Quem nunca amou, não vai me entender. E quem nunca sofreu por amor, então, é que jamais poderá me entender. É com essas assertivas, a segunda principalmente, que eu me disponho a levantar um pouquinho a cortina que tanto teima em esconder o que restou de nós. Dos nossos momentos.
De imediato, a plateia vai perceber que o cenário mostra que nos encontramos em plena primavera. Há um jardim no fundo do palco. Nele, vê-se um banco um tanto tosco, é verdade, mas com toques de encantamento. Vê-se, obviamente por ser primavera, flores, muitas flores, . em profusão. Centenas de canteiros com violetas, jasmins, cravos, orquídeas, margaridas, cravinas, girassóis, azaléas, tulipas, begônias, jacintos, magnólias, rosas... E, obviamente, uma torrente de perfumes e cores.
É primavera, volto a repetir, e a plateia vai perceber, indubitavelmente. Na primavera o céu é meio diáfano; obnubilado, melhor seria classificá-lo, assim. E isso, (pobre coitado!) por buscar esconder-se pelo retraimento em presenciar tantos namoros, tantos risos, tantas alegrias, tantos suspiros, tantos gemidos de amor.
Assim como o céu, a brisa se faz translúcida, transparente de tanto acanhamento. E passa célere por entre as pétalas das flores; as agudezas dos espinhos; as asperezas dos pedregulhos nos canteiros. Afinal, é primavera.
Contidos nesta cena, estamos eu e você. Nossas mãos haviam se achado. Nós nos olhávamos, sem dizermos nada. O silêncio que havia invadido a cena só não era sepulcral devido as batidas imensuráveis dos descompassados tambores dentro do peito de cada um de nós.
Por um tempo que nunca pudemos e nem ousamos medir, nos tornamos a razão de viver. Éramos um só: revelávamos nossos amores pela mesma boca, enxergávamos os raios do desejo pelos mesmos olhos, e ouvíamos os gemidos do prazer pelos mesmos ouvidos.
Vendo tanta paixão transbordante, caudalosa, arrebatadora como uma imensa onda a envolver, com suas espumas, a nudez da incauta e indefesa praia; vendo tanta paixão assim desvairada, como fora a nossa naquela primavera, a plateia decerto ficará muda, findo o último ato do tosco teatro que foi a nossa vida.
E o que restou de nós.
-Acriano (por criação); cearense (por paixão); paulista (por adoção);
-Psicólogo / Jornalista/ Fotógrafo (Não necessariamente nessa ordem); e
-Autor dos livros "O Beco" (poesias) Editora e Livraria Teixeira e "São tênues as névoas da vida" Âmbito Editores (ficção desenvolvida no estilo literário denominado "Realismo mágico")
Nota do Editor:
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Pois é amigo; O amor se tornou redundante no sentido supérfluo, seja na primavera verão outono e inverno.
ResponderExcluirAmei seu texto. Parabéns!
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