Autora:Mônica Falcão(*)
Atualmente, praticamente um terço da população mundial está ligada às redes sociais. Com a facilidade de acesso à internet, surgiu uma espécie de "vício" psicológico entre as pessoas que quase se assemelha a um vício em alguma substância química. Estudos mostraram que usuários de internet tiveram regiões cerebrais afetadas de forma semelhante aos dependentes químicos. Essas regiões são as responsáveis pelos processos de atenção e decisão que nos ajudam a resolver as atividades básicas do dia a dia. Isso acontece porque nosso cérebro funciona à base de recompensas, e, tal qual no vício, essas recompensas vêm de forma rápida sem oferecer muito esforço.
Os “likes” que recebemos nas redes sociais como Facebook e Instagram nos oferecem um prazer que podem gerar uma descarga de dopamina em nosso cérebro, ou seja, quanto mais likes e interações recebemos, maior a descarga de dopamina em nosso cérebro e maior a vontade de buscar essa substância por meio das redes sociais, o que acaba gerando uma espécie de vício.
As empresas que trabalham com publicidade pela internet sabem disso muito bem, e acabam atraindo os usuários, por meio de suas propagandas, para permanecerem cada vez mais tempo online, em busca dessas recompensas fáceis.
Isso acaba gerando prejuízos que afetam justamente habilidades tão importantes aos nossos jovens como foco, memória e habilidade de realizar várias tarefas.
Embora tenhamos a ilusão de que essa eficiência multitarefa seja estimulada pelo fato de termos de clicar em vários links nas redes sociais, não é o que verdadeiramente acontece, pois os usuários das redes acabam efetuando as trocas de tarefas cada vez mais lentamente, já que as redes oferecem muitas distrações em forma de propaganda, o que gera distração, perda de foco e, consequentemente, dificuldade de memorização. A cada distração, demoramos alguns minutos para voltarmos ao foco, o que provoca a perda do controle da continuidade da atenção. Uma mente forjada sob a influência nefasta desse vício, como está sendo a dos nossos jovens, gera alunos com dificuldades cada vez maiores de concentração e de compreensão dos conteúdos escolares. As aulas não costumam alimentar esse vício em dopamina da mesma forma que as redes sociais, o que faz com que nossos jovens acabem se deixando levar pelo sistema mais fácil e imediato de recompensa.
Uma pesquisa aponta que um adulto mexe, aproximadamente, 80 vezes no celular por dia. Esse número pode aumentar quando esse aparelho está nas mãos dos jovens em fase escolar. Isso significa mais de cinco horas por dia em que esse ciclo se repete: acesso às redes sociais, distração e perda de foco gerada pelo excesso de informações banais entremeadas aos assuntos buscados, dificuldade cada vez maior de retomada de atenção e enfraquecimento da memória.
Outro fenômeno importante que acontece é que, nas redes sociais, falamos cada vez mais de nós próprios, o que nos deixa vaidosos e egocêntricos. Enquanto em uma conversa frente a frente com alguém falamos 30 a 40% do tempo sobre nós mesmos, quando estamos nas redes sociais esse número aumenta para absurdos 80%. Isso leva as pessoas a serem cada vez mais autocentradas.
Nicolas Carr, em seu livro A Geração Superficial, aponta que "quando ficamos online, entramos em um ambiente que promove leitura superficial, pensamento afobado e distraído e aprendizado superficial", ou seja, nossa estrutura de pensamento fica cada vez mais rasa e trivial. Um estudo feito com estudantes no Canadá, mostrou que aqueles alunos que utilizavam as redes sociais tinham menor probabilidade de estabelecer um pensamento reflexivo e davam menor ênfase a objetivos morais de vida.
Tira-se daí a conclusão de que nossos jovens passam mais tempo frente a um meio que privilegia uma postura passiva diante do aprendizado, que oferece um excesso de informações em um ambiente repleto de distrações. Com isso ficamos muito mais em uma posição de espectadores do que de protagonistas na nossa aquisição de conhecimentos. Somos incentivados a nos acomodarmos frente à aquisição de conhecimento, o que gera menos esforço intelectual, menor interesses pelas coisas, maior superficialidade e, consequentemente, menor espírito crítico e criativo.
Encontramo-nos em um impasse: não há como retroceder em relação às conquistas tecnológicas, mas, como educadores, teremos que nos reinventar para conseguirmos atrair a atenção de nossos alunos para que possamos formar cidadãos críticos, éticos e, por que não, felizes.
*MÔNICA FALCÃO PESSOA
- Professora Universitária de Português e de Literatura Brasileira, formada pelo Mackenzie;
- Mestre e Comunicação e Semiótica pela PUC/SP;
- Tutora em programas de leitura como "Quem Lê Sabe Por Quê".
Nota do Editor:
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