Ouço com tristeza mais uma amiga idosa
me contar que não sai de casa ainda. Durante horas ao celular ela desabafa
sobre seus temores em ver pessoas na rua, sem usar máscaras, temendo pela vida
deles e pela sua. Ela fala que vê, pela televisão, pessoas em bailes, festas,
igrejas, na praia. Acusa-as de insensatas, de suicidas, de quererem o mal para
todos.
Ela conta que já está há mais de dois anos entrevada em seu apartamento, sem contato pessoal que ultrapasse as discussões com vizinhos. Sua sanidade se esvaiu ao longo do tempo. Sequer a limpeza de sua casa é feita, pois vê risco na presença de qualquer pessoa, mesmo que necessária para a faxina da casa. Parte mínima de seus temores têm fundamento, porém, o restante são exageros próprios do afastamento do convívio social a que ela própria se entregou.
Pessoas como ela, estão protegidas da Covid pelo isolamento social, mas são atingidas por outro mal. Elas são açoitadas pelo pânico e pela solidão. Limitadas no uso da tecnologia, o acesso dessas pessoas a produtos de uso diário ficou ainda mais limitado, pois estão disponíveis apenas para entrega por aplicativos de celular.
Mas essa minha amiga é apenas mais uma das pessoas que me dirige suas preocupações. Elas estão condenadas a ficar distantes dos filhos, dos netos, dos sobrinhos, que podem apenas olhar pela tela do celular. Isso considerando que nem todos idosos usam celular. Pessoas como ela sofrem ainda mais pela falta de contato, do colo, do calor da pele contra pele.
Mais afetadas pelo distanciamento e pela fragilidade física e psicológica, pela dependência de do convívio físico com outras pessoas, os idosos estão distantes da fiscalização diligente dos órgãos da imprensa.
Outro grupo igualmente atingido é o dos estudantes. Dirigentes de escolas de ensino fundamental e médio, explicam que são agora obrigados a manter, em busca de uma normalização das aulas agora presenciais, equipes de psicólogos voltadas a readaptação dos jovens. Os alunos encontram-se dispersos, revoltados, insociáveis. Esses jovens com necessidade de readaptação, atingem 30% dos alunos em grande parte das escolas que localizam esse problema e buscam atender às necessidades de seus alunos.
Não é para menos. Esses jovens estiveram por quase dois anos dividindo espaços apenas nas telas dos monitores, em jogos, em conversas, em aulas. Levemos em conta também aqueles que somente tardiamente entram em contato com outras crianças, porque nasceram no curso da pandemia.
O convívio social não é apenas necessário pela proximidade física com outros jovens. Na verdade, o distanciamento físico das famílias é, para o jovem, um momento de relaxamento, em que podem disfrutar saudavelmente de valores próprios da juventude, sem a interferência dos familiares.
Forçadas a conviverem permanentemente ao longo desses anos, dividindo o espaço físico apenas entre si, muitas famílias enfrentaram suas realidades, muitas vezes com aumento de tensão com a menor interação pessoal, limitada apenas aos familiares.
O aumento da tensão familiar foi de tal proporção que estudos mostram um aumento de 24% no número de divórcios somente no 1º semestre do ano de 2021.
O homem é um animal gregário. A realidade constatada e estudada há anos por filósofos como Rosseau, Lock e Hobbs foi posta a prova e venceu. Os danos econômicos causados pela pandemia foram profundos, mas os efeitos emocionais causados pelo afastamento social demonstram que a vida social não pode ser posta de lado.
Podemos trabalhar isoladamente, em casa, auferir nosso sustento no home office, realizar reuniões on line.
Porém, pela experiência que passamos no período de isolamento social, ficou bastante claro que o ser humano não irá substituir a interação social por uma tela de monitor sem sofrer consequências graves em sua saúde emocional.
*ALCEU ALBREGARD JUNIOR
A pandemia nos trouxe reflexões sobre o convívio isolado, nunca antes tivemos no Brasil esse nível. O stress social foi imenso e ainda se alastra. Imaginem aqueles povos como sírios , libaneses, e o agora povo ucraniano isolados pela pandemia egocêntrica de líderes insensatos...
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