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quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Voto de Qualidade – Eleições 2018




Há poucos dias, o resultado das Eleições se consolidou com a diplomação do candidato à presidência eleito Jair Bolsonaro. O resultado apurado nas urnas expôs aos brasileiros uma pequena diferença percentual de votos entre aqueles que disputaram o segundo turno, consequência esta do conturbado período eleitoral que marcou 2018. 

Ocorre que, desde entao, a divisão sinalizada nas urnas passou a ser interpretada, em meio aos constantes debates, como um indicativo de outras possíveis cisões: Sul/Sudeste/Centro-oeste contra Norte/Nordeste; ricos contra pobres; "direita" contra "esquerda", "bolsominions" contra "petralhas". 

Ainda bem que – tal como em 2014 – tudo não passou de um mal entendido.

Proponho refazer uma reflexão que outrora abordei em 2014: o que é o voto? De forma um pouco convicta, eu arriscaria em sintetizá-lo como uma simples manifestação de interesse individual, que potencialmente poderia refletir o interesse coletivo.

Um empresário do setor de transportes, por exemplo, possivelmente votará em quem se empenhou na melhoria das estradas e na redução de impostos. Igualmente se espera que um trabalhador vote, caso tenha a oportunidade, em representantes dos interesses da sua classe (seja ela médica, operária ou de educadores). Não é difícil perceber a razoabilidade aqui presente.

Seguindo esse raciocínio, não há como negar a coerência da escolha feita por uma dona de casa que, com convicção, votou no candidato do grupo responsável pelo programa assistencial que a beneficia. De igual modo, é razoável a insistência daquele pequeno agricultor em, a despeito de inúmeras críticas, continuar votando no partido que prometeu trazer água para a sua região.

Perceba: não há voto burro. Em todos esses casos, o que se constatou foi uma manifestação fundamentada de interesse. 

As cisões que muito foram aventadas durante as campanhas eleitorais são mentirosas e extremamente prejudiciais ao país. Botando o dedo na ferida, o fato de o Nordeste ter votado principalmente no PT, por exemplo, nada mais é do que o reflexo dos inúmeros investimentos ali feitos pelo atual Governo Federal. Neste contexto, a afirmativa de que o nordestino é mal instruído seria injusta e presunçosa, bem como atentaria ao legado, por exemplo, de grandes escritores tais como Gilberto Freyre, Gregório de Matos, José de Alencar, Aluísio Azevedo e Ariano Suassuna. 

Em igual expressão, o Sudeste (em especial São Paulo), região altamente industrializada e sensível aos desníveis econômicos que marcaram os últimos anos, apostou em candidaturas mais voltadas à direita, que em tese seriam o oposto do último governo; apostou-se na promessa de uma economia sólida e capaz de assegurar mais investimentos em setores de produção. São pessoas que, muito insatisfeitas com a atual gestão, buscaram – em pleno exercício de seus direitos – ampliar lucros e poder de compra.

O raciocínio se estende aquele que, por meio do seu voto, apontou qual seria o candidato que, sob o seu olhar, simbolizasse a redução da violência; a proteção de grupos de minoria; a proteção da família e dos costumes; a liberdade de expressão e a repulsa ao discurso de ódio; dentre outras infinitas razões.

Não há ninguém mal informado nessa história: cada cidadão votou olhando para si, fazendo com que, nos termos da democrática representativa, os interesses individuais predominantes se convertessem no interesse coletivo.

Perceba que toda essa taxação não passou de uma estratégia de marketing capaz de impregnar, em parte da população, o cruel sentimento do “nós contra eles”. Entretanto, quando se analise regiões ou grupos sociais dentro do mesmo país, não há “eles”: somos todos “nós”, o povo brasileiro. 

Com o devido orgulho, o Brasil é um país plural que, mesmo em face da divisão demonstradas nas urnas, deverá estar unido e preparado para combater qualquer discurso ódio, xenofóbico, classista ou elitista. A intolerância, por sua vez, só será aceita contra os constantes escândalos de corrupção, bem como contra os discursos extremistas que insursiram.

POR RAPHAEL RODRIGUES FERREIRA



















Doutorando (área de estudo: Direito Político), 
Mestre (área de estudo: Direito Político) e Bacharel em Direito, todos pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 
Professor. 
Advogado e Sócio do escritório Rodrigues Moreira Consultores e Advogados - www.rodriguesmoreira.com.br

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