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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

“Silêncio”


 Autor: Marcelo Palagano (*)

O filme "Silêncio" (2016) do diretor Martin Scorsese é uma adaptação do romance de Shusaku publicado em 1966 que conta a história de Dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), no período do Séc. XVII, que viajam até o Japão em uma época onde o catolicismo foi banido. À procura do mentor deles, padre Ferreira (Liam Neeson) os jesuítas enfrentam a violência e perseguição de um governo que deseja expurgar todas as influências externas.

O filme nos introduz a uma época em que a prática de cultos religiosos que não aos oficiais do império japonês poderiam levar aos praticantes a intensas torturas e diversas perseguições e até mesmo a morte.

O título do filme, "Silêncio", é uma forma de destacar a abordagem que se dá na relação entre o protagonista e o seu deus.

A trama impressiona não só pelas diversas cenas de perseguição que há contra os cristão e suas mortes, como também pela forma como o filme retrata a naturalidade da abordagem cruel dos inquisidores budistas, sob o pretexto de manter as tradições japonesas frente as influências das culturas europeias.

O evento narrado no filme de fato ocorreu no Japão e, inclusive, mais tarde, foi o que motivou a emigração de japoneses para o Brasil.

De fato o Catolicismo chegou no Japão em meados do Séc. XVI e no início os missionários obtiveram enorme sucesso na propagação da fé. Estima-se que no seu auge a fé Cristã tenha chegado a haver cerca de 300 mil adeptos no Japão. Entretanto a intromissão estrangeira em um país em fase de unificação incomodou as autoridades locais, logo o Catolicismo foi progressivamente reprimido em várias partes do país até ser proibido após a Rebelião de Shimabara, entre 1637 e 1638, passando a ser celebrado em segredo na clandestinidade pelos chamados kakure kirishitan (隠れキリシタン "cristão escondido"?).

Estranhamente o filme me faz pensar no princípio da liberdade de expressão aqui no Brasil como também os últimos acontecimentos que se desdobram em nosso país.

Sabemos, e já não é mais novidade para ninguém, que atualmente vivemos sob o governo do ativismo judicial.

Já tive a oportunidade de escrever outros artigos em que comentava a respeito da liberdade de expressão, e a cada texto que escrevia buscava apontar para o enorme Leviatã que surgia no horizonte, bem diante dos nossos olhos.

É claro que é demais pensar que amanhã ou depois possamos ter práticas de tortura ao tentar exercer o direito da liberdade de expressão (será?). Mas algo parecido tem ocorrido no Brasil nos últimos tempos... será mesmo?

Inicialmente gostaria de destacar que apenas estou narrando os fatos. A minha opinião sobre tudo isso não importa e também não interessa, pois, não quero amanhã receber a visita da PF na minha casa.

Já tivemos no Brasil Deputado Federal preso por expressar opinião, ainda que condenável a Constituição Federal garante isso aos parlamentares. Também tivemos jornalistas sendo presos por igual prática. Inaugurou-se o período das tão chamadas "Fake News" com propostas de leis e tudo o mais para ligeiramente colocar sobre os nossos ombros algo parecido com a censura. E por falar nela, em pleno período eleitoral, onde se pressupõe a mais ampla liberdade e transparência em prol da Democracia, tivemos decisões da Corte Suprema buscando não somente censurar manifestações como também instaurar a censura prévia (com prazo de validade, é verdade) e proibir candidato à corrida presidencial e sua campanha de apontar fatos do outro candidato que atualmente se vê concretizado, diga-se de passagem, a tal amizade com governos não democráticos.

Tudo isso é só a ponta do Iceberg, pois, após os eventos do dia 08/01/2023, as coisas ficaram bem diferentes no Brasil, ao ponto de prender pessoas e colocá-las em condições semelhantes a tal tortura anteriormente mencionada. Além de que vemos as autoridades praticarem uma verdadeira ‘caças as bruxas’ contra todo e qualquer cidadão que se posicione contra os interesses do governo vigente. Inclusive, ai de mim se manifesto que essa tal história de destruição das fitas que gravaram o que ocorreu no dia 08/01/2023 for a maior história para inglês ver. Mas como não sou imbecil, me mantenho em silêncio.

Mas como estava me referindo ao tal ativismo judicial, essa semana tivemos a informação de que foi uma "armação" que promoveram na prisão do atual presidente da república, como também tivemos a aprovação ao projeto de lei que altera os valores das taxas judiciais no Estado de São Paulo. Em síntese, o projeto altera os valores cobrados para determinados procedimentos judiciais, inclusive custas de distribuição de iniciais, custas de interposição de recurso e as custas finais.

O Projeto teve imensa defesa do Tribunal de Justiça de São Paulo. Porém, algumas entidades até se posicionaram contra, entre elas a OAB, sob o argumento de que a atualização dos valores poderá encarecer e limitar o acesso à justiça para cidadãos que não tem direito à gratuidade. Contudo, já vimos este filme, talvez seja tarde demais para frear o Leviatã.

De fato, tal medida é só mais uma forma de negar princípios fundamentais previstos na Constituição Federal aos cidadãos.

Onde é que isso tudo vai parar? Bom, não serei eu que vou dizer, pois, para todos os efeitos, prefiro ficar em silêncio.

*MARCELO DUARTE PALAGANO








-Advogado, graduado em Direito pela Universidade de São Caetano do Sul (2015);

 -Pós Graduado em Processo Civil pela Academia Jurídica (2020); e 

Atua nas áreas do direito Civil, de Família, Sucessões, Consumidor e do Trabalho.

Nota do Editor:


Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário:

  1. Não sou adepto do atual líder nacional,não o vejo com os olhos tolos,mas; lendo este texto e suas entrelinhas, sou contra censura e suas raízes subliminares.

    Dito isto, vejo o ex capitão banhado na incompetência e com os mesmos caracteres e adjetivos que inundam o molusco.

    Não cabe aqui, defender a constituição, censura e Liberdade de expressão calcados e implícitos nos arroubos de um cidadão cínico e se seguidores.

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