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sábado, 10 de dezembro de 2016

A Importância da Primeira Infância e a Realidade do Abandono Afetivo


“A medida do amor é amar sem medida” Santo Agostinho

De acordo com o Instituto Maria Cecilia Souto Vidigal a primeira infância é o período que vai desde a concepção do bebe até o momento em que a criança ingressa na educação formal, aqui no Brasil com seis anos de idade. 

De acordo com o Código Civil, em seu art. 1.634: 
"Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I – dirigir-lhes a criação e educação; II – tê-los em sua companhia e guarda."
 Já o art. 229 da Lei Maior(CF) dispõe: 
"Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade". 
O renomado pediatra Dr. José Martins Filho afirma que:
"É na primeira infância, especialmente nos três primeiros anos de vida, incluindo a gestação, que se estabelecem as bases do desenvolvimento físico, intelectual e psicossocial da criança e que oferecerão as condições para que se torne um adulto capaz de conduzir sua vida com autonomia e prosperidade."
Com estes conceitos bem claros podemos começar a falar sobre a importância da primeira infância para construção de uma sociedade mais saudável e sustentável em todos os aspectos. Nossas crianças estão carentes de amor, afeto, cuidados básicos e orientações, oferecidos pelos pais ou responsáveis legais. Observamos que a cada dia passamos menos tempo com nossos filhos e mais ocupados com nossas tarefas cotidianas. O desenvolvimento motor, da fala, controle dos esfíncteres e a capacidade de interação social estão prejudicados e mais complexos pela falta de apoio das famílias no trabalho desenvolvido pela escola.

Até onde é apenas falta de tempo e onde entra o abandono afetivo? Acredito que a partir do momento em que a criança está sendo prejudicada física ou emocionalmente por negligencia da família em seus cuidados básicos é possível caracterizar o abandono afetivo. Pensamos que tudo aquilo que as crianças vivenciam quando são bebes ou “pequenininhas” vai ser esquecido, mas já foi comprovado cientificamente que estas relações estabelecidas nestes primeiros três anos marcarão suas vidas para sempre e serão determinantes para o futuro.

Deixar o bebe chorar no berço até dormir para “aprender” a dormir sozinho é um exemplo de costume antigo muito prejudicial, pois o bebê necessita da mãe para encontrar alimento, aconchego, amor e segurança. Como se sente a criança que vê todos os seus coleguinhas indo embora e ninguém chega para busca-la por atraso ou esquecimento? A criança que chega à escola com a mesma roupa e a mesma fralda que foi embora no dia anterior? Onde fica a importante tarefa, que gera um vínculo vitalício entre pais e filhos, do momento do banho? O mesmo ocorre quando dizem que a criança é manhosa ou que está fazendo birra, a verdade é que a criança ainda não está pronta fisicamente para lidar com suas frustrações. 

De acordo com o Neuropediatra Mauro Muszkat:
"As crianças nascem com muitas áreas sem a camada de gordura que reveste os axônios, responsáveis pela transmissão dos sinais cerebrais entre as células nervosas."
 Deste modo fica cientificamente comprovado que a “birra” não existe. No momento em que a criança não conseguir controlar suas emoções, o melhor a fazer é falar tranquilamente com ela e tentar explicar o que está acontecendo e o porquê sua vontade não pode ser atendida naquele momento. Muszkat ainda afirma que o estado emocional dos pais tem grande impacto sobre o comportamento dos filhos.

Sendo assim observo que as crianças que são colocadas para chorar até dormir, que ficam chorando sozinhas por um longo período para “pensar” no que fizeram de errado, que sofrem ao presenciar as constantes brigas entre os pais, que levam para a escola a mochila com as mesmas roupas limpas e sujas (juntas) a semana inteira, os pais que não comparecem as reuniões na escola, não olham as agendas dos filhos, não conversam com seus professores e não dedicam um tempo mínimo para que esta criança se sinta acolhida em suas necessidades, estão de algum modo praticando, mesmo sem perceber, o abandono afetivo.

Precisamos repensar, todos temos assegurado por lei o direito a família, ao afeto, amor, respeito e guarda e isto muda nossas vidas e das futuras gerações.

Segundo a UNICEF:

"O relacionamento entre os bebes e os pais ou as pessoas que lhes prestam cuidados primários é crucial para o desenvolvimento emocional, psicológico e cognitivo da criança. Os problemas de desenvolvimento de comportamento – que muitas vezes se mantem ao longo da vida – na maior parte dos casos tem origem em distúrbios nesse relacionamento".
 Como esclarece Rudolf Steiner :

"A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas".

Referências Bibliográficas

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume VII. São Paulo: Saraiva, 2010;

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, volume VII. São Paulo: Saraiva, 2006; 

POR SAMIRA DALECK











-Graduada em Educação Física;e
-Pedagoga com Especialização em Arte educação e História da Arte. 
Atualmente trabalha com a primeira infância e busca incansavelmente conhecimento sobre criação com apego, disciplina positiva e todo tipo de educação não violenta.

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