Grande parte da classe trabalhadora brasileira acreditou no projeto que o PT desenvolveu e propagandeou na década de 80. Neste período nosso país tinha acabado de viver os horrores do regime militar e presenciar o assassinato de milhares de lutadores do povo nos porões da ditadura além de torturas, estupro de mulheres nas prisões e toda sorte de atrocidades contra a população, principalmente os pobres e os que lutavam pelo Brasil que merecemos.
São por esses lutadores dos anos 60 e 70, por todo o bravo povo brasileiro que nunca desistiu de lutar, pela memória dos índios que lutaram contra a dominação portuguesa, do povo africano que foi escravizado e deu seu suor e sangue nas terras brasileiras lutando por sua libertação, pelos camponeses que lutam por um pedaço de terra para produzir, pelos trabalhadores da cidade que todos os dias vencem as mazelas deste sistema cruel, pelos jovens que foram às ruas em 2013; por todos que um dia acreditaram que merecemos um país melhor e foram enganados nos últimos 30 anos - não podemos fazer uma avaliação simplista dos 14 anos de (des) governo do PT. Se fizermos uma avaliação que nos leva a conclusão que faltou desenvolver presídios modernos para prisão perpétua, que faltou a pena de morte no país, estaremos retrocedendo na história do Brasil que luta por mais dignidade, respeito e direitos.
Não podemos comparar a hombridade dos trabalhadores brasileiros com o mau-caratismo que foi a corrupção dentro do governo do PT. Por isso, não podemos responsabilizar o povo pelos crimes que esse governo cometeu. Nós não demos permissão para sermos espoliados, não aceitamos resignados e somos contra todos os corruptos e enganadores. Porém, não acreditamos que fazer um discurso de ódio, dizendo que cadeia é pouco possa contribuir com a mudança que precisamos. Se cadeia é pouco, faremos como os nazistas? Certamente, essa não pode ser nossa lição destes últimos 14 anos. Temos que ser mais precisos em nossa análise e compreender qual a dinâmica do sistema em que vivemos. Não isentamos o PT de nenhum crime que cometeu, todos devem pagar por ter roubado nosso país e nossa esperança, porém há mais lições que podemos tirar de tudo isso. A principal delas é que ainda temos que seguir lutando, que não podemos deixar nossos direitos nas mãos de ninguém, que nosso poder não está em ir votar de 2 em 2 anos, que temos que nos organizar e participar de fato do Estado para construir pouco a pouco o Brasil que merecemos.
O principal crime do PT foi enganar a classe trabalhadora, foi se aliar aos grandes banqueiros e empresários para ganhar o poder e assumir a gerência do Estado. Foi fazer um discurso para o povo e agir com outro, que atendia aos grandes empresários. O próprio Lula disse em discurso, que nunca na história deste país os empresários e banqueiros lucraram tanto... Sejamos realistas e científicos e consideremos que no sistema capitalista não poderia ser muito diferente. Além disto, a corrupção é algo inerente ao Estado, assim ela é só uma das partes desta história; ela não começou com o PT e nem vai parar por aí. Temos que ser fortes e reconhecer que ainda temos um longo caminho a percorrer, que o governo que o povo brasileiro apostou não deu certo e que temos que amadurecer nossas organizações.
Acreditar e propagandear que nos falta cadeia, pena de morte ou mais repressão seria um erro inapagável. Cadeia, pena de morte e repressão já temos para os mais pobres, inclusive as cadeias do Brasil estão lotadas de negros e pessoas com menos de quatro anos de escolaridade formal. Nas vilas e favelas presenciamos assassinatos seletivos principalmente de jovens negros. Será que devemos querer mais disto?
Punir os responsáveis pela corrupção instalada na máquina do estado brasileiro é algo que deve ser feito. Os caminhos devem ser os mesmos que deveriam trilhar esses tantos homens e mulheres que lotam o sistema penitenciário brasileiro: julgamento e prisão decretada, dentro dos marcos de respeito aos direitos humanos. Por fim, o país que merecemos não merece assistir mais atrocidades. O Brasil que merecemos tem a cara do povo trabalhador, tem a cara da juventude aguerrida, das mulheres que batalham para dar o melhor aos seus filhos.
Por ANA PAULA SANTANA
- Pesquisadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos - ILAESE;
- Graduada em Pedagogia e Psicopedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais;
Participou da implementação do Programa Brasil Alfabetizado/MEC/FNDE em Belo Horizonte, atuando com o planejamento das ações, coordenação de turmas e formação de professores alfabetizadores;
- Coordenou a implementação de turmas de alfabetização de trabalhadores da construção civil em conjunto com movimentos sociais no Estado de Minas Gerais;
- Ministra formação de professores visando implantar estratégias para o ensino de jovens e adultos;
- Integra a Associação Mineira de Psicopedagogia e compõe o quadro de diretores do Centro Integrado de Apoio ao Trabalhador.
E Por GERALDO JOSÉ DE ALMEIDA JUNIOR
- Formado em História pela Universidade do Grande ABC;
- Professor na rede pública do Estado de São Paulo;
- Professor de História, Sociologia e Filosofia nas Escolas Técnicas;
- Educador na faculdade F.A.M.A (Faculdade Aberta da Maturidade Ativa).
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