo e judiciário), o capitalismo também tem, na harmonia dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) sua forma mais equilibrada de funcionamento.

No atual estágio, verifica-se que existe uma desarmonia entre os fatores de produção, devido a hipertrofia do capital financeiro em relação aos demais fatores antes mencionados. Em face disso, o sistema capitalista de produção de riquezas, tem produzido, de forma cíclica, crises agudas no sistema, que causam recessão e perdas sociais de monta.

A ciência econômica não tem apresentado soluções teóricas que permitam o equilíbrio do sistema o que redunda na ruptura cíclica do processo evolutivo deste modo de produção.

Num simplificado relato histórico, verifica-se que a ciência econômica enfrentou o processo evolutivo do capitalismo até a Grande Depressão (1930), respondendo com a Revolução Keynesiana que promoveu uma “reforma por dentro”, iniciando um ciclo virtuoso que culminou com a “crise da dívida” ao final dos anos de 1970.

A solução para a “crise da dívida” não veio patrocinada por um processo evolutivo das ciências econômicas como ocorreu em 1930, pelo contrário, representou uma inflexão na teoria econômica, com o ressurgimento da velha fé clássica, acrescida da teoria das expectativas racionais, agora dominada pelo capital financeiro estéril.

A partir de então, com a evolução das “ferramentas” (abordagem matemática e econométrica da economia) e o avanço das comunicações (internet), o capital financeiro estéril passa a dominar o capitalismo, em detrimento dos demais fatores de produção, causando crises cada vez mais frequentes.

O maior exemplo deu-se na recente crise de 2008 que se localizou no sistema financeiro (sub-prime) e, ato contínuo, alastrou-se pelo setor real da economia como um tsunami, causando empobrecimento generalizado nas populações.

Tem sido bastante dolorosa a todos os povos a superação desta última crise que vem acontecendo vagarosamente. Por outro lado, o sistema financeiro jamais deixou de remunerar-se, mesmo no auge do processo recessivo, com o patrocínio dos governos vigentes. Não interessa quais sacrifícios serão impostos aos povos, desde que seja garantida a remuneração do sistema financeiro estéril.

Para que se entenda esta equação perversa, atente-se para o que ocorre em nosso país: está sendo preconizado um brutal “aperto de contas” em todos os setores da sociedade e, em contrapartida, deveremos encerrar o presente ano com o pagamento de 500 Bilhões em juros para os rentistas. 

Trata-se de uma brutal “drenagem” de recursos da sociedade para a remuneração de menos de 1% da população em detrimento dos investimentos em saúde, segurança, educação, etc.

Este é o resultado da “equação perversa” que o capital financeiro estéril impõem a toda a sociedade custe o que custar. Desta forma verifica-se que em que pese o setor produtivo (indústria, comércio e serviços) viver uma recessão sem precedentes no Brasil dos últimos 80 anos, os detentores do capital financeiro abocanham a grande parte da renda nacional.

Enquanto não conseguirmos equilibrar a renda dos fatores de produção, será impossível buscar qualquer modelo de justiça social e desenvolvimento harmonioso da sociedade.

Por FLAVIO CARPES DOS SANTOS












-   Economista e Professor Universitário;
- Graduação em Economia, Mestrado em Desenvolvimento Econômico e Doutorado em Economia Social;
- Economista Chefe da Carrion, Carpes dos Santos Assessoria;

4 comentários:

  1. Muito bom!
    Gostaria de conhecer as soluções propostas pelo professor Carpes para o endividamento interno vis-a-vis os niveis de taxa de juros que remuneram a formação de poupança no Brasil. Não estaríamos diante de uma sociedade viciada na cocaína dos juros estratorféricos? Ou o Brasil é um país de alto risco?

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    1. O nível da taxa de juros tem estreita correlação com a percepção dos agentes econômicos com o comportamento da economia no longo prazo. Entendo q estaria na hora de propormos o "deficit nominal zero"! Algo como um compromisso (previsto em lei própria) de zerar o defic nominal em, por exemplo, 10 anos.A percepção dis agentes já derrubaria a taxa de juros de longo prazo, que concorreria p/a queda no curto prazo!

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