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sexta-feira, 29 de maio de 2020

O Cuidado Invisível em Tempos de Pandemia:Vai um Pouco de Empatia Aí?

Autora: Neusa Andrade(*)


Se o Brasil fosse uma pessoa, seria visto como um jovem descuidado que nasceu em berço de ouro, e faz parte da elite, mas vive na marginalidade.Seus pais são representantes da "elite rastaquera" que deram tudo pro garoto, menos educação. Já que empatia é uma qualidade que depende da qualidade do conhecimento e capacidade de se colocar no lugar do outro, esse "lindo garoto mimado", não cresce, prospera ou torna-se independente, e vive de paranoias numa "bolha".

O Covid-19 nos revelou bem a face nefasta da nossa sociedade,e que talvez o vírus não seja realmente o maior problema, mas o olhar distorcido de um país que está bem doente.Precisamos corrigir isso,começando por nós mesmos e observando como tratamos aqueles que estão à nossa volta.

A tese de doutorado em Psicologia de um pesquisador da USP levou o mesmo a vestir-se de gari uma vez por semana para vivenciar que ao colocar a roupa de gari ele se tornava um pária, e assim automaticamente invisível. Fernando Braga da Costa diz que "Essa invisibilidade é uma expressão construída historicamente a partir de dois fenômenos psicossociais: a humilhação social e a transformação em coisa".

Mas no Brasil, a falta de empatia e sensibilidade não termina aí. Apesar de mais de 25.000 mortes (27 de maio de 2020) existem ainda aqueles que duvidam e negam a pandemia, também existem aqueles que xingam enfermeiros, porteiros, garis, faxineiros, motoristas, sepultadores, etc.

Esses profissionais sempre foram desprezados e vitimas da falta de empatia e nesse tempo de pandemia alguns precisam mendigar por R$ 600,00, enquanto a "elite rastaquera" recebe bilhões para salvar bancos, gigantes do varejo e companhias aéreas.

Alguns de nós podemos realizar tarefas dentro de casa e de gente para varrer ruas, sepultar pessoas, coletar lixo e encher as gôndolas dos supermercados e além de professores, profissionais de saúde, etc, mas os professores também entraram nessa equação da falta de empatia há videos circulando nas Redes Sociais os chamando de preguiçosos e "vagabundos".

É bom lembrar que foram obrigados a montar uma "escola" na sala de sua casa, oferecendo um sistema de educação à distância com materiais criados em seu computador, com internet e luz pagas do próprio bolso, sem o devido reconhecimento de pais, escolas e alunos pelo seu esforço.

Nesse momento da história da humanidade, é importante frisar que são mesmo os profissionais de saúde que estão no epicentro da crise. Sobrecarregados muitos contraem a doença, ficam afastados das famílias e queridos e não voltam para casa, enfim estão em permanente ameaça e tensão.

Mas nessa classe de profissionais também existem os invisíveis. Uma reportagem recente mostrou que no Rio, em um hospital de campanha, quartos com ar-condicionado e camas foram preparados apenas para médicos, enfermeiras receberam apenas colchões no chão.

O descaso com a saúde no país sempre aconteceu, independente de governos de esquerda e direita. As demandas por melhores salários e condições de trabalho são as principais queixas. Falta tudo, desde Equipamentos de Proteção até pagamentos mais dignos. A reportagem do The Guardian mostra o exemplo do enfermeiro, de 26 anos em Boa Vista. Tcharlyson de Freitas Ribeiro precisa trabalhar meio período como motorista do Uber para sustentar filho e sua esposa que está grávida.

Como esses profissionais são os mais expostos ao vírus, e no Brasil a coisa sempre pode piorar, o levantamento do Conselho Internacional de Enfermeiras (ICN) mostra que mais enfermeiras já morreram no Brasil do que em qualquer outra parte do mundo, mesmo que países como os EUA, apresentem ainda mais mortes de pacientes e testem muito mais.

Rio de Janeiro e São Paulo lideram com mortes desses profissionais, mas tanto para o sistema de saúde, para a família e pacientes, eles não são apenas números. São histórias como da Maria Aparecida Duarte de 63 anos, que faleceu em 03 de Maio e Nicolares Curico, enfermeiro de 46 anos, que morreu em 14 de abril. 

A importância desses profissionais no cuidado da Saúde são vitais, a falta deles poderá acarretar um número ainda maior de mortes, pois a frente da operação de guerra é feita com esses combatentes e estamos perdendo muitos deles. Pelo menos é certo que do coveiro ninguém escapa que tal dar valor ao conhecimento verdadeiro e tratar melhor as pessoas enquanto estamos vivos?

FONTES:

https://www.theguardian.com/world/2020/may/27/brazil-coronavirus-nurses-deaths-cases

As vantagens de ser invisível de Stephen Chbosky, editora Rocco

*NEUSA ANDRADE

-Paulista da gema;
-CEO da Divisão GO.neCTING AGENCIA WEB;

-Doutoranda em Engenharia de Produção;
-Mestre em Administração de Empesas;
-MBA em Tecnologiapela POLI-USP e
Minhas ideias e ideais podem ser acompanhados no Twitter: @neusamandrade




Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

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