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domingo, 24 de fevereiro de 2019

Dores, Desesperos; Nossa Vida e Nossa Morte




O que quero exterminar realmente? Será que neste mundo de possibilidades, podemos mesmo acreditar que só exista uma maneira de "nos livrarmos" do problema? 

O número de suicídio vem crescendo assustadoramente no Brasil, principalmente entre jovens de 15 a 25 anos. Mas não é raro sabermos de casos de crianças que idealizaram e/ou cometeram atos contra suas próprias vidas.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos. E quais seriam essas formas de prevenção? 

A dinâmica de vida atual tem se tornado grande vilã quanto à qualidade de vida e saúde mental. A regra do ter em detrimento ao ser, tem diminuído substancialmente a empatia e aumentado as exigências e diferenças.

Está difícil acompanhar tudo, dar conta de tudo, ser bom em tudo. E a cada dia é mais frequente ouvirmos rotulações dessas pessoas que buscaram o suicídio como sendo um comportamento para chamar a atenção, de maneira pejorativa. 

É óbvio que é para chamar a atenção! É um grito de dor carregado de desespero, clamando por socorro, uma manifestação da desesperança frente ao sofrimento real de quem o vivencia.

E eu me questiono: Será que é da vida mesmo que essas pessoas querem se libertar? Não creio. Elas querem se livrar da dor que carregam em suas almas, das decepções, dos fracassos e, por isso, muitas vezes desejam não mais existir, pois não mais existindo, extingue-se também toda a angústia enlouquecedora, toda a dor que não conseguem nomear. 

Penso que o modelo de educação familiar atual tem fomentado essa busca pelo fim, uma vez que é retirada da criança e do jovem a capacidade de lidar ou aprender a lidar com as frustrações, normal na vida de todos nós. Dói muito se frustrar e, se não tiver adquirido resiliência, a amargura daquele evento parece se eternizar. A impossibilidade de reverter a situação, de dar a volta por cima, clama voluptuosamente pelo fim, pelo fim do desespero, que por sua vez é causado pelo fato de existir. 

Claro que há vários motivos outros que podem levar uma pessoa a atentar sobre sua vida. De pequenas a grandes justificativas aos nossos olhos, sempre há um intenso sofrimento bradando por um fim. 

Não nos cabe julgar, mas nos é possível acolher, apontar caminhos, opções que podem ser úteis para inspirar esperança e retomar a autoconfiança e a força para lutar, assim como a serenidade e a clareza para enxergar que nossas vidas se assemelham a gangorras que nos colocam hora lá no alto e no momento seguinte bem abaixo, e novamente acima e assim sucessivamente.

A chuva e o sol acontecem no dia a dia de todos nós. Não é fugindo que se resolverão os problemas. E acreditem: todos nós podemos muito mais do que imaginamos. Então, sejamos a diferença em nossa vida e na vida dos outros. A gente precisa reverter esse quadro, falarmos de nossas emoções, mostrarmos o quanto amamos as pessoas e o quanto podemos ser especiais na vida de muita gente. Precisamos saber de nossa importância.

O problema deixa de fazer sentido logo adiante. A vida não mais será retomada. E todas as possibilidades de tudo, extinguem-se com a morte, seja esta concreta ou subjetiva.

* SUELI DONISETI DOS SANTOS










-Psicóloga e Neuropsicóloga;
-Graduada pela Universidade Cruzeiro do Sul;

-Especialização em Neuropsicologia pela USP;  
Atua na Psicologia Clínica sob a abordagem Cognitivo-Comportamental, com atendimentos a crianças, adolescentes e adultos.
Contato:11 95319-0439 

Nota do Editor:
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