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sábado, 2 de julho de 2022

Educação para quê?


 Maria Cristina Marcelino Bento (*) 


Para que Educação? Para que educação em tempo de guerra, um quase pós - pandemia causada pelo Corona vírus-19, momento em que a realidade virtual e aumentada se expande, aumento da quantidade robôs realizando as tarefas cotidianas entre outras tarefas... Para que Educação? Educar para quê?

Mas o que é educação? Vejamos...

Iniciemos pelo sentido etimológico da palavra - Do latim educare, educere, que significa literalmente "conduzir para fora" ou "direcionar para fora". Segundo o dicionário Etimológico o termo latino educare é composto pela união do prefixo ex, que significa "fora", e ducere, que quer dizer "conduzir" ou "levar". O significado do termo (direcionar para fora) era empregado no sentido de preparar as pessoas para o mundo e viver em sociedade, ou seja, conduzi-las para fora” de si mesmas, mostrando as diferenças que existem no mundo.

Está registrado na Constituição Federal Brasileira, art.205º que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Segundo a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no seu art. 1º
a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
No artigo 53º do Estatuto da Criança e do Adolescente encontramos:
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.

Podemos afirmar, a partir do exposto acima, que o processo de educação tem como objetivo formar/preparar/instrumentalizar o ser humano para conviver e trabalhar.  Este... é o perfil de seres humanos pretendidos para a sociedade... Mas, como se define ser humano?

Oliveira (2013) "O ser humano, como unidade anímico-corpórea, é uma realidade material que transcende sua materialidade; ele é uma realidade espaço temporal que supera esse espaço temporalidade; é um sujeito mortal que ultrapassa a morte".

Santos Neto (2013) apoiado na cartografia grofiana deixou-nos o legado de que "é possível considerar a espiritualidade do ser humano e também a sua dimensão ecológica, que o liga ao mundo da natureza." Examinemos a citação a seguir do mesmo autor:

Esta maneira de compreender o ser humano implica numa concepção de educação, que chamo aqui de transpessoal. Educação Transpessoal, portanto, é aquela que se empenha, direta e intencionalmente, para educar o homem na e para a inteireza mediante a transmissão/construção -crítica, criativa e interdisciplinar dos conteúdos culturais necessários à manutenção e desenvolvimento da vida, e, também, mediante o trabalho de autoconhecimento que possibilita religar as dimensões da pessoa: o corporal, o emocional, oracional, o espiritual, o natural e o histórico-cultural. Chamo-a de transpessoal porque ela, como o nome sugere, vai além do ego pessoal e racional, embora não o despreze. (SANTOS NETO, 2013, p.23)
Eis a questão: como os responsáveis pela redação dos documentos acima citados, neste texto, compreendem o ser humano? Do mesmo modo, a indagação é valida os leitores e usuários destes documentos.

Há necessidade em ampliar o debate sobre nossa identidade, sobre autoconhecimento para a melhoria do viver, agir, interagir com o outro, e com as coisas.

Outra pergunta, como formar ou orientar os educadores, sob esta perspectiva? Educadores aqui deve ser compreendido como o responsável legal pelo menor de idade, toda a equipe escolar e todo ser humano. Afinal, educamos pelos nossos gestos, jeito de ser e não apenas pelas palavras.

Será a educação transpessoal um dos caminhos para a formação do ser humano neste século XXI, será o fundamento da educação 4.0 ou educação Nº alguma coisa, aliada a revolução industrial? O que pode promover a educação transpessoal?

o desenvolvimento integral do ser, a partir do momento que emprega as experiências transpessoais como meio de explorar e integrar as múltiplas dimensões do ser. Isso possibilita ilimitadas formas de aprendizado e harmonia consigo, com os semelhantes e com os demais seres que integram o ecossistema vida. Nessa configuração a educação transpessoal é uma abertura para repensar a prática educacional, cujo objetivo é agregar para o educando apoio no que se refere a: inteireza de si mesmo, compreensão da integralidade da realidade; construção individual e coletiva de aspectos culturais; formar pessoas numa perspectiva multidimensional e integral (SANTOS NETO, 2013, p. 30).

Sendo assim, teríamos o objetivo claro ao ato de educar, o gerador deste texto. Todavia, a quem interessa seres humanos formados pela perspectiva multidimensional e integral? Ou como dito por Freire, a quem interessa essa boniteza?

A todos aqueles que insatisfeitos com a compreensão estreita do ser humano e do mundo, percebem a pessoa em seu pulsar de corpo, razão, emoção e espírito. E assim percebendo-a desejam trabalhar com sua inteireza. Não importa, na verdade, o nome que se dê a esta forma de compreender a educação. Importa que seja um trabalho feito na/para inteireza, na direção da construção da vida com sentido, beleza, justiça e alegria. (SANTOS NETO, 2013, p. 35).
Creio que ainda há tempo, muito tempo para seguirmos semeando práticas educativas efetivas à uma educação "na direção da construção da vida com sentido, beleza, justiça e alegria". Sejamos teimosos, resistentes no cuidado e formação do ser humano.

Acredito que o mundo poderá ficar mais leve, mais bonito, justo com pessoas menos preocupadas em apontar erros. Pessoas capazes de ajudar na superação de mazelas.

Não estamos sozinhos nesta caminhada, há pedagogias que convergem com este diálogo, pesquisadores registrando os feitos, terapeutas em exercícios, profissionais da religião em ofício.

O ato de educar em construção, inovação, em processo...

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf Acesso em: 28 abr 2022;

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 1 mai 2022;

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266. Acesso em: 1 mai 2022;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011;

OLIVEIRA, R. A. DE. A relação entre o corpo e a alma do ser humano na teologia cristã: uma aproximação histórica e contemporânea. (The relation between body and soul of human being in Christian Theology: A historical and contemporary approach). HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 11, n. 31, p. 1081-1105, 26 set. 2013;

SANTOS NETO, E. A espiritualidade, educação e formação de educadores: uma abordagem transpessoal voltada ao desenvolvimento da inteireza. Revista INTERESP nº3, 2013, p. 13-372013. 
Disponível 
https://revistas.pucsp.br/index.php/interespe/issue/view/1136 Acesso: 2 mai 2022.

*MARIA CRISTINA MARCELINO  BENTO
















-Graduada em Pedagogia pela UNISAL (1989) ; 

- Mestre em Educação pela UMESP-SBC (2008); 

-Doutora em Tecnologias da Inteligência e Designer Digital pela PUC/SP (2016); -  

-Atualmente é :

-Professora titular no UNIFATEA nos cursos de graduação e pós-graduação;

 Coordenadora Pedagógica no Núcleo de educação a distância no UNIFATEA e

 - Professora Coordenadora do Curso de Pedagogia – modalidade EAD na mesma instituição.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

5 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=5KF15GgaJ4g&t=1s&ab_channel=BrasilParalelo

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    1. Estimado Sérgio. Necessitamos com urgência considerar o ser a ser educado. Não educamos um corpo simplesmente, educamos um Ser Humano que está para além de corpo. Isso exige mudança radical nos processos de ensino. Educadores em espaço escolar e não escolar precisam termino bem claro. Para a partir desta premissa definir o educar.

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  2. O vídeo demonstra a questão. https://www.youtube.com/watch?v=5KF15GgaJ4g&t=1s&ab_channel=BrasilParalelo

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  3. Como não lembrar dos questionamentos das aulas de minha querida e eterna orientadora? De onde viemos? Para onde vamos?... quem somos? em que acreditamos? Se um educador não for teimoso o suficiente para acreditar no poder da educação, jamais passará de um licenciado. Parafraseando Freire, a Educação não muda o mundo... muda pessoas, que mudam o mundo, e é nisso que precisamos apostar a cada dia. Parabéns, professora, por refletir sempre com docentes sobre nosso papel e porquê a educação precisa "resistir".... forte abraço!

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    1. Gratidão pela referência, devagar vamos reconstruindo o tecido da vida. abraço

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