Nos aproximamos de um cenário eleitoral que se assemelha muito a 1989. Muitos candidatos, a cisão da sociedade e, principalmente, uma indefinição monstruosa com relação a qual será o futuro da pátria tupiniquim.
A composição dos quadros de representação social se perfaz nas urnas, contudo, constrói-se com a junção de placas tectônicas de propósitos sociais. As semelhanças de propósito fazem com que os eleitores se aglomerem em torno de uma ideia, de um candidato ou até mesmo, em casos mais raros, de uma agremiação política. Essa miscelânea de interesses particulares e intenções para a comunidade cria o espectro do que podemos aguardar como resultado das urnas.
É aí que surge o nó social que as eleições necessariamente tem de desatar, sob pena da insatisfação social migrar para o enfrentamento urbano.
A guerra eleitoral objetiva a paz social.
No atual cenário, com mais de trinta partidos registrados junto ao Tribunal Superior Eleitoral, candidatos, ou pré-candidatos, fazendo chamamentos a seus fiéis seguidores nas redes sociais, o acirramento das diferenças ideológicas ou programáticas e, sobretudo, a ausência de uma disciplina de debate, fazem com que o cenário eleitoral brasileiro para 2018 se mostre um verdadeiro barril de pólvora.
Observar a decisão das ruas faz com que se torne evidente de que não estamos tratando de uma escolha racional – como deveria ser -, e, sim de uma tentativa de preponderância das próprias emoções.
Ano de eleições gerais no Brasil, aquelas que objetivam a escolha de presidente da República, governadores de Estado e do DF, deputados federais, estaduais e distritais, coincidentemente, se faz em ano de Copa do Mundo de futebol. Culturalmente, brasileiro se embriaga com o opiáceo futebol e se afasta das demais discussões. Contudo, quando for encerrada a disputa pela taça de campeão do mundo, o tema que realmente pode mudar nossas vidas se tornará único. Preparemo-nos para o enfrentamento à glamourização das eleições, do messianismo e da influência religiosa.
Quando passada a Copa do Mundo, acredite, o Brasil vai se dividir até o fim de um eventual segundo turno das eleições.
Isso ficou muito fortalecido nos últimos tempos, ainda mais após o envolvimento de diversos representantes eleitos em falcatruas e negociatas, o que levou ao maior descrédito da classe política.
O vanguardista de eleições baseadas nesse desalento da população é o Deputado Tiririca, que provou estar errado quando garantiu que “pior que tá, não fica”. Após a sua esmagadora votação, em sua grande maioria como voto de protesto ao cenário político do país, em sua primeira eleição, e sua reeleição, também com esmagadora maioria dos votos, o que se chama de mosca azul, inseto imaginário que carregaria o vírus da política, infestou o mundo de atletas, artistas e outras personalidades conhecidas do público em geral, incensando a todos estes, como já eleitos.
Isso acontece, justamente, porque os desacreditados políticos que ocupam as posições de representação, simplesmente, são desconhecidos do público votante, seja como pessoa, seja por suas ideias ou suas ações. São aqueles que aparecem em época de eleição só pra conseguir seu voto.
Contudo, diante desse vácuo de identificação entre eleitores e eleitos surgiu a onda gigante de novos candidatos.
Candidatos que, por vezes, nada entendem da arte política e trazem consigo a impressão de que a força pública é gerida tal qual a força privada.
Eleição não é concurso de popularidade e a população deveria ser consciente disso. Contudo, essa não é nossa realidade e, assim, a sociedade acaba por se aproximar de um cadafalso, muito embora esteja sorrindo de sua própria incapacidade de entender como se constroem entendimentos em nome da sociedade.
Tão perigoso quanto a glamourização do cenário político é o messianismo que imanta alguns pretensos candidatos.
Atribuir a fulano ou a beltrano a salvação de um país com dimensões e problemas continentais é leviano. A construção das soluções é feita com múltiplas mãos, com uma equipe coesa e eficiente, que, acima de tudo não veja diferenças como dificuldades e sim como parte do caminho. A harmonização de interesses é a função do(a) Líder, diminuindo os prejuízos a aqueles que sofrerão com a ação governamental e maximizando os benefícios à comunidade.
A formação dos líderes, em sua essência, deve espelhar a representação dos anseios dos liderados, contudo, percebeu-se no Brasil que um dos fatores que vincula as ações dos indivíduos é a sua fé e sua religiosidade.
Se ausente, faz com que seus adeptos procurem com quem coadunar. Por força cultural, os candidatos declaradamente ateus são em números parcos e a suas candidaturas não ultrapassam esse estágio, pois a fé na existência de um Ente superior que tenha criado a vida é sobremaneira liquidante à corrente contrária, o que se reflete nas urnas.
De outro lado, a religiosidade é deveras explorada nessas épocas. E, por mais que o Estado brasileiro não possa se imiscuir, subvencionar, apoiar ou desacreditar religiões, o contrário é válido. Não é segredo que no Brasil que a religião define eleição. A capacidade de influenciar o resultado de um pleito é evidente, até pelo sentimento de comunidade nessas agremiações de fé.
A Religião, seja qual for sua matriz, acaba por ser confundida com os seus pregadores, os quais, tem a capacidade de arrebanhar exércitos fiéis em torno de uma candidatura. Os líderes de igreja, em sentido amplo, acabam por se valer de sua influência e autoridade perante seus correligionários, justamente, para indicar em quem devem votar. Sendo assim, quanto maior o número de fiéis frequentadores de uma determinada igreja, maior será o poder de influência de seu apoio.
Sendo assim, o Brasil está nas proximidades de experimentar um cenário eleitoral extremamente esfacelado em torno de pessoas. As ideias e os ideais foram deixados de lado, optando-se por uma escolha pessoal, independente do que se pretenda.
Os programas partidários e projetos para a população foram deixados de lado, em favor de uma disputa que poderia ser representada pela expressão que diz: primeiro a gente ganha, depois vê o que faz. Assim sendo, surge cenário suficiente para populistas e promessas inexequíveis.
Esse é o poder de cada homem e mulher ter seu voto.
Ao final das eleições de 2018, se não houver um chamamento à união do povo brasileiro em torno do Brasil, o cenário esfacelado se agravará e com ele haverá um recrudescimento dos ânimos acirrados.
POR DOUGLAS BORGES FLORES
- Graduado em Direito(2008) pelo UNICEUB- Centro de Ensino Unificado de Brasília;
- Pós Graduado em Direito Público Material(2009) pela Universidade Gama Filho;
Extensão em Licitações e Contratos com a Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas(2010);
Extensão em Licitações e Contratos com a Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas(2010);
-Membro Julgador do TED – OAB/DF; -Secretário-Geral da Comissão de Direito Sindical e Associativo da OAB/DF;e
- Membro das Comissões de Direito Eleitoral, Direito Previdenciário e de Assuntos Legislativos da OAB/DF.
Nota do Editor:
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Caríssimo, gostaria de aproveitar o ensejo oportuno deste texto para um pensamento que vejo como uma das nossas maiores ciladas eleitorais no Brasil, a eleição conjunta do executivo (prefeitos, governadores e presidente) e do legislativo (vereadores, deputados estaduais, federais e senadores), que formam essa miscelânea a que refere.
ResponderExcluirQuanto as ideias e ideais dos candidatos, percebam que todos, dizem as mesmas coisas com tonalidades diferentes, sejam candidatos da esquerda ou da direita que julgo não existir no Brasil, todos adaptam o discurso aos nossos ouvidos e assim cegam os eleitores de suas incapacidades administrativas e culturais.
Quanto a fé, Cristo, foi oferecido a ele “todos os reinos do mundo e a glória deles” em troca de um ato de adoração prestado ao governante do mundo, o Diabo. (Mateus 4:8-10; João 14:30) Jesus recusou o reino da terra. Não há nenhum homem justo na terra, que continue fazendo o bem.” — Eclesiastes 7:20.
Portanto, eleição este ano no Brasil será traumática e rápida, quem for bombardeado cairá sem defesa por falta de tempo de explicação, as redes sociais foram tomadas por membros dos partidos políticos, que martelam, martelam e martelam palavras chaves que coladas na mente do eleitor, este em transe corre o risco de nos chafurdar em um buraco mais fundo que o abismo que estamos...
E, viva o Brasil, se for campeão do mundo então, esquece a mente desse povo...
Prezado Álvaro, primeiramente te agradecemos a visita ao nosso blog e a leitura de nossos artigos.
ResponderExcluirSua leitura política é muito esclarecida.
O importante, a nosso ver, é a conscientização, passo a passo, da população quanto ao Poder inerente ao voto.
Obrigado pelo comentário.
Estamos à disposição!