Já dizia o ditado: “Quem tem amigos não morre pagão!”
Sempre tive influência familiar em me educar financeiramente a manter meus recursos sempre em ordem e, principalmente, no positivo e com lastro para voos mais altos.
Isso não impediu que, ao me enveredar sem orientação adequada por operações com ações, por volta de 2009, eu tenha deixado ir pelo ralo uma boa soma de dinheiro.
Em 2011 conheci a escola de traders Leandro & Stormer, capitaneada pelos traders e instrutores gaúchos Leandro Ruschel e Alexandre Wolwacs.
Aprendi, entre outras, que olhar apenas as árvores próximas e não a floresta pode prejudicar muito a sua capacidade de entender o que está acontecendo, também valia para orientar suas decisões no campo das finanças pessoais.
Num mercado fechado como o brasileiro, o problema da perspectiva é ainda mais sério, pois há tendência natural a observar apenas os fluxos domésticos, diminuindo nossa capacidade de compreender megatendências que estão em desenvolvimento no planeta.
Isso ficou mais claro quando, desde 2013, Ruschel passou a focar suas operações no mercado internacional. E, claro, logo em 2014, eu acompanhei seu movimento.[1]
O mercado brasileiro representa menos de 1% do fluxo de recursos no mundo e algo próximo disso no comércio internacional. E o fracasso ou sucesso do país depende muito do que está acontecendo no resto do planeta, a par de o Brasil ainda engatinhar no processo de globalização.
Por exemplo, o grande ciclo de alta no mercado de commodities na década passada, produzido pelo crescimento chinês, ajudou o Brasil a surfar uma onda de prosperidade artificial.
Oportunidade para um governo de viés populista direcionar recursos para o consumo, comprando a felicidade geral da nação, ao invés de aproveitar a janela de oportunidade e focar em reformas para a infraestrutura e formação de poupança. Parecia até que passaríamos instantaneamente a viver o sonho americano, ou o welfarestate europeu, sem gerarmos com antecedência a cultura, a riqueza, a gestão e a infraestrutura existentes há tempos nessas praças.
Quando a festa acabou em 2008, o governo engrenou uma “tração 4x4” e seguiu na mesma política irresponsável, aumentando subsídios e intervenções na economia. O empresariado nacional juntou-se ao povo na embriagues da utopia. Nesse período de 3 a 4 anos, os juros seriam rebaixados a fórceps para o patamar de 7%, sem base técnica, e agravava-se, em segredo, a irresponsabilidade fiscal e enviesava-se ideologicamente o tom político.
O resultado foi a quebra do país, com desvalorização do real e aumento dos juros, além de um longo período de queda da Bolsa, desvalorização de ativos, com alta da inflação e desaceleração da atividade econômica. O sonho da nova classe média acabava ali, emaranhado ao endividamento das famílias e ao desemprego na casa de dois dígitos.
O forte descontentamento popular gerou um tsunami político que continua a produzir os seus efeitos, apenas com os atores mudando de lado no tabuleiro político, ao sabor da mesma pauta ideológica que aposta suas fichas na divisão.
Quem tinha consciência da situação internacional teve maior chance de se preparar para a tempestade. Alertas foram disparados para a comunidade Leandro & Stormer (e de alguns escritórios private de consultorias, bancos e corretoras mais estruturadas), especialmente a partir de 2012. Quem teve juízo e oportunidade, reagiu aos sons das sirenes; me beneficiei disso para montar carteira de investimentos em títulos no exterior, como diversificação.
Podemos dizer que vivemos um dos mais complexos períodos, do ponto de vista político e no mercado financeiro, em décadas. Um exemplo das situações inéditas, temos juros reais no mundo no menor patamar desde que os primeiros registros sobre o custo para tomar dinheiro emprestado começaram a ser feitos pelos egípcios, mais de 5 mil anos atrás!
Num ambiente de extrema intervenção no mercado financeiro por parte dos Bancos Centrais, os gestores de recursos apresentam maior dificuldade em gerar retornos satisfatórios, produzindo o saque de trilhões de dólares de hedge-funds, com os investidores preferindo estratégias passivas de alocação.
Observamos uma forte frustração global da classe média em países desenvolvidos com a sua renda estagnada há décadas, criando uma onda anti-globalista representada por fenômenos como o “Brexit” e pela surpreendente vitória da candidatura conservadora/nacionalista de Donald Trump nos EUA.
Para completar, há mudanças profundas na geopolítica, com uma nova fase agressiva da Rússia, instabilidade do Oriente Médio, a ascensão da China como potência global e a decadência da Europa e, de maneira menos intensa, do próprio Estados Unidos.
Não é apenas importante, mas primordial para os investidores entenderem todos esses movimentos e as suas consequências prováveis, tanto para defenderem suas posições patrimoniais quanto para buscar oportunidades globalmente.
POR SIMON SALAMA
[1]Links:
POR SIMON SALAMA
Economista
(PUC-RJ), com especialização em Comércio Exterior e Negociação Internacional
(FGV-RJ), busca ter visão crítica (e própria) dos fatos, dos relatos, das
notícias e da história contada e escrita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário