Articulistas

Páginas

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Ordem, Progresso e Liberdade: O Resgate de suas Verdadeiras Definições

Autor: Jacinto Luigi de Morais Nogueira (*)

Como nós, seres humanos, podemos dizer que somos livres? Como posso aceitar que tenho autonomia para decidir o melhor para mim e para minha família? Acredito que o meio mais prático para concluir que sou livre é afirmando que posso pensar da forma que eu quiser. Alguém, ou algo, poderia suprimir minha liberdade física, impedindo-me de ir e vir, mas ninguém poderia suprimir minha liberdade de pensamento, pelo menos enquanto meu cérebro existir em condições de pensamento. Mas até que ponto, ou a partir de que ponto, posso pensar do jeito que eu quero? Uso quais tipos de informações para formular meus pensamentos? Onde e como obtive aquelas informações? Parece-me que aquilo que poderia me tornar livres é exatamente o que me aprisiona. E, se boa parte destes processos for inconsciente, como descobrirei algo? 

Acredito que buscamos a harmonia entre dignidade humana e sustentabilidade de um planeta que é escasso. Parece ser consenso que a boa educação de uma sociedade possa conduzir um País a melhores índices de qualidade de vida, de dignidade humana e harmonia social. Pode-se compreender educação sob vários aspectos: instrução, conhecimento, polidez, desenvolvimentos físico, intelectual e moral, disciplina… 

A mim me parece que a sutil maneira com que uma nação define seus fenômenos e ações pode influir na educação e consequente formação de nossa população. Uma sociedade, para bem viver, necessita de pessoas que pensem sobre respeitar e preservar os seus semelhantes e a natureza, e que ajam com coerência. E para pensarmos em respeito, por exemplo, precisamos ter aprendido isto no meio de nossa família(sob os vários significados possíveis), na infância. Também é preciso haver leis claras que nos lembrem das consequências de transgredir. É perfeitamente possível competir respeitando regras e leis. Impunidade é incompatível com respeito social. 

Gostaria de iniciar com uma definição simples. Ladrão, por exemplo, é um indivíduo que toma alguma coisa de alguém, mediante violência, ameaça ou fraude. É o ser que acha normal retirar algo que pertence a outra pessoa. Ser ladrão é uma escolha. Pode levar o infrator à cadeia. Se quero ser digno não devo ser ladrão. E por que este ladino não usou sua habilidade para o bem? A maioria de nós decidiu ser honesto e trabalhador. Poderíamos evitar que nossos filhos sejam, um dia, algum tipo de ladrão simplesmente ensinando estas definições e explicando sobre as consequências de seus atos? 

Se supusermos que a linguagem e a educação se iniciam em nossas casas, a fraude e a trapaça poderiam, da mesma forma, ser plantadas e semeadas no seio de nossas famílias? Suspeito que em alguns meios familiares haverá o hábito de ignorar princípios que favoreçam a honesta convivência na sociedade. Por que penso assim? Porque tenho visto bandidos ilustres tentando convencer a nação de que o que fizeram é normal. Ganham votos. Persistem no poder. Nem ao menos esboçam um mínimo de constrangimento e vergonha. Pior, corrompem os próprios filhos e familiares, transformando-os também em justificadores de seus atos ilícitos. Ainda, porque tenho visto trapaças, fraude e impunidade sendo tratadas como aceitáveis. Vejo descasos em hospitais sendo ignorados e fofocas de famosos sendo exaltadas em horários nobres. Não parece estranho? 

Uma vez que alguns valores, definições e conceitos são aprendidos no início da vida, no meio familiar, como pessoas podem ensinar aos seus filhos sobre moral, polidez e disciplina se estas ideias no Brasil por vezes parecem atrapalhadas? Mais ainda, como algumas pessoas, que confundem público com privado, morte de inocentes com levar vantagem, podem chegar ao topo do poder e representar toda uma cidade, um estado ou até mesmo uma nação? E que mecanismos os mantém lá por anos a fio mesmo após desmascarados? Sinto-me ansiosamente curioso para saber como a sociedade define um termo como "Conselho de Ética" de uma assembleia legislativa, por exemplo. Ou como se acredita sobre o verdadeiro conceito de "Supremo Tribunal". Alguém poderá me definir “justiça” no Brasil de hoje? 

E sobre algumas fontes de notícias no Brasil? O que alguém decidiu falar na televisão contemplava todos os aspectos mais importantes daquele fato? Foi realmente honesto o comunicador que abordou determinado representante do povo? Será que fomos realmente livres ao formular nosso raciocínio baseados naquela matéria do jornal? Hoje, quase todos os brasileiros, se quisermos, podemos buscar mais informações além da mídia convencional. 

Jornalismo deveria ser uma atividade profissional que visa coletar, investigar, analisar e transmitir periodicamente ao grande público, ou a segmentos dele, informações da atualidade, utilizando veículos de comunicação para difundi-las. 

Manipulação pode ocorrer quando se omite ao interlocutor uma parte do fato no intuito de enganar. Por onde anda o receio em publicar matérias manipuladoras com claros objetivos ideológicos e manipuladores? Onde estão os cidadãos inquietos com isto? E aquela busca da verdade que impulsionava o ser humano? Onde foi parar? Existe uma certa necessidade em ser manipulado? O manipulador vê pessoas como objetos. Kant defendia que as víssemos como um fim e não como um meio. Há, penso, o explícito desrespeito da dignidade daquela pessoa que será manipulada. Por onde anda a humanidade do ser humano? 

Respeito pode ser entendido como consideração, deferência, reverência; estima ou consideração por alguém ou algo. Supremo é algo que está acima de qualquer coisa; que se refere ou pertence a Deus; que se encontra no limite máximo; extraordinário. Justiça é a qualidade do que está em conformidade com o que é direito; maneira de perceber, avaliar o que é direito, justo… como se definem humanidade e dignidade? 

Segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, criminoso é aquele que infringiu por ação ou omissão o código penal, cometendo crime; delinquente, réu. Hipócrita: que ou aquele que demonstra uma coisa, quando sente ou pensa outra, que dissimula sua verdadeira personalidade e afeta, quase sempre por motivos interesseiros ou por medo de assumir sua verdadeira natureza, qualidades ou sentimentos que não possui. Honra é princípio que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade.

Quanto conhecer os aspectos mais importantes de um fato poderia favorecer para que um cidadão decidisse sua vida favoravelmente, trazendo benefícios para si e sua família, e até para uma comunidade? E há 20 anos, quando este acesso a informações era mais difícil, baseados em quais informações nós construíamos nossos raciocínios para escolher um representante?

No Brasil, em épocas recentes, tornou-se muito fácil erradicar a pobreza modificando a definição de... pobreza. O lado ruim é que o sofrimento humano continua. E, pasmem, existem seguidores deste “ser milagroso”. Talvez seja mais fácil conviver com certas distorções? E o que dizer da agonia de um juiz que deve, como missão de vida, seguir e aplicar leis, onde algumas destas leis foram criadas e aprovadas por políticos corruptos e tendenciosos? Como denominar tal situação? E quando puderem comprovar que aquela lei foi comprada por uma empresa corrupta? O que se haverá de fazer para remediar todos os impactos na sociedade? 

Como podemos conceituar o ato de buzinar no trânsito incontrolavelmente, fora do objetivo de alertar um perigo e sim para extravasar frustrações e ansiedades da "vida moderna"? Por que não denominamos mais de desequilíbrio aquela reação de luta quando alguém simplesmente nos critica? E aquelas pessoas que não respeitam a opção e opinião das outras pessoas não deveriam ser conhecidas como intolerantes? Infinitas perguntas. 

Quando bandido, supremo, ética, crime, trapaça, honestidade, notícia, democracia, moral, fraude, impunidade, partido, sociedade, dignidade e humanidade voltarem a significar o mesmo dos dicionários tradicionais, estaremos no rumo de um País que pode crescer, evoluir e ser desenvolvido. Enquanto dinheiro puder comprar distorções de conceitos, seremos só mais uma mentira. Penso que se nossa Constituição e nossas leis puderem, um dia, ser mais objetivas, e menos passíveis de tantas interpretações, teremos uma vida mais justa e honesta. Se um dia desses foi tão difícil explicar aos "intelectuais" o que significava metáfora, imaginem construir o que é ordem, progresso e Brasil. 


*JACINTO LUIGI DE MORAIS NOGUEIRA













-Médico formado em 2003 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; 
 Anestesiologista especializado no SANE-RS / Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / IC-FUC.; e
- Profissional liberal.

Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário: