Autor: André Guadalupe(*)
Recorrentemente defendo que uma Escola de Alto Desempenho é o alinhamento continuo de 4 pilares. Em primeiro lugar; (1) propósito e valores claros e compartilhados legitimamente por toda a escola, com um (2) time feliz, motivado, empoderado e com confiança um nos outros e com clareza de seus papeis e entregáveis na escola e que busquem alcançar (3) objetivos mensuráveis, desafiadores e realísticos com processos e indicadores mapeados e por fim (4) uma cultura de inovação legítima, onde errar faz parte e gera aprendizado.
Entretanto, hoje quero levantar a absoluta relevância que os Professores têm em uma Escola de Alto Desempenho. O professor tem que estar plenamente envolvido nos 4 pilares pois é ele quem vai, de fato, promover o aprendizado do aluno e levar a escola a um patamar de alto aprendizado, engajamento e motivação dos alunos.
Na edição de junho de 2016 a revista The Economist, uma das revistas mais conceituadas mundialmente, dedicou sua capa para educação, mais especificamente, a um estudo intitulado: How to make a good teacher - tradução livre: Como formar um bom professor.
O que interessa na escola são os professores; felizmente, a habilidade de ensinar pode ser ensinada.
O artigo cita que o segredo para notas altas de excelentes estudantes são os professores. Um estudo americano descobriu que em apenas 1 ano, os 10% melhores professores transmitem 3 vezes mais aprendizado aos seus alunos do que os 10% piores. Considerando o mesmo grupo de alunos.
De acordo com o artigo a premissa de que a capacidade pedagógica é algo que o professor tem ou não, está enganada. Ao contrário do que se pensa de forma comum, as principais qualidades de um bom professor não são inatas. Mas sim, aprendidas.
Uma nova geração de professores-treinados está fundando uma nova ciência da pedagogia. O objetivo é criar excelentes professores, assim como os treinadores esportivos que ajudam os atletas a alcançar sua melhor marca. Feito da forma correta, isto irá revolucionar as escolas e mudar vidas.
Então, se queremos professores melhores, devemos ensiná-los a serem bons. Para isso, o esforço que realmente vale a pena é investir pesadamente em transformar professores médios em professores excelentes!
A formação do professor passa muito mais por experiências práticas intensas e direcionadas do que por teorias abstratas. Os professores novatos devem passar mais tempo em sala de aula. Locais como Finlândia, Cingapura e Xangai, colocam seus formandos em ambientes de aprendizagem exigente e são desenvolvidos com muito coaching e feedback.
Na nossa realidade vejo pouco comumente uma liderança pedagógica, que coordena um time de professores, se dedicar a assistir as aulas de seus professores e se reunir regulamente com cada um deles para orientações específicas, dicas e correções de rumo. Em uma escola de alto desempenho o investimento com acompanhamento e formação dos professores é o melhor retorno que pode haver.
Além disso, os melhores professores de uma escola devem ajudar os novatos com feedbacks, orientações e permitindo que assistam suas aulas em tempo real. Devem ainda, alinhados com a coordenação, ajudar com planos de aulas de alta qualidade, orientação na elaboração das atividades, práticas pedagógicas e usos de tecnologias. Deve-se identificar e estabelecer as referências internas e ir subindo o nível de todos pelos melhores casos de sucesso.
Em uma escola de alto desempenho não se pode temer o feedback ou o conflito-positivo mas sim todos devem trabalhar para o bem maior da instituição e seu propósito e desejos de aprendizagem. Desta forma, o professor tem que entender que apenas com altas referencias, diálogos, ouvido-honesto e foco no aprendizado efetivo do aluno que ele vai a cada dia se tornar um melhor professor e mediador do conhecimento.
Vale ressaltar que o dinheiro é menos importante do que se pode pensar. Em países desenvolvidos os 10% melhores professores ganham muito perto da média. Mas garantir que os melhores professores fiquem em sala de aula, provavelmente, significa pagar mais. Um conceito errado é promover o pensamento que professores de destaque devem ser promovidos para coordenadores para então ganharem mais.
Ainda sobre a questão de motivação dos professores, o pesquisador e autor Daniel Pink, em seu livro Motivação 3.0: os novos fatores motivacionais para a realização pessoal e profissional, Editora Campus/Elsevier, nos apresenta que a motivação à base de recompensas e não é mais eficiente. Os fatores motivacionais vêm de dentro de cada um dos professores. É o legado que deixaremos no mundo e nosso nível de satisfação pessoal e profissional que nos fazem buscar um melhor desempenho e resultado no que nos propomos a fazer.
Em seu livro, Daniel Pink, trata que os 3 aspectos que mais motivam um profissional para o alto desempenho:
• Autonomia: o desejo humano de dirigir a própria vida, de ter autonomia sobre o tempo, a forma, a equipe, a técnica e sobre o que fazer.
• Excelência: uma pressão sobre si mesmo para se tornar cada vez melhor em algo relevante e com um impulso para uma busca constante, desafiadora e sedutora para fazer mais e melhor quase acima de nossa capacidade.
• Propósito: a vontade de fazer o que fazemos em nome de algo superior a nós, algo que dure mais que nossa própria existência.
Sendo assim, cabe a um gestor pedagógico de alto desempenho dar a direção que garanta a orientação individual e coletiva no sentido dos resultados desejados e a devida concentração no que importa e faz diferença. Ele deve ser o exemplo.
Sendo assim, vamos alinhar com os professores ao propósito da escola, seus valores e sonhos, vamos investir na sua formação continuada, com muito feedback, boas práticas e muita determinação, vamos criar metas e indicadores pedagógicos que norteiam seus resultados e promover uma cultura de inovação em sala de aula.
Não é simples e nem é fácil, mas se queremos transformar nossas escolas em Escolas de Alto desempenho vamos começar tratando e cuidando dos professores com outro olhar.
Adoraria saber sua opinião sobre este tema. Deixe aqui seu comentário, sua visão e suas práticas.
A matéria da The Economist está disponível no link:
POR ANDRÉ GUADALUPE
-Co-Fundador do Colégio Planck em SJCampos – SP;
-Co-Fundador e Diretor Executivo por 14 anos de Sistema de Ensino;
-Fundador e CEO da AOG Consultoria Educacional, investidor anjo e mentor de Startups;
- Membro do Grupo de Educadores Google de SJCampos;
-Membro do Conselho da Rede de Empreendedores de São José dos Campos – Endeavo;
-Palestrante Nacional sobre Escola de Alto Desempenho;
-Engenheiro Aeronáutico pelo ITA e MBA pela ESPM com 26 anos de experiência na Educação Básica;
-Professor de Física e Design Maker e Autor de Coleções de Física do Ensino Médio e Pré-vestibular; e
- Apaixonado por Educação.
Nota do Editor:
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