Quando me vejo diante de um casal no consultório, assisto a duas verdades.
Cada qual inicia a falar sobre seus pontos de vista com relação ao casamento e cada vez mais vou observando como é rico de informações o mundo interno de cada indivíduo.
No início pode parecer mesmo que o que temos ali são apenas dificuldades em relação à adaptação a uma nova vida a dois, cheia de tarefas e combinados a serem cumpridos. Só que não.
Duas pessoas decidem levar uma vida juntos, compartilhando planos, sonhos e dia a dia, mas em dado momento se desencontram tanto, que não podem entender onde foi que se perderam nesse caminho.
Quando dois parceiros se unem, se unem ali também dois sistemas familiares, dois conjuntos de histórias, aprendizados, experiências e crenças que vão muito além das vivências próprias de cada um.
Isso porque, querendo ou não, estamos profundamente identificados com nossos modelos parentais (relacionamento de nossos pais) e mais do que isso, estamos inconscientemente identificados com histórias de nosso sistema familiar.
Sendo assim, podemos herdar muito mais do que a genética de nossos ascendentes. Herdamos padrões e informações que estão contidas nesse tipo de inconsciente coletivo sistêmico. Estamos mesmo ligados por um cordão de amor profundo.
Agora imaginemos de um lado alguém que herda um padrão de "todas as mulheres do meu sistema se divorciam e acabam sozinhas". Ou então: "minha mãe sofreu imensamente em seu casamento. Eu não sei como ela pode suportar o meu pai".
Registros como esses podem levar esta mulher a inconscientemente repetir os padrões, causando desavenças a partir de impulsos em seu comportamento, que gera desequilíbrios na relação e...bingo! Ela será também uma mulher divorciada, numa lealdade à linhagem feminina.
Por outro lado podemos ter por exemplo um marido que cresceu com pais separados, e diante da ausência do masculino, colocou-se fielmente ao lado de sua mãe, sendo tão leal a ela, que seu casamento pode não funcionar, fazendo-o retornar à casa da mãe, retomando seu lugar na fidelidade ao sistema. Como ele poderia ter outra mulher, se já tinha um lugar ao lado de uma?
E assim cada um vai tentando se adequar numa relação que, ao primeiro momento lhe faz parecer que tem tudo para dar certo, até que se vê em grande dificuldade junto ao amor de sua vida.
Um olhar sistêmico analítico e aguçado pode averiguar e constatar tais padrões nos relacionamentos.
A ideia no processo terapêutico com os casais é enxergar além dos desafios da convivência e diferenças de personalidade e preferências.
É procurar entender por onde tem se dado tantos desencontros, que parecem vir como um reflexo de cada sistema. E na verdade é isso mesmo que ocorre em todas as relações. Unimos nosso sistema a outro sistema. E então temos uma verdadeira fórmula para lidarmos e fazer funcionar.
E por onde começamos?
Começamos pelo individual. Ou seja, vamos identificando o que cada um traz em si sobre a relação de seus pais. E a partir daí, haja conteúdo para trabalhar!
Seguimos em frente considerando que o primeiro ingrediente indispensável para que o casal dê certo, é o afeto, o amor.
Se o amor existe, partimos para o segundo ingrediente: a disposição de cada parte em querer firmemente fazer dar certo.
Porque a responsabilidade sobre a condição de como o relacionamento se encontra, é cinquenta por cento de cada um.
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