Autora: Fabiana Benetti(*)
Podemos
dizer que na sociedade que vivemos, é difícil encontrar um homem livre.
A
liberdade humana está ligada diretamente com o conhecimento de sua própria
natureza de ser e existir como desejo.
O que
quer dizer isso? Este conhecimento, na realidade, tem muito a ver com a consciência
que somos causa daquilo que acontece.
Digo
isso deixando de lado ilusões, como as superstições, e as ‘verdades absolutas’
que trazem conhecimentos fantasiosos – nos enfraquecendo na razão, no
pensamento e ação, e desta forma desconectando o nosso ser do nosso desejar e
do fazer.
Contudo,
precisamos reconhecer e praticar, na vida cotidiana, a necessidade de ser
aquilo que se é, dando maior importância as nossas causas e sentidos singulares,
agindo adequadamente para a conservação, constituição e congruência de nossa própria
potência de conhecer, compreender, existir, desejar e agir.
Isso é
possível quando acessamos nossos conhecimentos por meio das relações afetivas
de modo que exista troca, e não alianças de dívida e culpa. Nós, seres ditos humanos,
nos tornamos humanos de verdade a partir do afeto de outros. Por isso, nossa
natureza vai em busca de sermos afetados de múltiplas maneiras, onde todos
cresçam mutuamente, se ajudando, fazendo
parcerias, tomando parte com entrega nas conexões de interdependência,
diminuindo a dependência infantil, onipotente ou impotente, e investindo no
encontro com autonomia para os afetos.
Quanto
mais efetuamos encontros apoiados em troca e parceria, mais nossa potência e
desejo aumentam, nos possibilitando de afetar e ser afetado com liberdade.
Qual a importância da
busca pela autonomia?
A
importância é de liberdade – estabelecer relações de troca implicando
iniciativa, responsabilidade, comprometimento, entrega, riscos, e decisão de
falar por si próprio, arcando com os erros e acertos na construção da relação.
Não
podemos confundir autonomia com autossuficiência. Ninguém é autossuficiente.
Quando agimos isoladamente, recusando ajuda, desconsiderando o outro como parte
integrante da autonomia, criamos violência e obstáculos para uma discussão
aberta que possibilita o vínculo. Esse vínculo só é construído quando temos a
qualidade na relação com o outro por uma recíproca necessidade. Em virtude dessa
necessidade, realizamos as mesmas finalidades pelo auxilio mútuo, com respeito
ao próximo, reconhecimento dos seus próprios limites, e lealdade em arcar com o
desejo e escolhas – permeados por autocrítica.
Isso é
diferente de ser dependente – assim como as crianças são dos adultos
para se constituírem como sujeito, dependendo de um ambiente que traga
proteção, referencias, agenciamentos e afeto.
A
autonomia é construída em cada relação onde existe vínculo e afeto (condição
importante para lidar com a realidade vivida, com ganhos e perdas), e possibilita
ao indivíduo assumir o próprio desenvolvimento e ser o sujeito de sua própria
história.
A autonomia traz recursos para lidar com as contradições do mundo. Ela gera
oportunidades para mudanças qualitativas – isso porque só podemos desenvolver
se buscarmos a possibilidade de nos diferenciarmos de nós mesmos. Este processo
gera criatividade, e a capacidade de nos tornarmos conscientes, e criadores de
nosso próprio envolver na vida. Assim não ficamos refém do acaso, e dos outros,
mas temos uma efetiva realização e empoderamento.
Como ter mais segurança em si mesmo?
Podemos
dizer que ter autonomia traz a potência de tomar decisões, e com isso transformar
conflitos em possibilidades com maior segurança.
Para modificar
os estados de mal-estar nas relações consigo mesmo e com o outro, e também
tratar dos desafios que podem trazer muitas inseguranças, é fundamental o
desapego das idealizações: deixar de lado a ilusão que podemos controlar todas
as nossas emoções e situações.
Assim
sendo, quando aceitamos que nós somos responsáveis por nossas escolhas, e que
nem sempre temos um resultado satisfatório, podemos construir uma segurança
mais sólida e possível.
Outro
ponto importante aqui, é o de entrar em contato com a própria história de vida,
investindo no autoconhecimento, e assim constituindo, humanamente, mais
autoestima. Muitas vezes, respondemos a novos estímulos com a mesma resposta,
por estarmos descolados do presente momento e remetidos em algum outro momento
da vida que tenha sido difícil ou traumático. Assim se instaura a insegurança,
pois deixamos de viver o que no presente acontece, nos limitando de habitar
nossos desejos, por falta de ‘tempo presença’ que nos traz autoconhecimento.
Fazer
terapia é fundamental para o ser humano construir sua própria segurança.
Uma razão
é que na vida atual vivemos em uma sociedade que opera de maneira fugaz, que nos impõe a
responder a todos estímulos de forma automática como se fosse a forma perfeita
e possível de se viver.
O
resultado dessa demanda é um convite a virarmos um produto a se comprar ou a se
vender, em detrimento do nosso próprio desejo – em detrimento da intimidade do
pensamento que é responsável pela sustentação da atenção. Desta forma, perdemos
a singularidade de cada individuo se conhecer na sua própria relação com a lentidão
e velocidade do tempo.
Cada
um é um modo de ser, mas quando vivemos na condição da vida veloz que não
permite a lentidão – que promove a velocidade do pensamento e apropriação de si
mesmo – o que imperará será a insegurança, pois nesta forma de viver sem o
tempo da auto-percepção, perdemos a possibilidade de ser humano.
Portanto,
uma boa maneira de se sentir mais seguro frente à vida é se dar o tempo de se
perceber como singular. Nos dias de hoje, a terapia é um recurso
fundamental para isso. Através dela, acessamos nossa história de vida, trazendo
autoconhecimento, e desconstrução das crenças de um passado que nos faz repetir
frente a novos estímulos. Estas crenças do passado nos impedem de apropriarmos hoje
dos nossos desejos, e nosso pensamento. Em seu limite, acessar nosso verdadeiro
desejo e pensamento nos leva a expandir imensamente nossa maneira de ser, para
além das coerções institucionais desse mundo.
A
autonomia garante maior força e coragem para encarar dificuldades?
Sim! Uma vez que a autonomia
alimenta a liberdade, e com coragem
desconstruímos um mundo hierárquico, ideal, podendo atribuir dignidade a
tudo que existe, a vida se enche de sentido. Assim, superamos nós mesmos,
frente às dificuldades que criamos e encontramos na vida.
A vida é viva quando podemos
ter a força da autonomia que convoca os desafios para nosso desenvolvimento – quando
tomamos consciência que no movimento da vida, entre altos e baixos, produzimos
potência que fomenta uma espécie de necessidade vital, na qual procuramos nos
diferenciar de nós mesmos.
Assim sendo, os encontros, os
afetos, as relações e o bem-estar nos animam a alma, nos dando capacidade de
construir o amor e a superação de nós mesmos com força de viver.
Nessa vida contemporânea
precisamos criar espaços para se implicar com
nossa singularidade, para assim poder lidar com o medo, e as
amarras, impostas pelo sistema todo que resulta das leis da nossa cultura.
O espaço terapêutico nos ajuda
muito constituir essa força que nos proporciona autonomia e liberdade.
*FABIANA BENETTI
-Aprimoramento em Analises do comportamento aplicado(ABA) United Response ,Londres,2001;
-Pós Graduada em Cross Cultural Psychology pela Brunel University em Londres, 2002;
-Atendimento em consultório particular em São Paulo-Tel/what´s 11 985363035.
-Atendimento em consultório particular em São Paulo-Tel/what´s 11 985363035.
-Membro do Departamento de Psicossomática do Instituto Sedes Sapientiae;e
-Agenciamento em Filosofia e Esquizoanálise com Peter Pál Pelbart e Luiz Fuganti.
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