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sábado, 13 de maio de 2017

Um Belo dia Resolvi Mudar

A busca pela inclusão faz parte de nossas vidas por sermos todos diferentes, muitas vezes somos excluídos de coisas pequenas ou grandes, por opção ou não. Outras vezes excluímos as pessoas que julgamos diferentes. Porém só o fato de sabermos que a diversidade nos faz evoluir e transformar, não é o suficiente para aceitarmos com naturalidade as pessoas diferentes seja fisicamente, intelectualmente, socialmente e tantas outras diferenças.
Iniciarei o artigo contando a história de uma família que surpreendeu a todos com sua luta pela inclusão social:
"Um belo dia como tantos outros dias belos, Caio em seus 14 anos de vida parou e disse para si: se eu não me transformar, minha história vai se repetir nos meus descendentes. Serei como meus pais para meus filhos e meus filhos serão como sou agora? Vivo para servir? Sirvo para viver? Sei o que quero, viver para servir e assim servir para viver.
Quero construir uma família em que eu possa conversar, onde o diálogo entre as pessoas seja frequente e natural, com pessoas participativas na família e na sociedade. A educação sendo o eixo para a mudança.
A convivência com outras pessoas e outras famílias foi criando um perfil o qual Caio gostaria de ter e seguir. Queria ser diferente do que vivia, queria conversar sobre todos os assuntos em casa, falar das suas angustias e da sociedade, estudar, ler e entender melhor as coisas do mundo. Deixar o legado do servir para sua família.
O tempo foi passando, Caio casou-se e teve duas filhas, meninas quietas e muito apegadas à mãe. Porém em casa a conversa era frequente e sobre todos os ocorridos no dia a dia dos quatro, faziam a “roda da conversa” em família. Nesse momento os exemplos dos pais de Caio, positivos e outros nem tanto enriqueciam as reflexões, e por serem de uma família simples com as meninas estudando em escola pública, não tinha como não discutir a diversidade e questionar a inclusão delas e dos amigos na escola e na sociedade. Sua indignação era e ainda é constante, sempre acompanhada de ações em busca da transformação das pessoas.
Passados 18 anos, uma das filhas - a mais velha - para o espanto de todos, já que não saia de perto da mãe - entrou em uma universidade pública e foi morar em São Paulo. Seus trabalhos na faculdade são voltados à projetos sociais para os excluídos da sociedade, os que vivem à margem. Isso tudo desde os primeiros anos da faculdade, o que a levou a ganhar uma bolsa do CNPQ para passar 6 meses em Portugal com um dos seus projetos. O efeito dos diálogos francos e comprometidos à levava para descobrir o mundo.
A filha mais nova, recentemente deixou a família de “boca aberta”, ao ocupar a escola onde estudava para que não fechasse. Não bastasse isso, foi às ruas para reivindicar igualdade entre as pessoas. Passou por momentos difíceis nas ruas, mas continua lutando para a inclusão social; na verdade luta por uma inclusão das pessoas dentro dos direitos sociais, ou seja, uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos e deveres."
Sabemos que a inclusão é muito mais que isso, mas o maior do excluído continua sendo o pobre. Diante desta experiência de vida convido os leitores para uma reflexão

  •  Com tanta diversidade será possível a inclusão?
  •  Como acontece a transformação das pessoas e estas poderem transformar a sociedade?
O respeito à diversidade é uma forma de inclusão e de acordo com a declaração universal dos direitos humanos, não deve haver discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade, opinião e outros. Mas para que isso aconteça, se faz necessário a nossa transformação pessoal, nossa aceitação de nós mesmos e dos outros, nossa tolerância para com o diferente.

A humanidade evolui com a diversidade, porém é necessário respeitar as diferenças. É necessário um movimento interno de transformação em cada um de nós.
  • Será que realmente conhecemos e colocamos em prática tais princípios?

A educação é uma grande disseminadora desses princípios, porém sabemos que é um dos desafios posto pela contemporaneidade às políticas educacionais, o de garantir, contextualizadamente o direito humano universal, social inalienável à educação. O direito universal deve ser analisado isoladamente em estreita relação com outros direitos, especialmente, dos direitos civis e políticos e dos direitos de caráter subjetivo, sobre os quais a educação incide decisivamente.

Nessa perspectiva, mesmo depois de tantos anos de discussão, ainda se faz necessário trazer para o debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão social, que garanta o acesso à educação e considere a diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos.

Trata-se das questões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas por categorias que se entrelaçam na vida social, mulheres, afrodescendentes, indígenas, pessoas com deficiência, populações do campo, de diferentes orientações sexuais, sujeitos albergados, em situação de rua, em privação de liberdade, de todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a ser contemplados pelas políticas públicas.

Ao conceber a escola como local onde exercitamos práticas sociais, acreditamos que para se conquistar a inclusão social. A educação escolar deve fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, na justiça social, na pluralidade, na solidariedade e na sustentabilidade, cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de seus sujeitos, nas dimensões individual e social de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, compromissados com a transformação social.

Diante dessa concepção de educação, o Ministério da Educação, com base no diálogo com o Conselho Nacional de Educação, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão-SECADI, vem desenvolvendo uma Política Nacional de atendimento à diversidade humana em articulação com os sistemas públicos de ensino.

Nesse sentido, ampliou os debates sobre áreas definidas pela Lei 9.394/96 - LDB como modalidades e elaborou diretrizes nacionais a fim de que o princípio da diversidade se fizesse presente nos projetos políticos pedagógicos das escolas, nas áreas de alfabetização e educação de jovens e adultos, educação ambiental, educação em direitos humanos, educação especial, educação do campo, educação escolar indígena, quilombola e educação para as relações étnico-raciais, com vistas ao desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos.

Para finalizar, voltamos à prática de Caio e sua família, exemplos de pessoas que saem de suas casas para levar uma esperança de vida mais justa para os excluídos de nossa sociedade, pois infelizmente ainda estamos distantes de uma inclusão na diversidade. A constante busca pela inclusão social não é a única forma de inclusão necessária para a transformação, mas é o grande caminho.

Contudo, conhecer a legislação brasileira nos faz mais conscientes de que as ações por parte da população são urgentes. A humanidade necessita da transformação e este é o momento.

Ao nos transformarmos teremos a inclusão. Assim, quando tivermos a inclusão é porque nos transformamos.

POR MARILICE PEREIRA RUIZ DO AMARAL MELLO








-Professora, doutora em Educação: Currículo pala PUCSP  e 
-Pesquisadora em formação de professores e inclusão

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

3 comentários:

  1. Parabéns Dra Marília..... Mais que nunca necessitamos de transformação. O amanhã está em risco e somente o conhecimento poderá solidificar o futuro.

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  2. Ótimo artigo. Penso que estamos longe de uma sociedade contemporânea inclusiva. A educação foi, é e sempre será um norteador para, assim como diz o texto, exercitarmos práticas sociais. É necessário que essa sociedade derrube paradigmas e se restruture em novos conceitos de aceitação das diversidades e inclusão social. Há um longo caminho de mudanças...

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  3. Professora Marilice, parabéns pelo artigo. É sempre muito bom ler sobre inclusão e saber que pessoas ainda defendem essa bandeira. Como é difícil, apesar de tantos avanços, a inclusão social. Essa inclusão deve partir de dentro de nós, não como forma de piedade mas como forma de respeito ao direito do outro como ser vivo. E a educação nos serve de instrumento para humanização dessa inclusão.
    Só entendemos o outro quando sabemos ou tentamos nos colocar no lugar dele. Quando vivenciamos tais dificuldades é que vemos o quanto penam. Continue escrevendo sobre esse tema tão instigante para que possamos buscar o "bem de todos".
    Beijos.

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