Verdadeiro valor não dão à gente;
Essas honras vãs, esse ouro puro
melhor é merecê-los sem os ter
que possuí-los sem os merecer.
Luís de Camões
A água corre para o mar, esse ditado vem de uma certeza, e assim se aplica analogicamente a tudo. Pensando cá, em meus momentos reflexivos, me veio a ideia de que tudo que fazemos carrega um sentido, aliás, melhor seriam, sentidos.
Todo o dinheiro ou bem material que aqui se acumula e pensa-se ter, na verdade será de outro, não será seu. Todo bem que se pensa usufruir é ilusão.
E o é necessariamente uma vez que não se pode possuir o tempo. Sim! Não possuímos o tempo, se assim o fosse não envelheceríamos.
O homem está fadado ou a merecer as coisas sem tê-las ou ter as coisas sem merecê-las. Explico: Quando merecemos algo somos verdadeiramente ricos, pois temos direito a ter a substância, a essência, a vida se torna injusta enquanto nos tornamos justos. A própria natureza das coisas e do tempo nos recompensa nos guiando ao mar da satisfação. E como Aristóteles falava “O bem é aquilo a que todas as coisas tendem”. [1]
- Vamos lá!
Há no mundo àqueles homens que vivem no merecimento da eficiência, comem, vivem e defecam, ou seja, àqueles que trabalham e acumulam o fruto do seu trabalho, não aglutinam muita riqueza porque a própria natureza é eficiente e dá somente àquilo que se merece. Essas pessoas não enriquecem. Veja as formigas, os pássaros, os três reinos naturais, tudo em sincronia perfeita, nem mais nem menos, os animais assim vivem na perfeição da ética e entregam sua alma à evolução das espécies. Quanto aos homens desse merecimento, estes consumiram seus merecimentos entregam o que sobrou ao progresso de sua sociedade. É o cidadão comum que faz a sua parte, levam algo consigo em sua bagagem - suas vestimentas para o futuro.
Há tipos de homens que carregam em si um merecimento póstumo. Que levam para o além ou o que se defina como outra vida, um merecimento que não se esvai por completo na curta vida em que somos sentenciados. Tome por exemplo um cientista que descobre uma cura para uma doença que aflige a humanidade, ou um inventor que inventa algo que não vai usar, não viverão para usufruir da grandiosidade de sua genialidade. E onde está Alexander Graham Bell agora? Com certeza não está usando um celular nem tão pouco Jobs estará usando e usufruindo da riqueza de sua invenção, deixam suas heranças aos filhos, à sociedade e ao mundo, contudo levam consigo o merecimento de sua monstruosa participação.
Existem ainda os que são merecedores de berço, os que trazem dentro de si uma vocação artística, um sacerdócio que ultrapassa o valor médio dos demais. Assim é o artista que transforma a fama em riqueza material, que consome seu merecimento, mas também deixa o patrimônio imaterial de sua cultura. O seu mistério jaz escondido em algum lugar.
Os ilusórios, àqueles que aglutinam riquezas somente para outros, utilizam do pouco merecimento que possuem para deixar sua herança à sua comunidade, e ainda consomem sua fatia do que lhes seria recompensa, no orgulho. Fazem sua parte na grande engrenagem, que faz o tempo atual funcionar, para que a pirâmide social seja sustentada. É assim com um pastor corrupto que vive da exploração dos fieis que precisam de respaldo psicológico ou da muleta de um consolo religioso. Ele pode comprar um avião, um iate ou até mesmo um apartamento em Miami. Não adianta! Seu dinheiro vai para a grande Babilônia! Seu prazer será consumido na ilusão do ter. Pouco levará consigo, posto já ter consumido todo o merecimento de sua ajuda em proveito próprio. Este é mais zero a zero do que um a um.
E por fim, nessa singela classificação, há aqueles que muito ambicionam, não importando qual bagagem tragam, zombam do Direito, são aqueles que confiam tão somente na força e na riqueza, que passam por cima de todos, das leis e do respeito. Sua riqueza e seu orgulho profanam o santuário da justiça, a estes um destino cruel os espreita - voltar ao tempo para se redimir. Suas contas são mais que negativas e seus débitos hão de ser pagos com juros.
REFERÊNCIAS
[1] ARISTÓTELES. Tópicos. Dos argumentos sofísticos. Metafísica: livro I e livro II. Ética a Nicômaco. Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores, 4).
POR CHRISTIAN BEZERRA COSTA
-Advogado graduado pelo UNIEURO- Brasília;e
-Atuante nas áreas de Direito Internacional Privado e Civil
E-mail: adv.christiancosta@gmail.com
Twitter: @advchristiancos
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