Autora: Ana Santana(*)
No campo educacional, os alunos encontram diversas dificuldades no processo de ensino aprendizagem. Se veem diante de conflitos, problemas e obstáculos, que os deixam sem reação diante do conhecimento proposto. São apontados e rotulados com apelidos ofensivos e falta de estímulo pela família, professores, colegas e às vezes por ele mesmo. Para o ano letivo que se inicia refletir sobre o que são as dificuldades de aprendizagem e como devemos abordar na sala de aula e no ambiente familiar, pode ajudar a minimizar o sofrimento de várias crianças.
O termo dificuldade de
aprendizagem, se refere a discrepância no processo de aprendizagem entre o que
se presume que a criança seja capaz de aprender potencialmente, sob uma dada
situação em sala de aula, e o que ela consegue realizar de forma efetiva
(Hübner & Marinotti, 2002). A aprendizagem é um processo de construção do
conhecimento que ocorre na interação do indivíduo com seu meio, ou seja, a
família, a escola e a sociedade. As dificuldades que levam ao fracasso escolar,
podem ser decorrentes de uma combinação possível de fatores de ordem pessoal,
familiar, pedagógica e social, envolvendo a interação do indivíduo com seu meio,
inclusive com seus pais (Weiss, 1992).
É necessário que todos os envolvidos no processo educativo estejam atentos a essas dificuldades, observando se são passageiras, por determinados conteúdos ou assuntos, ou se persistem por um longo período de tempo.
As dificuldades demonstradas pelos alunos podem estar relacionadas a fatores orgânicos ou emocionais. Segundo POLITY (2001).
Embora dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente a outras condições desfavoráveis (retardo mental, séria desordem emocional, problemas sensórios - motores) ou influências externas (como diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada) elas não são o resultado dessas influências ou condições. A dificuldade de aprendizagem, quando de origem biológica, pode ser bastante definida e clara, nos levando a supor que a área emocional e o ambiente familiar não tiveram nenhuma participação no seu aparecimento e determinação. Boa parte dos problemas que esbarramos nesta área - lentidão de raciocínio falta de atenção, desinteresse, etc. encontram suas origens na biologia e, sobretudo na biologia exposta ao meio ambiente. (Polity, 2001, p.87).
Se forem cuidadosamente analisadas, pode-se avaliar se estão ligadas ao cansaço, distúrbios do sono, tristeza, agitação, desordem familiar, entre outros, considerados fatores que também comprometem o aprendizado.
Para os familiares é uma angústia constante não entender quais são e porque existem as dificuldades de aprendizagem, sendo que na maioria das vezes, os alunos não se sentem à vontade de conversar com os seus responsáveis sobre suas dificuldades, talvez por medo, vergonha ou pelo simples fato de não se sentirem acolhidos.
Percebe-se que alguns alunos, apesar de terem acesso às novas tecnologias e acessibilidade à informação, não conseguem assimilar e associar a informação informal com o conhecimento formal/escolar.
Mesmo considerando que nos últimos anos há maior acesso ao conhecimento, por meio de internet, televisão e outras redes de comunicação, lançadas pela mídia na sociedade, muitas famílias não conseguem orientar o sujeito nas pesquisas e atividades propostas pela escola. Porém, faz-se necessário que no ambiente familiar, assim como na escola, as atividades e pesquisas sejam mediadas para que haja assimilação do conteúdo. Cabe ressaltar que a realização das atividades como, por exemplo, o Para Casa, muitas vezes necessita de uma intervenção da família.
Quando as dificuldades são acentuadas é necessário procurar ajuda profissional de um psicopedagogo. A psicopedagogia é uma ciência que tem o sujeito como ser completo. Busca entender o ser humano em processo de construção do conhecimento. É uma área interdisciplinar que tem como objetivo a aprendizagem. O trabalho da psicopedagogia é desenvolvido de maneira clínica e institucional.
Por vezes, o sujeito é vítima de situações familiares conturbadas ou de escolas desestruturadas, em termos metodológicos, causando bloqueios e dificuldades de aprendizagem, manifestando-se no baixo rendimento escolar, falta de concentração, agitação, agressividade, entre outros, comportamentos esses que são refletidos em sala de aula, porém não compreendidos pelos professores, tampouco, pela família.
Conforme as pistas oferecidas pelo próprio sujeito, pela família e pela escola, o psicopedagogo investiga, levanta prévias hipóteses, levando em conta todos os aspectos: objetivos e subjetivos, observados nos âmbitos: familiar, pedagógico, cognitivo e social, e busca intervir, a fim de auxiliar a família, a escola e o sujeito.
Há também esforços para considerar os aspectos externos que influenciam na dificuldade de aprendizagem. Porém, é válido considerar que o aspecto principal nos processos de aprendizagem são as reações e os sintomas do sujeito que aprende. Para os processos que constituem a aprendizagem é relevante considerar as características deste sujeito, seus interesses e aptidões e também o meio onde são desenvolvidas as primeiras aprendizagens.
Isto posto, é relevante considerar a necessidade de acolhimento aos alunos que enfrentam dificuldades e também o tratamento sistemático e profissional. Necessário ainda tratar os sujeitos aprendentes como únicos; cada um tem sua história e seu modo de aprender, o que chamamos de modalidade de aprendizagem. A família e a escola precisam identificar onde estão as dificuldades e aptidões dos alunos para que possam entender porque acontece e buscar o tratamento adequado, buscando o bem estar e completude do processo de ensino aprendizagem.
BIBLIOGRAFIA
Hübner, M. M., &Marinotti, M. (2002). Crianças com dificuldades escolares. In E. F. M. Silvares (Org.), Estudos de caso em clínica comportamental infantil (vol. 2, pp. 259-304). Campinas, SP: Papirus;
Weiss, M. L. L. (1992). Psicopedagogia clínica: Uma visão diagnóstica. Porto Alegre: Artes Médicas; e
POLITY, E. (2001). Dificuldade de Aprendizagem e Família: construindo novas narrativas, São Paulo, Editora Vetor.
*ANA PAULA SANTANA
-Graduada em Pedagogia e Psicopedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais;
-Ministra formação de professores visando implantar estratégias para o ensino de jovens e adultos;e
-Integra a Associação Mineira de Psicopedagogia e compõe o quadro de pesquisadores do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos.
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