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quinta-feira, 22 de março de 2018

Fazer o bem sem Ostentação





O tema “fazer o bem sem ostentação” vem de encontro com muitos questionamentos sobre a realização da caridade com os necessitados e a sua ampla divulgação por quem a praticou. Será que essa divulgação é apenas para motivar outras pessoas ou será que essa pessoa quer apenas mostrar-se para a sociedade o “quanto ela é bondosa”? 

A resposta está no Capitulo XIII do Evangelho Segundo o Espiritismo - “Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita” está assim disposto:

“Guardai-vos, não façais as vossas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis a recompensa da mão de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, derdes esmola, não façais tocar a trombeta diante de vós, como praticam os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados dos homens; em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Mas, quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita; para que a vossa esmola fique escondida, e vosso Pai, que vê o que fazeis em segredo, vos recompensará.” (Mateus, VI: 1 a 4)
“E depois que Jesus desceu do monte, uma multidão o seguiu; E eis que vindo um leproso, o adorava, dizendo: Se tu queres, Senhor, bem me podes limpar. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o dizendo: Pois eu quero; fica limpo. E logo ficou limpa toda a sua lepra . Então lhe disse Jesus: Vê, não o digas a ninguém; mas, vai, mostra-te aos sacerdotes, e faze a oferta que ordenou Moisés, para lhes servir de testemunho a eles.” (Mateus, VIII:1a4)

Allan Kardec traz, nas suas explicações, o que realmente devemos entender pelo texto do Evangelho de Mateus mencionado acima: 
“Fazer o bem sem ostentação tem grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório, é o sinal incontestável de uma grande superioridade moral.
Porque, para ver as coisas de mais alto que o vulgo, é necessário fazer abstração da vida presente e identificar-se com a vida futura.
É necessário, numa palavra, colocar-se acima da humanidade, para renunciar à satisfação do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus.
Aquele que preza mais a aprovação dos homens que a de Deus, prova que tem mais fé nos homens que em Deus, e que a vida presente é para ele mais do que a vida futura, ou até mesmo que não crê na vida futura. Se ele diz o contrário, age, entretanto, como se não acreditasse no que diz.
Quantos há que só fazem um benefício com a esperança de que o beneficiado o proclame sobre os telhados; que darão uma grande soma à luz do dia, mas escondido não dariam sequer uma moeda! Foi por isso que Jesus disse: “Os que fazem o bem com ostentação já receberam a sua recompensa”. Com efeito, aquele que busca a sua glorificação na Terra, pelo bem que faz, já se pagou a si mesmo. Deus não lhe deve nada; só lhe resta a receber a punição do seu orgulho.”
Kardec com as afirmações acima nos diz que aqueles que não acreditam na imortalidade da alma ou até acreditam mas não dá a devida importância, querem demonstrar aos outros o quanto são bons e caridosos nesta vida e querem ser reconhecidos e aplaudidos e, assim sendo, já terão de imediato às suas recompensas, pois para esses, nada os espera após a morte ou nada de significativo.
Por outro lado, aqueles que acreditam na vida após a morte, veem a necessidade de fazer o bem sem esperar o reconhecimento e aplausos dos homens, porque espera o reconhecimento, o aplauso, a recompensa de Deus, nesta ou na outra vida. 

Percebemos com isso que a atitude de ajudar, acolher e praticar a caridade com os seus irmãos deve constituir ação espontânea, sem quaisquer sentimentos de vaidade, de orgulho ou de interesse material, independente de crença religiosa, é a prática do bem pelo bem, seguindo assim os passos do mestre Jesus.
 

E continua Kardec: 


“Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita é uma figura que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se existe a modéstia real, também existe a falsa modéstia, o simulacro da modéstia, pois há pessoas que escondem a mão, tendo o cuidado de deixar perceber que o fazem. Indigna paródia das máximas do Cristo!
Se os benfeitores orgulhosos são depreciados pelos homens, que não lhes acontecerá perante Deus? Eles também já receberam as suas recompensas na Terra. Foram vistos; estão satisfeitos de terem sido vistos; é tudo quanto terão.” 

Percebe-se aqui que Kardec deixa claro que o uso da falsa modéstia, muitas vezes utilizada pelas pessoas, reflete uma necessidade da parte delas em que haja uma valorização das sua ações, as quais devam ser reconhecidas por todos e espera sempre elogios ao seu comportamento “caridoso”, posto que esse reconhecimento é mais importante que o próprio gesto de ajudar e praticar a caridade. 
“Qual será então a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre o beneficiado, que lhe exige de qualquer maneira testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição ao exaltar o preço dos sacrifícios que suportou por ele? Oh!, para esse, não há nem mesmo a recompensa terrena, porque está privado da doce satisfação de ouvir bendizerem o seu nome, o que é um primeiro castigo para o seu orgulho. As lágrimas que estanca, em proveito da sua vaidade, em lugar de subirem ao céu, recaem sobre o coração do aflito para ulcerá-lo. O bem que faz não lhe aproveita, desde que o censura, porque todo benefício exprobrado é moeda alterada que perdeu o valor.”
Aqui mais uma vez percebemos que Kardec nos diz que fazer o bem para outra pessoa requer um desprendimento moral e material, uma vez que o bem oferecido não deve vir carregado de criticas e cobranças sobre o beneficiado, que não sentirá da parte do outro um atitude totalmente solidária, fraterna e amorosa, posto que, apesar desta pessoa lhe suprir uma necessidade, demonstra que há amargura, sacrifício, reclamações ou lamentações sobre a ajuda oferecida e praticada ao beneficiário. 

Assim, todo o bem que fez, não é sentido pelo necessitado, uma vez que quem o ajudou deixou claro o peso que teve para realizar essa caridade e, portanto, esta ação não foi aproveitada posto que não houve o devido reconhecimento moral. Deixou de receber as bênçãos da atitude nobre que teve para com o seu irmão, que pode ser até o seu próprio filho, um amigo ou seus pais. 

“O benefício sem ostentação tem duplo mérito: além da caridade material, constitui caridade moral, pois contorna a suscetibilidade do beneficiado, fazendo-o aceitar o obséquio sem lhe ferir o amor próprio e salvaguardando a sua dignidade humana, pois há quem aceite um serviço, mas recuse a esmola. 
Converter um serviço em esmola, pela maneira por que é prestado, é humilhar o que o recebe, e há sempre orgulho e maldade em humilhar a alguém. 
A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e habilidosa para dissimular o benefício e evitar até as menores possibilidades de melindre, porque todo choque moral aumenta o sofrimento provocado pela necessidade. Ela sabe encontrar palavras doces e afáveis, que põe o beneficiado à vontade diante do benfeitor, enquanto a caridade orgulhosa o humilha. 
O sublime da verdadeira generosidade está em saber o benfeitor inverter os papéis, encontrando um meio de parecer ele mesmo agradecido àquele a quem presta o serviço.” 
Das explicações acima feitas por Kardec, podemos concluir que o beneficio sem ostentação é o que respeita os sentimentos de quem beneficiamos, pois não atinge o amor próprio do irmão, mantendo a sua dignidade. 
Portanto, fazer o bem sem ostentação e sem exibição é uma maneira de exprimir a verdadeira benevolência através do ato de caridade fraternal e amoroso de quem o pratica. 

"Eis o que querem dizer estas palavras: Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita." 
Bibliografia: 

KARDEC, Allan -“ O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Capítulo XIII. 
POR MARIA DE LOURDES MORAES LIRA










-Advogada e Consultora; 
-Especialista nas Áreas Trabalhista e Previdenciária - OAB/SP nº 130.175 e
-Espírita e estudante da Doutrina


Nota do Editor:

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