Autor: Luiz Eduardo Lima(*)
INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos, temos visto que a educação tem se deteriorado numa velocidade crescente e mesmo com a gritaria contrária de alguns profissionais que atuam na área, entre os quais eu tenho que me incluir, nada tem acontecido que pareça efetivamente querer mudar essa triste situação. Deste modo, o país segue batendo recordes de piores índices educacionais no mundo. Todavia, muito pior do que os recordes negativos é a certeza de eles são verdadeiros e que estamos caminhando contra os interesses da humanidade, porque estamos progressivamente regredindo a qualidade educacional de nossa gente.
Dito isso, quero ainda me manifestar sobre o fato de que essa verdade infeliz é muito mais desagradável do que possa parecer, pois não se trata apenas de não melhorar a educação, mas sim de progressivamente piorar nossa triste realidade educacional com a anuência de toda sociedade. A escola brasileira tem regredido a passos largos e isso não é um problema apenas governamental, pois a maior parte da sociedade também aparenta estar satisfeita com a situação, haja vista que poucos reclamam do continuo “status quo” de decadência da educação. Ou, se não está satisfeita, a sociedade também não se sente incomodada, porque existe um silencio coletivo e preocupante, além de uma indiferença quase unanime sobre esse assunto.
Desta maneira, como quase ninguém se manifesta verdadeira e efetivamente contra esse descalabro e os poucos que reclamam acabam não sendo ouvidos, porque não há vontade política e nem envolvimento para que as coisas possam fluir melhor, a situação segue cada vez pior. Aqui no Brasil, tristemente a educação ainda é considerada como uma coisa pouco ou nada importante, perto de outras questões. Ser educado ainda é um diletantismo para a grande maioria da população. Essa é uma verdade histórica e lamentável de nosso país, que necessita ser mudada no interesse nacional.
Além dessa terrível constatação, nós temos criado alguns mecanismos que, se já não são bons, onde poderiam até ser úteis, acabam sendo bem piores, onde são efetivamente inúteis, porque gasta-se grande quantidade de dinheiro, perde-se tempo e muito trabalho para nada. O resultado é aquele que já conhecemos, meninos e meninas saindo do Ensino Fundamental não alfabetizados, rapazes e moças saindo do Ensino Médio sem noção de nada, ingressando nas Instituições de Ensino Superior sem nenhuma condição e saindo dessas instituições muitas vezes sem saber o que fazer com o "canudo" que lhes foi entregue, geralmente sem nenhum merecimento.
Meus amigos, essa situação é muito grave e nós sabemos que um país que quer ser vanguarda no cenário mundial, tem que ter a educação como sendo a principal via de transformação de sua sociedade. Depois de mais de 520 anos de história, já deveríamos estar cientes de que a educação é a característica mais importante de qualquer sociedade, que todas as demais questões são secundárias e que a resolução de qualquer problema social dependerá sempre do estágio de desenvolvimento da educação. Entretanto, ainda estamos longe de entender e muito menos de alcançar essa verdade. Infelizmente, como já foi dito, ainda há quem pense que educação seja um luxo, um simples diletantismo, que o povo brasileiro não precisa ter. O pior é que existem muitos políticos e administradores públicos que trabalham no sentido de reforçar esse absurdo.
Pois então, baseado nesses aspectos é que eu, mais uma vez, estou me atrevendo a "colocar o dedo na ferida" e novamente estou chamando a atenção da sociedade sobre a realidade educacional brasileira, sobre a necessidade premente de ações que propiciem mudanças do “status quo” e que possam gerar uma melhoria progressiva de nossa educação. Tomara que alguém me ouça e faça coro comigo nesta luta. Para orientar meu trabalho, vou me ater a quatro premissas que acredito sejam fundamentais para mudar a realidade educacional do Brasil.
Devo deixar claro que essas premissas são opiniões pessoais minhas e resultam apenas e tão somente de minha vivência e minhas observações ao longo de toda minha vida estudantil e de quase 50 anos de exercício do magistério. Talvez, as opiniões aqui emitidas possam não condizer absoluta e totalmente com as reais necessidades educacionais do país, mas tenho certeza de que essas opiniões estão muito próximas ao ideal que se precisa ter para o verdadeiro crescimento moral e intelectual da população brasileira.
AS QUATRO PREMISSAS
1 - Qualquer mecanismo que leve a possibilidade de aprendizagem sem entendimento não é educação, é um simples adestramento ou, quando muito, é um treinamento passivo que cria monstros humanos, fantoches manipulados, a serviço do interesse de algo, uma ideia por exemplo ou mesmo de alguém, outro ser humano, que muitas vezes é maldoso e infeliz. Há necessidade de acabar com esse modelo;
2 – É necessário combater essa maneira de “ensinamento” que existe no Brasil e que faz das pessoas (seres humanos), meros autômatos, que se satisfazem com uma simples instrução e com a possibilidade de repetir as ações consideradas. Considera-se que o intelecto do cidadão brasileiro não precisa existir, haja vista que ele tem apenas que repetir algumas tarefas para sobreviver. Certamente o ser humano tem que ser muito mais que isso;
3 –O ser humano tem que ser capaz de pensar e agir de acordo com suas próprias possibilidades, intenções e interesses, porque é isso que o torna efetivamente humano e o brasileiro não pode ser diferente dos demais seres humanos. Entretanto parece que há um conluio nessa direção retrógada, que visa manter a inferioridade do cidadão brasileiro em relação ao restante do mundo. A sociedade precisa reagir; e
4 - Pensar (refletir sobre), discernir (escolher a opção) e concluir (definir a ação) são atitudes fundamentais que permitem a principal característica do ser humano que é a liberdade de intenção e de ação. Enquanto o conhecimento avança rapidamente no mundo inteiro, aqui no Brasil ainda continuamos caminhando lentamente com passos de tartaruga ou mesmo para trás como caranguejo. É preciso caminhar para frente.
OS ARGUMENTOS ESSENCIAIS
Além dessas quatro premissas, eu ainda quero me basear, no que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecida em 10 de dezembro de 1948, diz, em seu artigo primeiro: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade". Pois então, eu acredito que a educação plena da coletividade faz parte desse espírito de fraternidade que deve existir entre todos os seres humanos.
O livre arbítrio, a escolha pela própria vontade, talvez seja a principal característica que permite separar o homem dos demais animais e, deste modo, consiste na única maneira de garantir que o homem assuma integralmente a sua humanidade e o seu direito verdadeiro de liberdade. O conhecimento e a cultura acumulados e passados ao longo do tempo são os fatores que determinam a influência e o grau de importância do livre arbítrio para a humanidade. Um indivíduo carente de educação é um ser humano incompleto e não possui condições mínimas efetivas para exercer o seu livre arbítrio.
Pois então, enquanto a escola como instituição libertadora e a educação como meio de aglutinação humana não puderem trabalhar prioritária e coletivamente no sentido de garantir que o homem assuma sua humanidade plenamente, sempre estará faltando algo. Quer dizer, enquanto a educação não for a meta para o engrandecimento da pessoa humana, não haverá livre arbítrio e consequentemente, não haverá fraternidade humana. Por outro lado, enquanto a escola não se manifestar como entidade totalmente imparcial e livre para aquisição de conhecimento e de cultura, ela não estará sendo uma escola verdadeira, mas sim um arremedo de entidade educacional, ou, quando muito, um teatro de marionetes mal elaboradas.
Historicamente, a escola brasileira pode ser traduzida exatamente da maneira acima citada, porque não tem educado e nem formado pessoas, quando muito tem treinado alguns indivíduos no desenvolvimento de algumas práticas, muitas delas totalmente deficientes e ultrapassadas. Deste modo, se quisermos realmente crescer como nação, há uma necessidade premente de construirmos um novo modelo de educação e de mudarmos a escola fazendo sua adaptação a esse novo modelo.
Não adianta ficar aqui comparando o Brasil com outros lugares e muito menos copiando esses outros lugares. Nosso contexto é diferente e muito provavelmente nenhum modelo de sucesso se enquadre no nosso país, porque nossa realidade é outra e as nossas necessidades também devem ser. Os números só servem para nos mostrar que estamos mal, qualquer outra projeção certamente é inverídica ou, pelo menos, inexata sobre nossa realidade.
Nosso novo modelo tem que ser efetivamente um modelo novo, total e exclusivamente pensado e adaptado aos interesses do Brasil e do povo brasileiro, com toda sua diversidade natural, social e cultural. Modelos exóticos, por mais que tenham dado certo em seus países de origem, certamente não serão adequados à realidade brasileira. Deste modo, eles não funcionaram devidamente e obviamente não darão certo.
AS AÇÕES DOS ATORES PRINCIPAIS
Recado aos Professores
Senhores professores, por favor, fiquem bem atentos a essas condições primordiais nas suas respectivas escolas e cuidem para que aqueles alunos que foram confiados a vocês, aprendam no sentido lato do termo aprender, ou seja, no verdadeiro sentido de demonstrar suas respectivas humanidades, como cidadãos éticos, cônscios e sobretudo, livres. Se as escolas em que vocês atuam não condizem com a realidade que se quer e se precisa ter, cumpram suas funções de educadores e denunciem. Por favor, não sejam cúmplices desse crime contra a sociedade brasileira.
A capacidade de buscar o aprendizado e consequentemente de aprender, também é um atributo peculiar, quase exclusivo do ser humano. Por isso mesmo, o aprendizado, além de estimulado pela escola, deve ser amplo e gerador de possibilidades coletivamente desafiadoras e individualmente diversas para quem o recebe. A escola que não intriga, não desafia, não permite a competitividade e que não interpela, nem questiona o mundo aos seus alunos, acaba desestimulando a aprendizagem e fugindo ao seu propósito como instituição social.
Estimular e provocar no aluno a vontade de aprender, talvez sejam atitudes mais importantes ao aprendiz do que simplesmente ensiná-lo a fazer qualquer coisa. Cabe lembrar que o professor é o ser humano que na escola passa a ser o principal responsável pela formação do aluno. Ou seja, é o professor o sujeito que faz a diferença para que seu aluno cresça como ser humano.
Outra questão importante, que está preconizada nas normas educacionais, mas que poucos consideram nas escolas, é a necessidade de contextualização. Converse e discuta com seus alunos sobre problemas e situações que faça algum sentido para eles, isto é, que sejam reais aos sentidos deles. Não adianta você criar exemplos mirabolantes ou longínquos, apresente situações verdadeiras e de preferência, que seus alunos possam viver (sentir e experimentar).
Nós, professores, pecamos muito no processo educacional brasileiro, exatamente porque estamos quase sempre alheios à realidade da maioria dos alunos. Geralmente falamos sobre um mundo, uma realidade, que os alunos não conhecem. O mundo do professor e do aluno precisa ser o mesmo. É preciso acabar com existe esse hiato social que muitas vezes existe entre as duas partes e o professor tem que ser o principal agente provocador dessa ação.
É preciso estar atento ao fato de que o Brasil é um país imenso com uma diversidade fantástica. O que é verdade para um estado brasileiro, muitas vezes só serve como verdade para aquele estado. Muitas vezes o professor trabalha com um livro que foi desenvolvido em outro estado ou região, diferente de onde trabalha e, o que é pior, o professor não sabe criar uma situação similar para aquele lugar. E aí, como contextualizar? Ou o professor mente, ou inventa uma história próxima, ou temos que ter professores regionais (locais) nesse país, para que se possa contar histórias verdadeiras e para que possa existir contextualização. Pense nisso, na próxima vez que for ministrar uma aula.
Eu vou me atrever um pouco mais nessa questão da contextualização e vou discutir alguns exemplos. Bem, talvez os professores de Matemática, de Física e de Química sejam os únicos que poderão dar a mesma aula em qualquer situação ou lugar, mas o de Química ainda terá problemas. Entretanto, os professores de todas as outras disciplinas não podem. Imagine o professor de Biologia, Geografia, História, ou mesmo de Português que nasceu, cresceu, se formou e trabalhou até os 35 anos no litoral Sul do Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Grande, por exemplo, e agora terá que ir a ministrar aulas em Manaus, em Teresina ou em Goiânia. Será que ele estará automaticamente preparado para contextualizar suas aulas?
Pois então, esse é o maior problema do Brasil: o país é grande e pensa como pequeno. Se a Finlândia tem a melhor educação do mundo, por outro lado tem um território pequeno, homogêneo, com uma população pequena (certamente menor que qualquer estado brasileiro) e economicamente equilibrado. Num país desses, ter uma boa educação é uma contingência natural, desde que haja vontade de todos. Mas aqui, no Brasil, a realidade é bem outra e fica difícil falar para que todos possam entender. Para aqueles que quiserem conhecer um pouco mais sobre essa questão da contextualização, sugiro a leitura do artigo, que publiquei em meu "site" (LIMA,2018).
Recado aos Alunos
Senhores alunos, é preciso que vocês queiram aprender sempre mais. Não se satisfaçam, não queiram apenas ser capaz de fazer alguma coisa, busquem sempre ir mais além. Procurem saber o que e como fazer as coisas, mas saibam principalmente porque e para que fazer tais coisas. Somente os porquês e suas justificativas dão significado ao conhecimento e somente os porquês se justificam como forma de pensar e de agir.
Na verdade, vocês só conhecem de fato alguma coisa, quando são capazes de conversar livre e independentemente sobre essa coisa, ou seja, quando vocês têm efetiva condição de discutir e emitir opiniões sobre determinados assuntos. E acreditem, essa condição de emitir opinião própria, só é possível para os gênios ou para aqueles que questionam e querem saber os porquês das coisas. Se você não é um gênio, então trate de questionar as situações e as coisas, sejam elas quais forem.
O aluno tem que ser ativo para crescer intelectualmente, pois a passividade não agrega valor ao aprendizado. É preciso buscar sempre mais conhecimento. Assim, nunca se apeguem à prática comum de ser e fazer o mínimo necessário, procurem saber sempre mais, tentando ir além das expectativas. Sejam curiosos, porque foi exatamente a curiosidade do ser humano, que permitiu a humanidade chegar aonde chegou.
Comecem, desde já, a questionar tudo aquilo que já vem pronto na escola, porque a escola existe para construir e demonstrar que nada está totalmente pronto ou acabado. Procurem se lembrar que: "quem pergunta, quer saber" e que fazer perguntas é mais difícil do que dar respostas. As perguntas incomodam porque muitas vezes ninguém quer ou ninguém sabe dar as devidas respostas.
Quem faz perguntas é alguém que quer sanar uma ou mais dúvidas. Assumam o fato de que, a dúvida talvez seja o maior mecanismo de informação que existe, pois, quanto maior for o número de dúvidas, maior será o número de perguntas e maior também será o número de respostas. Ou seja, a busca da informação traz sempre mais informação. Usem e abusem dos seus respectivos "desconfiômetros" e não aceitem, a priori, qualquer informação que lhes sejam outorgadas como verdadeira, principalmente aquelas que não condizem com a pertinência do assunto em discussão.
Agindo assim, a vida certamente lhes mostrará que a cada novo conceito, surgirão novas dúvidas, outras ideias e inúmeras possibilidades, sempre mais diversas que as anteriores. Vocês contemplarão que o exercício de questionar e de pensar leva progressivamente à necessidade de pensar e de aprender cada vez mais. Na verdade, o aprendizado é uma imensa "bola de neve" que está sempre crescendo ao longo de nossas vidas ou como um "buraco", que sempre aumenta, quando se tira algo dele.
Procurem sempre se utilizar das suas respectivas capacidades de raciocínio em prol do engrandecimento de vocês mesmos, de seus afins e de suas comunidades próximas. Exijam que seus professores lhes desafiem sempre mais, propondo novas questões, progressivamente mais complexas. Embora essa situação pareça ser e, de fato seja mesmo, mais difícil e trabalhosa, o resultado também será bem melhor para vocês, porque lhe trará mais cultura e enriquecerá a sua capacidade intelectual.
Também é bom que vocês tenham sempre em mente que, ainda que os erros possam aumentar com essa prática cotidiana, não haverá problemas graves a partir deles, porque a escola é local certo dos erros acontecerem. Além disso, cabe ressaltar que a escola é o local onde os erros devem acontecer e onde devem ser corrigidos, para que não venham acontecer fora dela, ou seja, nas ações efetivas da vida. Quem erra e é corrigido na escola, tem menos chance de errar na vida.
Por outro lado, se o número de erros aumentar nas suas tarefas escolares, com certeza os êxitos também deverão ser progressivamente maiores e muito mais compensadores, o que levará vocês mais próximos do nirvana e certamente os afastará cada vez mais da mediocridade do mundo. Acreditem, vocês vão se sentir muito melhores e superiores, porque o conhecimento faz exatamente isso. O conhecimento nos torna seres humanos melhores, mais seguros, eficientes e corajosos.
Contudo, tomem bastante cuidado com o exibicionismo e o orgulho exacerbado, sejam humildes e continuem crescendo individualmente, mas sempre respeitando as demais pessoas. Não deixem suas respectivas condições de maior conhecimento subir pelas suas cabeças mais do que deve. É de bom alvitre nunca esquecer que você é um ser humano como qualquer outro e que a humildade é prima irmã da razão e da coerência.
Depois que vocês se sentirem no nirvana, procurem juntar todo o conhecimento que adquiriram e identifiquem o seu verdadeiro cabedal. Como já disse, sejam humildes e isso lhes dará sabedoria suficiente para viver e serem felizes. É óbvio que sempre haverá momentos melhores e momentos piores, mas isso é consequência da própria vida. A sabedoria que cada um de vocês acumulou deverá ser suficiente para mostrar os melhores caminhos em qualquer situação. Reflitam sempre e suas respectivas liberdades individuais serão suas melhores conselheiras.
OUTROS COMENTÁRIOS PERTINENTES
Meus amigos, professores e alunos, certamente vocês já ouviram a seguinte expressão: " educação liberta". Entretanto, é preciso investir nesse propósito e ter vontade efetiva de se sentir realmente livre. Essa libertação só é possível quando o processo educacional de ensino e aprendizagem é feito de maneira integral. Isto é, quando há participação real, efetiva e conjunta do educando e do educador na tarefa de promover a emancipação humana através do conhecimento, enriquecendo cada ser humano individualmente e a humanidade coletivamente. Se não existe aplicação e questionamento quanto ao saber, não existe educação e não se caminha para a liberdade efetiva da humanidade.
Assim, não fiquem esperando suas possibilidades caírem do céu, porque isso dificilmente irá acontecer. Corram atrás de novas realidades e procurem agir como seres humanos em toda a amplitude dessa expressão. Não se esqueçam que conhecimento nunca é demais e que ele é capaz de transformar o ser humano para melhor. Mas, é preciso querer que essa melhora aconteça.
Outra questão bastante importante é que o conhecimento necessita ser sempre aprimorado, porque as coisas mudam e, mesmo quando não mudam, muitas vezes o entendimento sobre elas muda também. Uma peculiaridade do conhecimento é o seu caráter crescente, isto é, o conhecimento está sempre gerando conhecimento, tanto sobre coisas e questões novas, como sobre verdades que já haviam se estabelecido, mas que sofreram adequações e novas visões.
Além de ser aprimorado, o conhecimento também precisa ser sempre repassado, porque ele não pode ser exclusividade de nenhum indivíduo, ele pertence a toda humanidade. É preciso ter ciência e consciência desse fato. O descobridor é o "pai" de sua descoberta, mas a humanidade é a sua herdeira e verdadeira “proprietária” da mesma e como tal necessita ser informada e atualizada sobre seu patrimônio. A informação sobre o conhecimento humano em qualquer área do saber tem que ser pública, não pode existir nenhum tipo de controle sobre o conhecimento.
Eu particularmente, nos últimos 20 anos, tenho dedicado grande parte de meu tempo à tarefa de socializar e divulgar o conhecimento daquilo que conheço para a humanidade. Obviamente ninguém é capaz de, sozinho, atingir toda a humanidade, mas todos podem falar de suas experiências com a comunidade que está próxima. Se todos que puderem, investirem tempo e trabalho nesse aspecto, a humanidade toda será mais bem informada.
Qualquer novo conhecimento necessita ser divulgado e repartido, porque somente assim ele se universaliza, faz sentido e passa a ser um atributo patrimonial maior para toda humanidade. Quanto mais seres humanos souberem de mais coisas, maior será o grau efetivo de liberdade da humanidade. A História tem nos mostrado que em vários momentos houve a privação das liberdades humanas por vários indivíduos déspotas e dominadores.
Esses momentos só aconteceram exatamente porque os sujeitos dominadores guardavam o conhecimento apenas para si e alguns de seus seguidores. De maneira nenhuma, os dominadores repartiam o conhecimento que a humanidade possuía em suas épocas com os demais seres humanos. Eles assumiam todo o conhecimento como condição exclusiva deles, simplesmente porque isso lhes garantia a superioridade sobre os demais seres humanos. Hoje ainda há quem pense assim, por isso é fundamental que todos adquiram conhecimento, pois assim é possível evitar o surgimento de novos possíveis dominadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje, com a INTERNET e com as redes sociais é quase impossível que alguém consiga omitir qualquer informação e assim o conhecimento deve estar mais democratizado entre todos os seres humanos e, deste modo, as liberdades individuais também estão muito mais garantidas. É claro, que ainda existem tiranos e absolutistas controlando povos e países, porém essas são situações especiais que fogem ao interesse desse ensaio, mas, obviamente o futuro da educação brasileira não poderá conceber esses tipos de indivíduos determinando os trabalhos a serem desenvolvidos e nem seus correligionários e asseclas.
De qualquer maneira, pensem nisso que foi dito aqui e procurem se lembrar que a espécie humana surgiu e evoluiu para aprender e viver em liberdade. Nenhum ser humano deve ser mantido contra sua própria vontade por qualquer motivo ou situação. Deste modo, todas as ações educativas devem priorizar esses aspectos. Ser livre, envolve o direito de ser informado, pensar e refletir sobre o conhecimento que se possui e sobre suas possibilidades de aplicação para o bem comum da sociedade e inclusive para a ampliação de mecanismos que favoreçam as liberdades individuais.
Resta ainda ressaltar que a liberdade é um bem e um direito que a humanidade almeja e que o indivíduo luta por possuir, mas que está preso à lei e aos direitos dos demais indivíduos. Numa sociedade todos são iguais perante a Lei e assim têm os mesmos direitos e deveres. Da mesma maneira que não se quer a tirania, também não se deve querer a complacência. O equilíbrio entre a necessidade de conhecer e avaliar o mundo em todas as dimensões científicas e culturais e a necessidade de fazer as ações que perpetuem a humanidade deve ser a tônica na escola, desvinculados de qualquer outra questão.
Por fim, procurem suas respectivas áreas de atuação e identifiquem aquele aspecto que mais lhes interessar e se dediquem a estudá-lo mais detalhadamente, mas, a priori, afastem-se da ideia de serem especialistas. A humanidade necessita de seres humanos cada vez mais generalistas, exatamente para que todos possam entender melhor as necessidades de todos e assim resolver mais facilmente os problemas coletivos que, porventura, possam existir.
Lembrem-se sempre que "um especialista é aquele sujeito que sabe cada vez mais, sobre detalhes cada vez menores, até que muitas vezes, acaba chegando ao cúmulo de saber tudo, sobre nada". Isto é, quando mais se especializa, mais se restringe a área de ação e menos se integra ao mundo real, que costuma ser conturbado e cheio de inter-relacionamentos e conexões. Pois então, é exatamente nessas áreas e condições interconexas e conturbadas que se aprende mais e se cresce como ser humano.
Mas, se, por acaso, você tiver que ser obrigatoriamente um especialista, então seja eficiente nessa condição e procure usar sua especialidade como mecanismo para abrir sua mente e não para restringi-la. A humanidade não precisa desse tipo de pessoa restritiva, ao contrário, os seres humanos necessitam estar, progressivamente mais abertos à diversidade do contato social e as consequentes dificuldades de convivência.
O futuro da escola dependerá bastante das ações que assumamos hoje em prol da educação brasileira. Estou ciente de que não sou "o dono da verdade", mas estou propondo aqui algumas sugestões para que seja possível discutir a educação no Brasil, ou pelo menos, a educação que os brasileiros precisam e merecem ter. É claro que, mesmo com as ideias contidas neste ensaio, estou certo de que sempre continuará faltando muito, porque a educação é imensurável, além de ser um processo contínuo e que não pode ter fim.
O objetivo maior deste ensaio é conseguir que se discuta mais sobre essa questão e que novas ideias e propostas possam existir e se estabelecer para a melhoria da educação do povo brasileiro. A população brasileira necessita acreditar mais na educação como mecanismo de melhoria da humanidade. O Brasil tem que deixar de querer ser o país do futuro, temos que cair na real e lutar para ser o país do presente, mas isso só acontecerá quando a educação passar a ser a verdadeira prioridade nacional e entrar definitivamente na pauta, como causa primária no interesse de todos os cidadãos brasileiros.
Bibliografia
LIMA, L.E.C, 2018. Contextualização e Regionalização da Educação Ambiental, (www.profluizeduardo.com.br), em 30/04/2018; e
ONU, 1948. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Palais de Chaillot, Paris, 10/12/1948.
* LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA
-Bacharel e Licenciado em Biologia - 1978,
-Mestrado em Biologia Animal 1983;
-Professor e Pesquisador, por mais de 45 anos, trabalhou em várias Universidades do país aondee orientou dezenas de alunos de Graduação e Pós-graduação;
-Escritor, publicou mais de uma dezena de Livros e centenas de Artigos Científicos e de Divulgação,
-Acadêmico Fundador da Academia Caçapavense de Letras (2007) e
Acadêmico da Academia de Letras de Lorena;
Associado do Instituto de Estudos Valeparaibanos, tem seu site pessoal (www.profluizeduardo.com.br) e é colaborador de vários veículos de mídia; e
Revisor de centenas de textos, entre livros, trabalhos de conclusão de curso e diferentes tipos de artigos de alunos e colegas.
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
E pensar que tivemos um Ministro da Educação que manda alunos lerem o cabeçario do livro e ainda escreve nas suas postagem rascimo,é muito complicado.
ResponderExcluirPois é, esse é o país em que vivemos. Mas, é possível e necessário mudar isso. Tenho trabalhado e feito a minha para tentar mudar essa triste realidade, mas difícil lutar contra a maré, principalmente porque a sociedade não se interessa e não se manifesta. De qualquer maneira, não vou desistir e espero poder contar com mais gente que pense como eu. Muito obrigado pela leitura e epelo comentário.
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