Autor:Michel Reis(*)
"Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?" – Trecho da música "Que País é este?", da banda Legião
Urbana.
Quando
Renato Russo escreveu a letra acima, lá nos anos 1978, lançando-a,
posteriormente, em 1987 com o Legião Urbana, sua crítica acertava o tom do
momento histórico em que se vivia. Sua composição, ainda no regime militar, e
seu lançamento durante o governo civil antes da promulgação da atual
constituição federal, que consta de 1988, acerta o tom com uma leitura que só
demonstra como o ciclo de descumprimento à constituição federal, ou de uma
interpretação míope e conveniente com atos absurdos e abusivos quanto a ordem e
a moral. O problema não é exatamente o momento em que a música fora composta ou
lançada, mas sim o fato de que continua sendo ecoada até os nossos dias e se
projeta, de forma quase profética, para o futuro.
Vivemos
num país que passou pela amarga realidade de Impeachment presidencial em dois
momentos: Fernando Collor de Melo, em 1992 e Dilma Vana Rousseff, em 2016. Nestes dois processos
vimos escancaradamente como a constituição não é a lei maior do país, mas
interesses e conchavos o são.
Nos
outros momentos da história do nosso país, pós 1988, percebemos claramente que
não existe uma lei que regente da ordem democrática e reguladora dos poderes
constituídos e das instituições nacionais.
Percebemos, nos últimos tempos, que
o poder Legislativo acaba tendo o poder executivo nas mãos podendo derrubar
vetos presidenciais ou simplesmente arquivar projetos deste por quaisquer
motivos que sejam, incluindo os "nada republicanos" sob a exigência da prática
da cultura de "troca de favores"; percebemos que o poder judiciário, que tem
ganhado destaque nos últimos tempos pelo protagonismo estranho que nosso
Supremo Tribunal Federal, nas pessoas de seus ministros, tem tomado pela
usurpação dos poderes legislativos e executivos, sendo ele mesmo a "vítima,
investigador e julgador" das ações populares e políticas. Isso demonstra como
àqueles que deveriam ser os guardiões da Constituição estão agindo de maneira
estranha e deixando claro que esta não serve para nada quando não se pode
torcê-la para interesses espúrios.
A
classe política muda-a com emendas que tornam-na um verdadeiro penduricalho e
cabides ideológicos e de atos criminosos, mostrando claramente que a mesma deve
ser seguida sob a ótica da conveniência, mas deve ser posta à parte sempre que
não se quiser obedecê-la. Eis ai o problema.
Quando
a constituição fora formada e promulgada, a ideia era abranger e proteger todos
os brasileiros, filhos desta pátria amada, como mãe gentil dos filhos deste
solo. Porém percebemos que, apesar dos discursos inflamados que sugerem
proteção aos seguimentos do povo, dividindo-os como minorias e tentando
promover, para tapeação, a ideia de inclusão social, ocorre o inverso
justamente pelo desconhecimento da grande parte da população desta tal Lei.
Maior
que rege a nação e pelo fato dos políticos distorcerem-na e com conluio ou
iniciativa, do próprio poder judiciário. Estes roubam, desviam, fraudam e se
corrompem para manter suas regalias sob o discurso de que lá estão para
garantir e promover os direitos básicos e constitucionais
da população que não tem moradia digna, não tem saneamento básico, acesso à
educação de qualidade e a comida. Isto tem ficado mais evidente com os
escândalos de desvios de recursos emergenciais em plena Pandemia do COVID-19 e
as incursões judiciárias não contra estes, mas contra quem pensa diferente de sua
filosofia e provoca inquietações contra suas condutas.
Mas
isso não é, lamentavelmente, apenas um problema nos poderes públicos, embora
estes devessem dar o bom exemplo. Diariamente somos bombardeados com
informações de que nossos pares, e me refiro a população, tem aproveitado este
momento para também praticar ou acentuar ainda mais outras práticas que agravam
os problemas e empurram a população mais fundo no buraco. E para estes também
não há lei, pois se espelham nos figurões do poder público e a estes recorrem
para apadrinhamento ou financiamento de defesas e fugas da mira da opinião
pública. Isto tudo por que não há uma lei maior, que esteja regendo a nação,
pois a que outrora deveria fazê-lo está constantemente sendo rasgada e
ignorada.
Em
Israel, segundo as tradições religiosas, no período anterior à monarquia quando
ainda eram “teocráticos” e conduzidos por "juízes", mas sem seguir a lei maior
que regia o estado de Israel naquele período, lê-se o seguinte na passagem
bíblica de Juízes 21.25: "Porque naquele tempo não havia rei em Israel e cada um
fazia o que bem lhe parecia".
Pois bem, embora não sejamos oficialmente uma monarquia há mais de um
século, cada qual faz o que quer, incluindo suas sujeiras e distorções da
verdade, por não haver uma lei que realmente esteja regendo os rumos e
comportamento, e da qual todos estejam submetidos. Não importa se é no centro
do poder político, no palácio da justiça ou nas periferias. Ninguém tem lei
maior, a sujeira se espalha e nos faz perguntar, em tom quase que incrédulo
diante do que vemos: "Que país é este?".
*MICHEL DOS SANTOS REIS
- Graduado no Curso de Pesquisa e Extensão sobre combate ao Bullying pela Universidade Estadual Sudoeste da Bahia;
Graduado no curso livre de "Política Contemporânea , da plataforma SABERES, oferecido pelo Instituto Legislativo Brasileiro(ILB), do Senado Federal ;
-Graduando em HISTÓRIA pela UNOPAR EAD;
e
-Palestrante e escritor amador
-Palestrante e escritor amador
Nota do Editor:
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