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sábado, 17 de março de 2018

Uma juventude esquisita


“Festa estranha com gente esquisita”. Essa frase ficou martelando em minha cabeça por uns três dias. Jovens, de em média 18 anos, se reuniram em minha casa para comemorar a maioridade de minha sobrinha. A atração principal do evento era a cerimônia do Oscar e a maioria deles tinham palpites sobre os possíveis agraciados com a estatueta. Até aí, nada aparentemente estranho. Porém, era tudo muito esquisito. 

Ninguém podia fazer piada machista, racista ou homofóbica. Os ânimos sempre se acirravam quando o assunto era a situação política do nosso país. Falavam abertamente e sem receios sobre as idas ao psiquiatra e sobre os transtornos psíquicos da atualidade. Cabelos ao vento, sem alisante; cada um com seu estilo, roupas simples. Tinha hetero, gay e lésbica. Eles não falavam sobre suas perspectivas em relação ao trabalho, ao estudo...essas coisas da vida. O que realmente me fez achar aqueles jovens esquisitos? 

Tentar entender o que se passa com a nossa juventude é o mínimo que os educadores deste tempo podem fazer. Não basta fórmulas e olhares preconceituosos contra algo que é parte do nosso presente e futuro, quiçá do nosso passado. Eu não poderia passar mais dias pensando que são esquisitos, seria uma simplificação e uma acomodação que não cabe à quem se lançou ao desafio de educar. Também não pretendo analisar uma geração, precisaria de um distanciamento no tempo que talvez não terei, tampouco quero ser arrogante e achar que os jovens da minha geração eram melhores do que os jovens de hoje. Desculpe meninos, mas eu realmente os julguei como esquisitos.

De certo, que a falta de perspectivas em relação ao que fazer com a própria vida foi o que mais me chocou. Porém compreendo que este tema é a aflição desta geração que vivencia a maior crise econômica do país, que não tem emprego e ao mesmo tempo precisa se virar para sobreviver. Mais de 46% dos jovens entre 18 e 24 anos, apenas trabalham, muitos porque tiveram que abandonar a escola para garantir seu sustento e de sua família. Associada a crise econômica temos o sucateamento das escolas, um tanto enfadonhas para a juventude símbolo da evolução tecnológica, que encontra tudo que consideram importante na internet. 

Também essa geração é a primeira que vive de forma tão intensa o novo conceito de família. Durante a festa, eles me perguntaram porque a aniversariante mora comigo? Eu disse: porque nos amamos. Sim, essa é a resposta mais justa, porém há neste contexto de novos arranjos familiares, uma questão central. As mulheres da minha geração decidiram não ficar presas a relações tóxicas e agiram com sororidade. Isso fez uma diferença enorme no conceito de família e esses jovens são os primeiros a viver esse novo formato. Então, esses meninos esquisitos são fruto de decisões que nós tomamos. Decisões acertadas, importantes e históricas, que não devemos voltar atrás. Fomos nós que ensinamos a eles ter orgulho da pele negra e do cabelo crespo! Ensinamos que as relações devem ser baseadas no amor, que todos somos iguais, que devemos respeitar as diferenças, que devemos lutar por nossos direitos; então porque agora eu os achei esquisitos? 

Lembro, que quando estavam ocupando as escolas contra a emenda constitucional que congelou os gastos públicos, eu disse que essa geração ia fazer diferente. Eu olhei com ânimo as iniciativas destes mesmos jovens indo para a rua ensinar cidadania e acreditei neles. Agora, é hora reafirmar essa crença, porque eu não posso olhar para toda uma geração e dizer que ela está perdida porque eu achei esquisita. Seria um engano e um erro não entender que essa juventude está tentando encontrar um caminho, sobreviver a crise política e econômica, reformar de verdade as escolas... Esse caminho não é fácil, é tortuoso e cheio de voltas. Minha geração, por exemplo,tomou na decisão de colocar seu rumo na mão de um partido e de um presidente, um quase semideus que nos enganou. Então confesso, todos temos fragilidades.

Para delírio da turma que estava festejando, o filme ganhador do Oscar tem uma mulher trabalhadora como protagonista, discute a tolerância às diferenças e a beleza da resistência, refletindo esse momento cheio de novas perspectivas. Novamente, me desculpem, preciso continuar aprendendo com as esquisitices de vocês. Então, podemos deixar de lado os julgamentos e preconceitos e nos juntarmos para mudar o que realmente interessa. Vamos?

POR ANA PAULA SANTANA














-Graduada em Pedagogia e Psicopedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais;

- Ministra formação de professores visando implantar estratégias para o ensino de jovens e adultos;e
-Integra a Associação Mineira de Psicopedagogia e compõe o quadro de diretores do Centro Integrado de Apoio ao Trabalhador.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário:

  1. Caríssima, infelizmente a visão que faço de nossa atual juventude é muito mais esquisita, os vejo mimados, fracos, manipuláveis, tolos e inconsequentes; esse jovem, tem facilidades que nunca tivemos na vida e a desperdiça deixando entrarem ideologias toscas e conflitantes com o mundo de Deus.

    Penso que o jovem moderno inveja nossa rebeldia passada, sim, fomos rebeldes, escandalizamos o mundo com nossos cabelos compridos esvoaçando, sim usamos drogas e bebidas, não para matar e roubar e esconder nossas fraquezas, mas como uma ruptura de sistema, alargamos nossas roupas, mudamos nosso modo falar, dançamos e cantamos Rock in Roll, não descíamos até o chão e acreditávamos que era cultura.

    Sim, as coisas evoluem, mas mostrem me a evolução do jovem no Brasil, onde tem um grupo jovem, com raras exceções não haverão badernas, gritarias, brigas, palavrões, e todo sortilégio de insinuações sexuais; calma, cada um faz do seu corpo da sua vida o que bem quiser, desde que não envolvam outras pessoas, nossas crianças e nossa família.

    É esquisito, mas acredito piamente que facilitar a vida de nossos filhos tornou essa a pior geração de todas, um geração sem garra MORAL se apequenam em engenharias sociais que os lideram ao limbo dos bons costumes, ficando à mercê de engenharias sociais...

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