Desconfio que sou feita de matéria diferente da maioria das mulheres. Há tempos que me acho estranha, mas nunca havia ponderado sobre essas diferenças. Hoje, revisitando algumas lembranças, percebo que realmente sou esquisita. Assim, decidi escrever sobre isso, ver se encontro outras estranhas iguais a mim.
Os fatos: na adolescência, especialmente em lugares pequenos, o mais comum é encontrarmos grupos de moças casadoiras, quando juntas fazem um tremendo burburinho, assunto principal: "aquele rapaz", vestidos de noivas, enxovais, festas. Nessas ocasiões me sentia um peixe fora d'água. Nunca fiz grandes planos a esse respeito. O máximo que dizia pro horror das minhas amigas, era que queria muito ser mãe, e se caso não casasse antes dos 25, teria uma produção independente. Elas ficavam em choque, mudavam de assunto imediatamente.
Imaginem se elas estivessem presentes, quanto respondi ao primeiro eu te amo com uma gargalhada bem sonora. Nossa, ainda lembro bem daquele momento: o rapaz não sabia o que fazer. Pobrezinho, acho que ele esperava um "eu também te amo", será? rsrs.
Outro fato: vocês já devem ter visto aquelas cestinhas com ursinhos e outras coisas bonitinhas que algumas pessoas compram pra presentear quando estão enamorados. Nunca gostei de ganhar ursinhos, mas ganhei um bocado. Preferia coisas mais úteis.
Enfim, mesmo bruta, "arranjei" um noivo, fugi do casamento qual diabo foge da cruz, mas após tantos adiamentos minhas desculpas se esgotaram, e como já estava próximo dos 25, seria a melhor forma de realizar o sonho de ser mãe, sem escandalizar ninguém - casei, sem mais detalhes, apenas que realizei o sonho de ser mãe, o que amo e faço com muito esmero, ui, esmero é palavra de velho? Mas mesmo nesse papel, já há tanto desejado, ainda me acho diferente. Posso até estar errada, mas se eu não estiver bem, também não serei boa mãe.
Então busco ser feliz para fazer feliz, mesmo que pra isso às vezes precise me ausentar, me dar um tempo da maternidade. Trabalho? Me jogo de cabeça. Uma prima riu muito, quando um dia conversávamos sobre as dores de trabalhar e deixar os filhos em casa e eu lhe disse (me referindo a trabalhar fora de casa) que isso era importante pra manter minha sanidade mental. Meus filhos são uns amores, ativos, espertos como qualquer criança amada, mas eu não sou só mãe, sou também uma profissional, uma mulher, uma amiga.
Pois é, diferente eu? Talvez, ou quem sabe muitas sejam assim e não tenham coragem de admitir. A verdade é que vivemos nos escondendo numa cortina de faz de conta, pra satisfazer a hipócrita sociedade que não está nem aí se você é feliz, preocupa-se apenas se está cumprindo bem o seu papel de mulher de bem. Pois eu cansei, cansei de me esconder, cansei de ser para dar satisfação, cansei de não me aceitar. Aceitei que sou diferente, que gosto de falar o que penso e sinto, de rir alto, de assustar as pessoas com esse jeitão diferente. E escrevendo esse texto, enfim descobri que não sou bruta, sou é sensível por demais, apenas sinto diferente e não sofro mais por isso. Descobri que se conhecer, se aceitar, ir mudando aqui e acolá o que a gente ainda quer melhorar é mais importante do que ficar presa, se guardando apenas para seus pensamentos, onde ninguém pode lhe recriminar, mas onde também não é possível viver de verdade.
-Graduada em Pedagogia e especialista Em Pedagogia e os Desafios a Gestão: novos mercados, novas relações, pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL e
-Educadora de coração, corpo e alma - atua na Educação há 15 anos e como Técnica de Referência no atendimento a jovens cumprindo medidas Socioeducativas há dois anos.
-Educadora de coração, corpo e alma - atua na Educação há 15 anos e como Técnica de Referência no atendimento a jovens cumprindo medidas Socioeducativas há dois anos.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Caríssima, nos descobrimos a cada dia. Uma mulher ideal para a sociedade é aquela que se anule para seu pensamento.
ResponderExcluirA mulher liberta de ideias tolas nunca é bem vinda. Nossa sociedade adora o vitimismo latente.
Parabéns pela sua diferença necessária...