Autora: Valdirene Dias Ferreira (*)
Eu sempre tive uma ideia positiva a respeito do matrimônio. Como muitos diziam no meu tempo que casamento era instituição falida eu rebatia sempre com o argumento de que eu me sentiria frustrada e incompleta se não me casasse. É aquele negócio de Adão e Eva, Abelardo e Heloisa, Alexandre e Roxane e porque não Tarzan e Jane e O Cravo e a Rosa. São tantos outros casais reais ou fictícios, da história ou do cinema que não nos faltam inspiração para sonhar com as núpcias e o amor. Oh, o amor!
Fato é que as narrativas da vida de casais como os citados parecem nos projetar para o sonho do romance perfeito. Mas acontece que a gente tem cada surpresa! E não são aquelas do nosso consorte não. São coisas que a gente mesma inventa. Eu me casei bem jovem. Tinha apenas vinte anos de maturidade e ele trinta e cinco de incertezas quando fomos ao altar. Eu sempre me achei bonita e confiante e nunca me inquietou a ideia de ficar encalhada, e ser traída então, sem cogitação.
Eu jurava que jamais seriam os ciúmes a alavanca das minhas brigas de casal. Mas é curioso que quando as luzes se apagam e as cortinas se fecham a casa começa a cair. Se isso é regra ou exceção eu não ouso confirmar.
Eu não era uma garota ciumenta. E considerando aquela história da antropologia em que o homem precisa do “fogo” não me incomodava que meu parceiro fosse ao bar se distrair com os amigos. Tudo corria bem com as estruturas da casa até que um dia, numa viagem ao litoral no do Extremo Sul da Bahia, ele saiu para procurar o "fogo" e no dia seguinte eu percebi que o tapete do carro estava fora do lugar. Aquilo fez acender aquela lanterna que, não incomum, toda mulher tem dentro de si. Daquele ponto passei a investigar o infiel. Nunca mais o infeliz teve paz para se sentar em frente a fogueira, sem a minha supervisão.
Numa tarde, sem ter o que fazer, iniciei uma obstinada investigação dentro dos seus particulares. Comecei daquela caixinha na qual os homens guardam os seus pertences mais individuais. E foi aí que encontrei a possível prova do delito. Era um filme de uma foto antiga, que colocado na mira da minha implacável lanterna, dava para ver, precariamente, a silhueta de um lindo corpo feminino. Naquele vulto de nádegas avantajadas e de biquíni minúsculo deitada na areia da praia vislumbrei o algoz do fim do meu casamento.
Na loucura de um coração golpeado, solicito a revelação da foto para desmascarar o traiçoeiro.
Dia depois, já de posse da irrefutável prova, idealizei a avassaladora vingança. Em minhas trêmulas mãos, o envelope contendo o objeto do crime, me aproximo do quarto para dar cabo ao meu desgosto. Ele abre o envelope, que conservei lacrado, sem nada compreender. Olha fixamente na foto e me diz o quanto eu estou sensual e que a foto merecia fina moldura. Fechei os olhos e fui para a sala chorar a minha desonra.
VALDIRENE DIAS FERREIRA
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-Graduada em Letras pela FENORD - Fundação Educacional Nordeste Mineiro- Teófilo Otoni - MG;
- Especialista em Educação Básica pela FIJ - Faculdades Integradas de Jacarepaguá - Rio de Janeiro. - Supervisora Pedagógica
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Maravilhoso! 😂👏👏👏👏
ResponderExcluirQue texto excelente Val!!!
ResponderExcluirParabéns minha poetisa! Lindo.
ResponderExcluirParabéns minha poetisa! Lindo.
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