Antes de começar minha inquietação pedagógica, quero deixar claro que faço uso do capacitismo no título e, com isso, marco um conflito cultural existente na educação. Cabe aqui reflexões.
Com certeza já ouviram essa expressão! E tenho certeza de que muitos de nós, já nos vimos assim em diversas situações e, é bem assim, que vejo as decisões relacionadas ao ENSINO MÉDIO.
Primeiro, uma proposta ousada, criativa, que tirava da mesmice o ensino que já estava no CTI, condenado à morte por falta de entusiasmo de seus atores. A evasão e falta de interesse dos jovens nesta fase da educação básica, era evidente e algo precisava ser feito, então, surgiram os itinerários formativos e a ideia de que o adolescente poderia construir seu percurso no decorrer dos três anos do ensino médio. Fantástico! Até que fim a educação resolveu voltar seu olhar para o que mais se importa em todo o processo: o aluno.
Escolher sua trajetória e ter experiências fora dos livros didáticos e das disciplinas tradicionais, realmente foi o "pulo do gato". Devo confessar que me encantei pela proposta da lei nº13.415, me enamorei das possibilidades em exercer, fazer acontecer uma educação mais libertadora, criativa, carregada de significado para os alunos, enfim, meu sonho se realizando.
Aí, veio toda a incompetência das pessoas que fazem as gestões da educação, tanto em setores públicos, quanto privados e não deram conta de tirar do papel aquela ideia de educação transformadora. O que, no papel, era perfeito e possível, na prática se tornou um grande fracasso! Faltou de tudo! Verbas, formações, estratégias para lidar com as diversidades, boa vontade, coragem para quebrar paradigmas, informações corretas e, conclusão, o caos se instalou e nada caminhou.
Revoga, não revoga, reformula, não reformula, revoga, a
novela do tão falado novo ensino médio protagonizou inúmeros encontros de
educadores Brasil afora e muitas noites sem dormir pensando em o que fazer e
como fazer.
Agora, bem recentemente, nova proposta surge. Um remendo? Uma colcha de retalhos muito mal feita da lei? Uma proposta possível? De verdade, farei como aquela atriz conhecida que disse não saber opinar... Não consigo avaliar de fato se "pior a emenda do que o soneto", mas de uma coisa tenho certeza: ninguém sabe!
Participando de vários encontros para entender que rumo
estamos tomando, perguntas ficam ao ar, respostas mal elaboradas e cheias de "enroleixos" salpicam a todo momento. O que fazer e como fazer para estar
dentro da lei, cumprir uma legislação, são inquietações que trafegam entre
interpretações de brechas da lei.
E nesse cenário todo, quem perde? Lógico que é o aluno!
Ficar três anos estudando o mesmo
e da mesma maneira, já não é mais possível em tempos que o conhecimento cabe na
palma da mão. A um simples acesso à internet, o aluno tem as respostas que
precisa, então, tá na cara que um ensino focado na transmissão de conteúdos que,
qualquer um pode ter, não atrai e nem encanta ninguém. É preciso avançar, ousar
ir além e diversificar o "cardápio" escolar com temas que realmente permeiam o
interesse dos alunos e desenvolvam competências e habilidades para a vida de
maneira mais dinâmica, autônoma e criativa. Aqueles conteúdos, disciplinas pré
estabelecidos, que ficam bonitinhos, todos iguais dentro de uma "matriz" ou "grade" curricular, precisam ser libertados dessas fôrmas e grades que
aprisionam a inteligência de nossos adolescentes. Não tem mais como querer que
aprendam do mesmo jeito, querer colocar todos numa mesma fôrma para que, como
em uma produção industrial, saiam todos iguais. O mundo é outro e neste novo
mundo não tem mais lugar para repetir os mesmo erros que cometemos com uma
educação medíocre há anos. Não tem como a educação não querer mais para os
estudantes, mais, muito mais, do que o simples saber tradicional que é usado
apenas para passar em uma prova. As grades que fazem reféns a criatividade de
nossos alunos, precisam ser derrubadas pela coragem de se querer mais.
O NOVO ENSINO MÉDIO está à deriva, é um náufrago sem rumo e nem direção. É preciso que os teóricos da educação, que se debruçam para pensar a educação, saibam que as leis que saem de seus inúmeros encontros, estarão mudando vidas, transformando sonhos e construindo ou destruindo caminhos para um mundo melhor. Fazer remendos para atender a grupos com interesses particulares, favorecer apenas um setor da sociedade com propostas excludentes, elitistas, não diz exatamente sobre educação. Educação é muito mais do que fazer leis fictícias e invisíveis para alguns. Não consigo, como educadora, me silenciar quando percebo, claramente, que as coisas não andam bem. Por isso falo, escrevo, grito.
-Especialista em Educação
Eu sigo o blog e acho bem interessante, hoje porém me assustei com um tema sobre educação citar uma expressão capacitista como “cego em tiroteio “. Eu tenho um projeto sobre linguagem inclusiva e não é mais aceitável expressões que mesmo de uso popular discriminem condições pessoais.
ResponderExcluirCego em tíroteio e tantas outras expressões populares devem ser excluídas do nosso vocabulário.
Atenciosamente, Odette Cadtro
Boa tarde. A citação foi feita com ciência e convidando também a uma reflexão. Usei o capacitismo no título pretendendo também chamar atenção para o que você abordou. Infelizmente o uso é cultural e precisamos ficar atentos. Principalmente por lidar com educação, gosto de provocar reflexões usando expressões que , chamando a atenção do público, convida a uma reflexão.
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