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sexta-feira, 12 de julho de 2019

O Gato Comeu, Mas Fui Eu Quem Vomitou

Autor : Alberto Schiesari(*)


Ontem eu vomitei. Muito. Exageradamente. Qual a razão?

Estava sentado em minha desconfortável cadeira, que insiste em intensificar as dores de minha precária saúde de idoso. Tentava fazer o tempo passar lendo um texto que me foi enviado por um ex-aluno, pessoa de minha estreita confiança – entenda-se: ele não espalha fake news.. O assunto era política no Brasil.

Comecei a ficar incomodado e indisposto com a leitura. Para desviar atenção de minha mente liguei a TV. Sem prestar atenção nas imagens da telinha, voltei meus olhos novamente para o texto, mas involuntariamente o som da TV era captado por meus ouvidos de velho, um pouco peludos mas muito atentos.

Quando me dei conta a TV apresentava um noticiário político. Minha audição sempre ativa me deu um cutucão e "disse": "Ouça! Preste atenção! A canalhice é maior do que você está lendo ou do que sua vã filosofia sonha!". Nesse momento meu cérebro recuperou o trecho da notícia recém-televisionada que havia sido armazenada pé ante pé em minha memória de curto prazo.

E me dei conta de como nossa nação ainda dá atenção a palavras e opiniões expressas por calhordas.

Um deles, sei lá qual dos tantos cafajestes que fazem parte da alta classe de nosso país, falava a respeito da confissão que o assassino italiano Cesare Battisti fez à justiça da Itália. 

Palavras do político mais inocente e ingênuo do universo: "Se àquela época Battisti tivesse confessado teríamos autorizado a extradição". Aí fiquei imaginando como ele –não sei se é pai – educaria e aconselharia um filho ou uma filha:

"Confie em toda e qualquer pessoa até que, se for o caso, ele confesse a você que não presta".

"Hitler nunca confessou seus crimes e portanto foi um inocente incompreendido".

"Filhinha: vá à festinha de aniversário com o Chambinha pois ele não confessou nada."

"Filho: vá fazer caridade lá no presídio de Presidente Venceslau pois lá todos se declaram inocentes".

Como político, o fulano provavelmente em seus discursos diria: "Acreditem piamente que, conforme foi declarado por ele mesmo, Lula é o homem mais honesto do Brasil".
O entrevistado é, de fato, um mártir da bondade, ícone da ingenuidade. Exemplo de honradez e de credulidade nos seres humanos".

Foi então que essas maravilhas que ele pronunciou se fundiram com o texto que eu nem tinha acabado de ler, e que trazia uma lista de inúmeros fatos concretos e reais (desculpem o duplo pleonasmo) que os donos do poder desta nação diariamente nos obrigam a engolir como se tudo isso fosse a coisa mais natural, proba e correta do mundo.

A sobremesa servida pela TV fechou com chave de ouro o exuberante prato principal do texto que eu lia, complementando a "refeição" que os "chefs" donos do poder no Brasil nos servem há pelo menos duas décadas. O evento gastronômico causou superlotação de coliformes fecais no intestino virtual de minha tolerância. Foi então que vomitei.

Por curiosidade, veja uma pequena parte do cardápio que descrevia o prato principal, que ouso expressar com meu estilo, palavras e comentários.

1.Cadê o número da conta? 
Ah! Desculpem-me, está protegido pelo guarda-chuva de algum laranja...

2.Cadê a escritura do tríplex? 
Ah! Desculpem-me, está bem guardadinha na gaveta do cartório que registra e autentica a honra de criminosos...

3.Cadê a vergonha na cara dos fazedores de leis que agem em benefício próprio e que incessantemente constroem e aperfeiçoam um arcabouço jurídico que os protege e preserva, e, indiretamente beneficiam criminosos do "colarinho negro"? 
Ah! Desculpem-me, está sob total abrigo no bunker construído e administrado pelas instâncias superiores das cúpulas do poder...

4.Cadê a humanidade dos esquerdistas que defendem o calhorda venezuelano Nicolás-tomara-que-caia-de-maduro? Ele, que destruiu seu próprio país com a corrupção. Que fez da Venezuela um lugar no qual mulheres com câncer no seio em qualquer estágio fazem mastectomia radical na esperança de não serem atingidas pela metástase, por falta de recursos médicos. Fato que as gleises, as manuelas e as márcias solenemente ignoram, pois não é o peito delas que é extirpado. 
Ah! Desculpem-me, os referidos esquerdistas estão preocupados com algum "autoexílio" para zelar por suas propriedades em Paris e outros "subúrbios" deste mundo...

5.Cadê os representantes e pseudo-representantes da igreja católica, como os padres secchim, que deveriam condenar Maduro e suas atitudes hitleristas, mas são impedidos por sua ideologia "idiotista" e criminosa de esquerda-é-a-minha-religião? 
Ah! Desculpem-me, talvez estejam extremamente ocupados em ocultar crimes de pedofilia...

6. Cadê algum "conceituado" advogado que tenha dentre seus clientes apenas criminosos "e alto padrão" e que tenha se oferecido para defender um único cidadão ou cidadã cuja vida foi arrasada ou mesmo ceifada pelo rompimento das barragens de Mariana e de Brumadinho? Ah! Desculpem-me, está cuidando de sua festa de aniversário em New York ou Portugal, pois no Brasil as coisas estão muito estranhas. Ou estão ocupadíssimos escolhendo o juiz pelo qual eles querem que seus clientes sejam ser "julgados"...

7. Cadê os incontáveis procrastinadores, especializados na defesa de grandes canalhas criminosos condenados e acusados por prática de caixa dois e lavagem de dinheiro? Procrastinadores esses que atendem os poderosos de colarinho branco a peso de ouro...
 Ah! Desculpem-me, eles estão ocupados analisando outros nichos de mercado, visto que agora caixa dois é algo de menor gravidade delitiva, algo até mais inocente do que qualquer simples contravençãozinha, graças a alguma sábia e "tecnicamente fundamentada" decisão dos máximos juristas deste país.

8.Cadê alguma ínfima atitude de compreensão e de solidariedade que tenha sido oferecida ou realizada por algum representante do judiciário, de forma individual ou classista, no âmbito da reforma da previdência, de forma a minimizar as desigualdades sociais deste país que eles protagonizam e simbolizam? 
Ah! Desculpem-me, esses profissionais já suportam tão extrema defasagem salarial "negativa", sentem-se sem ânimo de desviar suas atenções para outros assuntos, e sua "depressão" os obriga a organizar banquetes com custo proporcional à sua soberba...

9.Cadê os canalhas das universidades que deveriam colaborar intensamente para explicar, pesquisar, divulgar ao público leigo e propor soluções e alternativas para as autoridades e para a sociedade, referentes aos grandes problemas nacionais, como a reforma da previdência, tributária, partidária, eleitoral? 
Ah! Desculpem-me, estão ocupadíssimos estruturando e realizando cursos como "O górpi de 2016"... Nada mais importante e prioritário a fazer...

10. Cadê a vergonha na cara das organizações, instituições e associações que deveriam exercer papel de relevância como exemplos de cidadania, mas que tudo fazem para eliminar a Lava Jato? 
Ah! Desculpem-me, estão "gerundiando" enquanto estão “buscando” enquanto estão "atuando" para eliminar um exemplo mundial de luta contra a corrupção... Corrupção? Ora, a corrupção!

11.Cadê a vergonha na cara dos eleitores dos renans, das gleises, das manuelas, dos requiões e tantos outros e outras que representam o expoente da dissociação entre a classe política e os brasileiros desassistidos? 
Ah! desculpem-me, estão aproveitando a meia dúzia de reais do empreguinho de segunda classe cujo salário dividem ilegalmente com os partidos e com escusos chefes de ORCRIMs...

12. Cadê a honra de quem apoia e idolatra criminosos, como fazem com lulas e dirceus, com o mesmo fervor com o qual Joseph e Magda Goebbels apoiaram Hitler e o nazismo até seus instantes finais, e que movidos por essa devoção assassinaram seus seis filhos em 1º. de maio de 1945? 
Ah! Desculpem-me, esqueci que esse tipo de gente nem sabe o que é honra.

13. Cadê os canalhas de alto escalão em todos os poderes, que deveriam dar exemplo de como cumprir a Constituição, mas são os principais defensores e promotores das desigualdades?
Ah! Desculpem-me, estão atarefados fazendo coaching de atuação teatral para conseguirem ser arrogantes fingindo certo ar de humildade...

14.Cadê a vergonha na cara dos semlers da vida, que advogam uma nova chance para a esquerda mostrar serviço, redigindo manifestos com canetas Montblanc, sentados em confortáveis cadeiras de couro legítimo, em escrivaninhas de mogno, tomando uísque escocês 30 anos? 
E que convenientemente não se lembram de avisar os pobres que são eles que terão de pagar a conta dos novos e infindáveis erros e crimes que os "socialistas" e "comunistas" de conveniência certamente voltariam a perpetrar. 
Erros esses que só se avolumam desde que Allende foi o primeiro a demonstrar que esquerdista só "sabe" administrar se os recursos disponíveis forem ilimitados e pagos por outrem. 
Fato, aliás, intensamente corroborado pelo desastroso período em que uma "presidenta" infelizmente esteve à frente do executivo brasileiro...
Ah! Desculpem-me, a referida vergonha na cara dos semlers está submersa, invisível e inacessível, sob efeito da maquiagem cultural realizada no perfil moral e ético deles, por maquiadores de plantão capilarizados e instalados como posseiros em universidades e demais instituições e organizações governamentais.

15.Cadê a seriedade dos meios de comunicação e institutos de pesquisa que fingem apartidarismo e neutralidade, mas em paralelo expressam de forma implícita ou explícita seu repúdio pela Lava Jato ou instigam e incitam que criminosos presidiários sejam candidatos vitoriosos à Presidência da República? Ou seja, na prática, defendem com unhas e dentes a predominância de correntes criminosas e a libertinagem do caixa dois e da lavagem de dinheiro. Fazem apologia do crime.
 Em outras palavras; lutam desesperadamente para que o status quo em que predomina o crime de colarinho branco continue inalterado, permitindo que indivíduos doentes e mal intencionados continuem a deter o controle das instituições que gerem esta nossa sofrida sociedade, caracterizada por abismais diferenças entre os endinheirados e a "ralé" de nossa sociedade civil.
Os mesmos meios de comunicação e institutos de pesquisa que se autodenominam liberais e independentes, mas não conseguem esconder sua paixão político-afetiva desenfreada pela esquerda, que usam sua influência na formação de opiniões para induzir sofisticamente o viés esquerdista na mente de seus leitores, ouvintes, telespectadores e entrevistados.
Ah! Desculpem-me, os referidos meios de comunicação e institutos de pesquisa apenas estão preocupados em descobrir como gerar e disseminar fake news...

16.Cadê os banqueiros, que, não importa quem sejam os canalhas que têm o poder nem quais sejam as canalhices que praticam, estão sempre calados, sentados no conforto proporcionado por almofadas de juros criminosos? 
Ah, desculpem-me, os referidos banqueiros estão preocupadíssimos contando suas moedas, imersos nos delírios de prazer que este país lhes proporciona, dando-lhes liberdade de praticar as mais altas taxas de juros de todo o mundo...

17.Cadê a cota de sacrifício que os militares reiteradamente se recusam a oferecer na reforma previdenciária? 
Ah! Desculpem-me. Eles já consideram cota de sacrifício ter que oferecer a vida para defender o país, como se fossem a única classe que voluntariamente faz isso, que exerce profissão perigosa.
Eles talvez acreditem que o fato de não receber horas extras os torne mais merecedores de aposentadoria bem confortável, lembrando que escolheram a profissão por vontade própria, e que os miseráveis nem podem escolher como viver, quanto mais como se aposentar. Pior: os pobres ainda devem enfrentar a fome e o desespero causado pelo desemprego, coisa que os militares provavelmente nem sabem o que significa.

18.Cadê a coragem, desinteresse por questões pessoais e ideológicas que forjam os estadistas patriotas e heróis como Konrad Adenauer, que estabeleceu os alicerces de trabalho, honestidade e de não corrupção, e assim conseguiu erguer o mais importante país da Europa, que havia sido totalmente destruído pela guerra, dividido em duas nações contíguas, porém antípodas politica e economicamente? Ou como Ben-Gurion, que construiu uma nação moderna num deserto?
Tais personagens são hoje anônimos e esquecidos, mas sua coragem, humildade, desprendimento e capacidade de liderança foram usados apenas e tão somente com os olhos no futuro de suas nações e não no enriquecimento pessoal e na "sobrevivência eterna" de um partido político, ou, perdão, melhor dizendo, de uma agremiação de adoradores do próprio umbigo que defecam montes de escória mental com o objetivo de libertar criminosos da cadeia, numa infeliz tentativa de eternizar canalhas e ladrões como símbolos para adoração.
Agremiação essa levada pela soberba, incapaz de qualquer gesto de humildade que reconheça erros, omissões e crimes que haja praticado. 
Agremiação de covardes que não têm coragem de assumir a culpa de graves erros e se borram de pavor quando são obrigados pela justiça a pagar sua penitência no lugar adequado, a prisão. 
Sem esquecer que a referida justiça está impregnada de togados venais que batalham sem cessar para minar os alicerces do bom senso e da verdadeira justiça, e só causam vergonha alheia a quem tem decência e equilíbrio. Togados que são pródigos em ser lenientes e frouxos ao mimar criminosos. 
Gente que fala alemão com rara fluência, que sabe pronunciar e o conhece o significado, mas ainda assim causa essa maldita Fremdschämen.
Ah! Desculpem-me, a exemplo do toucinho que estava aqui, as referidas coragem, desinteresse pessoal e ideológico serviram de comida para gatos famintos por assistir de camarote à fome alheia. Gatos esses que não fogem para o mato venezuelano, mas exilam-se nos bosques de Paris. Ou, quem sabe, deliciam-se a dançar straussianos contos  nos bosques de Viena.

Enfim: cadê o toucinho que estava aqui? Ora, é óbvio! O gato comeu!

Mas fui eu quem vomitou.

*ALBERTO ROMANO SCHIESARI



-Economista;
-Pós-graduado em Docência do Ensino Superior;
-Especialista em Tecnologia da Informação, Exploração Espacial e Educação STEM; 
-Professor universitário por mais de 30 anos;
-Consultor e Palestrante.




 Nota do Editor:


Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

2 comentários:

  1. Gostaria eu, como filha, de poder ter um décimo de seu conhecimento, e sua escrita, sua inteligência e sua honestidade. Gostaria que o mundo tivesse 90% da oportunidade de ter experiência de educação com você. E os outros 10% da sua cultura e diversidade.
    Você e exemplo de ser humano, de Homem, principalmente de Pai e Avô.
    Orgulho de vida, orgulho da nossa vida.
    Te amo, pai.
    Amanda

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