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domingo, 21 de julho de 2019

Estamos à Procura da Felicidade



Autora: Cláudia Oliveira(*)

Em minha experiência como psicoterapeuta junguiana observo que grande parte do sofrimento das pessoas deriva do medo do fracasso e da sensação de não ser bom o suficiente. O fantasma da mediocridade, da imperfeição e da humilhação está intrínseco na corrida pelo sucesso. 

Sabe-se que o medo é um dos sentimentos inatos e mais importantes para a sobrevivência do homem. Como forma de autopreservação, ele é a resposta instintiva do ser humano a um perigo iminente. Seu principal objetivo é prezar pela sobrevivência, mas em forte intensidade, também pode ser paralisante e causador de estresse crônico. 

Em nossa psique, processamos o medo como a antecipação do sofrimento futuro, na tentativa de evitá-lo. Ele nos deixa mais alerta e nos faz pensar obsessivamente na ameaça à frente. Assim sendo, é seguro afirmar que se uma pessoa vive grande parte do seu dia contaminada pelo medo, tentando antecipar e evitar fracassos – perdas, raiva, tristeza e demais adversidades –, é possível que ela entre num círculo vicioso negativo, pois psicologicamente ela já vive a situação ruim antes mesmo de que ela tenha acontecido de fato. 

Como o cérebro é incapaz de identificar a diferença entre um evento real e um imaginário, ele reage ao medo do sofrimento – à antecipação do fato – da mesma forma que reagiria à situação real, aumentando a produção de cortisol, adrenalina e noraderenalina, liberados na corrente sanguínea. 

Estar exposto a essa situação de medo e estresse por um longo período causa danos à saúde psíquica e física também. Um organismo considerado saudável retorna rapidamente ao estado normal de homeostase depois de viver a tensão de um momento de estresse. Porém, se o organismo já estiver vivenciando essa situação a um determinado tempo, esse estresse pode tornar-se crônico, devido à quantidade de cortisol, adrenalina e noradrenalina presentes na corrente sanguínea. Os efeitos colaterais disso a longo prazo é a redução do calibre dos vasos sanguíneos e aumento do triglicérides, condição que potencializa o risco de hipertensão, arritmias cardíacas e diabetes, além de prejudicar o sistema imunológico.

No âmbito psicológico, a grande concentração desses hormônios é precursora de transtornos como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estafa mental, entre outros.

Viver na evitação de fracasso, de vulnerabilidade e de sofrimento poda, aprisiona e impede-nos de viver a manifestação espontânea de nós mesmos. A ideia da obrigatoriedade da felicidade e do sucesso podem fomentar sentimentos de depressão, ansiedade, desvalor, baixa autoestima e a sensação de nunca estar satisfeito com o que se tem e com o que se é, pois está sempre em busca de atingir o patamar acima.

Durante os atendimentos em psicoterapia, um tema presente costuma ser a ênfase ao que não foi atingido. As pessoas afirmam não terem ou não serem o suficiente, funcionam num mindset da escassez, vivenciando ou temendo-a. Fica claro que um fator que contribui muito para a formação desse mindset é a comparação automática que fazem com as pessoas a seu redor e os padrões que identificam na sociedade.

O excesso de comparação contribui para o sentimento de desvalor, descrença e dificulta experimentar momentos de satisfação e gratidão. O psiquiatra suíço Carl G Jung, em sua obra "Presente e Futuro", faz a seguinte afirmação: "Não compare, não meça. Nenhum outro caminho é como o seu. Todos os outros caminhos enganam e tentam você. Você deve realizar o caminho que está em você". Portanto, criar metas e expectativas pautados nos padrões externos é um desserviço para a jornada de autorrealização. 

De acordo com a Pesquisadora e Ph.D. em Serviço Social Brené Brown, o oposto da escassez não é o excesso, mas a plenitude. Atingir a sensação de plenitude e de estar em paz consigo mesmo potencializa o aumento da produção dor hormônios conhecidos como “o quarteto da felicidade”: endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina, que favorecem a saúde física e psicológica, aumentando a imunidade e preservando o bom funcionamento dos órgãos e tecidos.

Em sua tese, Brown descreve a felicidade como a habilidade de aceitar os momentos de vulnerabilidade, fracasso e vergonha, afirmando que eles são inerentes a qualquer ser humano em diversas fases da vida. Segundo ela, se enxergarmos a vida como uma jornada de altos e baixos, sem evitar nos esconder numa couraça de proteção, seremos mais fortes, capazes de autoaceitação e assim, mais leves e plenos. É fundamental que para ser mais feliz o indivíduo entenda a vulnerabilidade como parte natural do processo de desenvolvimento e não como fraqueza. Ainda segundo Brown, "os elementos mais raros na sociedade da escassez são a disposição para assumir nossa vulnerabilidade e a capacidade de abraçar o mundo a partir da autovalorização e do merecimento". 

Ser vulnerável é assumir correr os riscos necessários para a mudança, ter consciência dos próprios limites, tirar a máscara e assumir o verdadeiro eu, aceitar e expressar os verdadeiros sentimentos, sejam eles quais forem, bons ou ruins. Ser vulnerável requer coragem, portanto, é ser forte. 

Viver de forma plena envolve ter amor próprio, aceitar que independentemente dos resultados das suas ações, você fez o melhor para aquele momento. Acolher acertos e erros, abrir mão da busca pela perfeição e abraçar a imperfeição de ser quem se é, vulnerável e forte. Aceitar a autenticidade que reside em si, ser compassivo com os erros e dificuldades, confiar na intuição, dedicar-se à lazer e descanso, cultivar a criatividade são habilidades importantes a serem desenvolvidas na busca da felicidade. 

*CLÁUDIA RIBEIRO OLIVEIRA




-Psicóloga;
-Especialista em Psicologia Junguiana pela Paeeon/UNISAL;
-Facilitadora Pro do método PSYCH-K® de transformação de crenças;
-Experiência em atendimento psicológico na abordagem junguiana em consultório particular;
-Experiência como docente em Ensino Superior; e

-Experiência em palestras sobre temas na abordagem junguiana







Nota do Editor:


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