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domingo, 4 de dezembro de 2016

Malandro...Mente?


A crônica das paixões do ser...e outras coisitas mais!

Em outubro deste ano, fui convidada por uma emissora de TV e jornal on line para dar uma entrevista e falar teoricamente sobre as letras das músicas do pagode baiano. De início, achei confuso e pensei: Como fundamentar teoricamente aquilo que não se pode fundamentar? Como analisar letras de música???? O que se analisa??? O que é possível de uma análise??? Quem demanda uma análise???

A equipe de jornalismo dizia que as letras incitavam a agressividade e denegriam a posição das mulheres. Ao falarem isso, mais questões surgiam para mim e se tornavam perguntas, tais como: Quando autores escrevem essas músicas eles de fato estão pensando nisso???? E as mulheres que escutam? Se "vestem" dessa música????

Depois dessa entrevista passei não só a prestar a atenção nas letras dos pagodes baianos, como também dos funks cariocas.

Gente!!!!!! Aquela explosão “Malandramente” do funk carioca que tocava o tempo todo nas rádios, virou meme, viralizou na internet, grupos de WhatsApp, respondiam ene perguntas de alguns aforismos Lacaniano e outras coisitas mais!

Eis que lembrei-me de uma história da "pobre moça" paulista, professora universitária com não sei quantos pós doutorados...

Ela era uma mulher linda, culta, profissional bem sucedida, uma excelente leitora desses teóricos Cults que a Universidade exige! Honrou o nome da família e prestou concurso público para ser professora – pesquisadora de uma Universidade pública de renome nacional e internacional.

Obvio que se destacava em seu meio profissional não só por sua beleza, juventude, mas acima de tudo com essa combinação beleza + inteligência = parece que assusta muita gente. Não só homens como também “zamigas” invejosas de plantão.

Para além de tanta beleza e inteligência, ela não era o que podemos chamar de “mulher guerreira”, mas sim clássica, delicada, daquelas que sabe o que quer, porém é doce e suave para alcançar seus objetivos.

Um dia essa linda mulher com tantos predicados, foi dar uma conferência fora do país....em sua platéia....tinha o que podemos chamar ...um certo senhor de meia idade, mas que ao longo desta crônica ele pode ter outros significantes tais como “cara”, “rapaz”, dentre outros a depender do contexto.

O “cara”, se aproximou da mulher logo após a conferência, fazendo perguntas chulas relativas ao tema que havia terminado de ser exposto. Perguntas totalmente descontextualizadas, visível que o “cara” esboçava pouca leitura bem como não tinha nenhum tipo de professor universitário, perceptível pelo nível das perguntas, também não era nenhum pesquisador da área,...talvez um “carinha” qualquer, onde mais parecia estar ali para caçar alguma presa.

A conferência acabou, a moça saiu apressada do auditório pois tinha muitas outras coisas para realizar naquele dia, naquela cidade estranha e cinza. Dia seguinte, voltava ao Brasil com as colegas com quem foi a esse congresso.

Coincidências da vida? Nem tudo se explica. A moça e o senhor de meia idade se encontraram naquele aeroporto enorme de Guarulhos em um café.

Desse encontro? O senhor de meia idade disse que ia a São Paulo visitá-la e de fato foi! No final de semana seguinte? Estava o “cara” lá, na maior cobiça,....

Mas, sabem como é amor de malandro? Bem leitores, preciso explicar???? Malandro inventa personagens...diz que é psicanalista, mora no RJ em Ipanema, tem consultório em Copacabana, conta...mil e umas...mentiras....entretanto, como o inconsciente é um saber, ainda que acrescentem a premissa, “que nunca se sabe”; ....na verdade esse “nunca se sabe”, é quando não se quer saber! Porque na verdade dos fatos???? O inconsciente; SABE! 

O inconsciente aponta todas as coisas de forma escancarada....o sujeito que muitas vezes não quer escutar ou enxergar pela suas próprias neuroses.

Enfim; a moça queria viver uma aventura na Paulicéia, uma noite de loucura apenas, nada mais que isso!. Enquanto as coisas estão no terreno da razão....está tudo bem, tudo muito bom....mas, quando caí na porcaria das paixões do ser....aí...fudeu!!!!!!!

Por mais culta que a moça fosse, no primeiro momento vem o amor....o amor com tudo e logo com ele, a ignorância!

E não deu outra! Quando a paulistana nascida e bem criada naquele seu mundinho dos Jardins, foi ao Rio de Janeiro conhecer a família do malandro?????? Ora, ora, malandro é malandro! Mané ???? é Mane!!!!!! O malandro morava era na baixada fluminense, nunca morou em Ipanema, bem como não era Psicanalista nem nunca teve consultório.

Sabe aquelas ceninhas das “patricetes” branquelas e magrelas de Malhação “Pro um dia nascer Feliz” indo para a feijoada do núcleo humilde da trama? Qualquer semelhança entre os fatos, não era mera coincidência! As cenas se repetiam....a moça se sentia na novelinha global.

Mas....ela estava in Love pelo carioca e jamais terminaria um namoro, por uma besteira dessas e por um pré conceito bobo por ele ser da baixada, ainda mais nesse momento do século que é VIVA O DIFERENTE!!! VAMOS RESPEITAR AS DIFERENÇAS!!!! ABAIXO AO PRÉ CONCEITO!!!; embora toda a sua família fosse contra e a alertasse dos perigos dessa vida!

Pois bem, não demora a máscara do malandro caí. A casa caiu...! O homem sumiu....a moça levou anos sem saber na verdade por que o homem sumiu...."moça, pobre moça", tão inteligente para as questões universitárias e intelectuais mas burra em sua forma afetiva? Calma, calma, leitores....lembrem da ignorância que faz parte da tríade das paixões do ser: Amor, ódio e ignorância.

A psicanálise, deixou como legado que os efeitos e respostas para as perguntas vem em um tempo "só depois" ...e eis que a resposta veio..., às vezes demora muito tempo, como de fato demorou....passaram meses, anos....eis que como nessa Sociedade em Rede tudo se sabe, o rapaz então soube que a paulista estaria no Rio de Janeiro em uma determinada data e como bom malandro, entrou em contato com a moça e disse que a esperaria no aeroporto.

A moça, quando viu o rapaz? Tomou um susto! Tinha anos que não o encontrava pessoalmente, e de repente...como a novela mudou, o personagem mudou a caracterização também!

Ela continuava linda....mais linda até do que quando eles se conheceram há anos atrás, mas...o senhor de meia idade??? Agora foi a hora de inverter a premissa...o moço? "Pobre moço"....embora estivesse em seu carrão...não tinha a devida classe necessária para receber uma dama no aeroporto, aquele carrão não lhe caía bem, o moço já não era mais um senhor de meia de idade, estava velho, gordo, barrigudo...dentes feios e amarelados, a moça que já era pálida de nascença? Empalideceu mais ainda ao lembrar do passado que tantas lágrimas derramou por aquele cidadão....então com isso, vem o ódio a si mesma e a pergunta escrota consigo mesma; “Por que me encantei com essa fantasia que em nada tem a ver comigo”? É....minha cara, é assim, ...saiba que as paixões do ser caminham juntas...lado a lado...são indissociáveis....nem só de amor se vive um sentimento....é o triste fim de uma realidade que há de ser vivida. Em um único sentimento há essa tríade.

O rapaz, foi educado, deixou a moça no prédio da titia que para fazer a juiz a “tradição familiar” morava em Ipanema, em um dos metro quadrados mais caros do Rio de Janeiro. O rapaz, foi educado e a convidou para almoçar no dia seguinte; a moça aceitou.

No dia seguinte, o rapaz foi buscá-la no prédio, quando estava perto, passou um WhatsApp “estou entrando na Garcia d’Ávila pode descer”; então ela desceu.

Sabe como é, moça requintada de mil novecentos e antigamente, do século passado, acostumada a sair com homens tão bacanas, intelectuais, cults, professores universitários assim como ela e muito educados, daqueles que saem do carro para abrir a porta. Estava desacostumada com isso que chamam de “modernagem” – ela denomina falta de classe. O rapaz em questão nem sequer saltou do carro para fazer esse gentileza; do carro mesmo ele abriu a porta, ela entrou, achando tudo aquilo muito estranho.

Quando ela entrou no carro ele falou: “sei que você é paulistana, mas hoje você está vestida de carioca,ainda bem, pois vou te levar para o melhor restaurante daqui do Rio.”

Quando chegou no bar a paulistana tomou um susto! Era a tão famosa mureta da Urca! Então a paulistana falou: “É! Sou Paulista demais, quero subir e sentar no restaurante! Não vou comer nessa mureta!” 

E assim fizeram...subiram ...conversaram....mas; Lembram do primeiro texto publicado nesse blog sobre as pulsões? Onde escrevia...o amor acaba? Pois bem, nesse almoço, foi a constatação que isso acontece; não só por Paulo Mendes Campos, mais ainda por Ferreira Gullar e é possível acrescentá-lo em uma das suas passagens; além de mentir, ter papo um saco, o corpo não era essas coisas toda e quando se reparava bem...o rosto do cara???? Nem de rosto, era tão lindo assim!

O rapaz tentou beija - lá nesse almoço e ao que tudo indica queria um duplo almoço, mas, ..ainda que existam as paixões do ser...há também ao final de uma análise quando bem sucedida um inconsciente advertido e mais ...toda mulher bonita e inteligente....???? É possuidora de um narcisismo a flor da pele....o rapaz não havia lhe dito absolutamente nada que estava namorando uma outra mulher, muito pelo contrário, ele se afirmava solteiro, sem ninguém apenas com uns "casos" aí. Mas, o inconsciente advertido dessa moça cult e antenada sabia!!!!.

Perdoe-me as histéricas de plantão, mas ao contrário das histéricas, uma mulher neurótica obsessiva jamais se permite estar pareando com outra mulher.

Então a moça, linda, inteligente, culta, analisada e neurótica obsessiva também não permitiu que o rapaz a beijasse.

O almoço só aconteceu nos termos denotativos da palavra, quando chegou a conta? O rapaz que a convidou para almoçar dividiu-a meio a meio – nem sequer foi delicado o bastante para avaliar que ele havia consumido álcool em excesso e ela não! Ora, ora!!!! Viva os tempos modernos garotas!!!! Não estão lutando por suas emancipações e direitos iguais??? Tão reclamando de que????

Pois vamos a um detalhe delicado desses significantes: conta e dinheiro – se a questão fosse apenas a divisão? Tudo ok! A moça independente financeiramente, ganha bem, tanto que ela pagou a conta sem nenhum problema. Só que, a lógica inconsciente não é tão simples assim. O malandro em questão fez esse ato de dividir a conta justamente por ele ter tentado prolongar o almoço, e não ter conseguido! Ele tentou beijar a moça em pleno restaurante e então ela disse: “Mas, isso não!”– bem seminário 23 de Lacan! Ele por sua vez, fez em ato! O que não se pode dizer ou nomear, o inconsciente atua. Portanto: O cara dividiu a conta.

Há anos atrás ela havia excluído o malandro não só da vida dela mas sim das redes sociais também e ele naquele almoço a adicionara novamente; mais tarde, quando chegou em casa, constatou, o que seu inconsciente já sabia....e reafirmou a premissa Lacaniana: A mulher sintoma do homem? Sim, mulher sintoma do homem. Pelo que a moça viu aparecer em sua timeline do facebook ...a nova namorada do rapaz....ora, ora... era a mulher do Funk de Dennis DJ e Mcs Nandinho & Nego Bam.

Vocês acham que esse rapaz ia querer namorar uma mulher culta, linda, pós Doutora, etc...etc...etc...???? Pergunta obvia! Claro que não! Essa mulher-banana era muito careta, certinha e com tantas qualidades era areia demais para o pobre carrinho de mão dele!

Malandro que mente....só pode ter o que como mulher? O seu próprio sintoma Logo, Malandro que mente tem;malandrAmente!

Se a mulher “banana” é discreta e intelectualmente sofisticada; blá, blá a Malandramente? É o inverso! "Nós se vê por aí".

A moça paulistana, agradece todos os dias aos anjos dos céus de não ter acontecido com ela o mesmo que aconteceu com a personagem da Julia (Nathalia Dill) na novela Rock Story, até porque Julia, teve a sorte de se bater no bar em Copacabana com o gato do Gui Santiago (Vladimir Brichta), sorte essa que se vê em novelas globais...já na realidade????? Quem pode saber?

Olha a ignorância aí....mais uma vez apontando....por isso ainda não sei o que vem primeiro nessas paixões do ser. Há quem diga que primeiro vem o ódio e depois amor...outros dizem que não, é o inverso: amor – ódio; existe ainda a terceira alternativa: Primeiro vem a ignorância, ....mas, sei lá....acho que assim como o nó borromeu, os círculos entrelaçados, eis que as paixões do ser assim estão, bem como as pulsões caminhando juntas. Não existe pulsão de vida sem pulsão de morte e vice versa.

As paixões do ser estão todas aí no próprio nó borromeu, nos efeitos das pulsões, nas manifestações do inconsciente. Nessa tríade indissolúvel, não apenas no "entre” mas sim; juntas: amor – ódio – ignorância; ódio – amor – ignorância ; ignorância – ódio – amor; ignorância – amor- ódio ....façam quantas combinações acharem possíveis, sabendo que ...são inseparáveis! 

POR CLARISSA LAGO












-Psicóloga graduada(Formação Clínica e Bacharelado) - Primeira Turma(1999) pela UNIFACS (Universidade de Salvador);

-Mestre em Educação pela UFBA (Universidade Federal da Bahia);
-Especialista em Psicopedagogia pela UCSAL (Universidade Católica do Salvador);
-Pedagoga com habilitação em Orientação Educacional pela UCSAL;
- Psicanalista praticante e de formação;
- Articulista; Cronista e Ensaísta;
- Roteirista de TV e Cinema; 
- Pesquisadora em Dramaturgia;
-Escritora:Autora do livro Paranoias(Editora JUSPODIVM-2012);
-Autora do Blog da Psicanálise (www.blogdapsicanalise.com.br)
-Atua como psicanalista e supervisora em consultório particular 
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