Autor: Elismar Santos(*)
Numa cidadezinha triste, à beira da lagoa, o homenzinho, assentado numa minúscula pedra, olhava os peixes e os mergulhões. Uma avezinha vinha célere, dava um mergulho, pegava um peixinho e retomava a sua rota; ia para a ilhota à frente e desaparecia por entre as arvorezinhas, que pareciam menores diante da quase cegueira do homenzinho.
Outros homenzinhos caminhavam à beira da lagoa. Alguns corriam, outros ouviam música. Uns menininhos brincavam de bola na areia. Era uma bolinha de meia, que corria de um lado para outro, com os menininhos gritando, pulando, jogando areia para cima, numa alegria inexpressiva, quase forçada, meio a contragosto.
O homenzinho, assentado sobre a minúscula pedra, olhava toda aquela cena com os olhinhos quase fechados. Fazia frio àquela manhã. Todo mês de junho era assim: um frio matutino acompanhado de um vento seco; à tarde, um sol escaldante; para, à noite, mais frio e sequidão. Por isso, poucas mulheres àquela hora, a não ser algumas mulherezinhas, pequenininhas, que vestiam blusas de lã e se escondiam embaixo de enormes sombrinhas multicoloridas.
Uma ave vinha em alta velocidade, descia repentinamente e voltava para a ilhota, como se tudo aquilo se resumisse a sua vida. Os homenzinhos continuavam caminhando à beira da lagoa, enquanto os menininhos ainda brincavam de bola na areia. Nada de novo, nada de interessante. Tudo aquilo nada mais era que um imenso retrato, que por alguma ilusão de ótica, movia-se lentamente para um lado e para outro.
O homenzinho pensava em toda aquela mesmice e matutava que um dia poderia fazer diferente, se quisesse, se tomasse coragem. Depois, com os ânimos acalmados, resignava-se e preferia ficar onde estava, olhando, pensando, entristecendo-se diante da enfadonha paisagem e os imutáveis transeuntes, que nem mesmo um “bom-dia” lhe davam.
O homenzinho, levantou-se vagarosamente, espreguiçou-se, consertou o corpo desconjuntado e foi andando, até que sumisse por inteiro no final do quadro. Não sabia aonde ir, nem o que fazer, apenas caminhava e pensava, triste, resoluto, que quando o pintor voltasse, com suas tintas e inspirações, talvez compreendesse que nada daquilo estava certo. Nada.
*ELISMAR SANTOS
-Professor de Língua Portuguesa;Poeta, Escritor e Locutor;
-Mora em São João da Lagoa, Norte de Minas Gerais; e
-Possui quatro livros publicados: Sanharó (Romance), Mutação (Poesia), A Pá Lavra (Poesia e O Poeta e Suas Lavras (Poesia).
Seus textos podem ser lidos também em www.elismarsantoss.blogspot.com
Nota do Editor:
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Q história,me fez viajar pelo tempo e curtir toda a narração! Sensacional... Parabéns Elismar Santos e ao nosso amigo do Werneck q nos trás mas algo de magnífico além do seus artigos..
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