Autora: Adriana Batista da Rocha (*)
O BBB que nunca acaba. Tudo se transforma em espetáculo, parece o fim da vida real, e eu lamento. Desde personalidades chamando atenção para si através da nudez ou confissões sexuais íntimas em podcast: traições, agressões, trapaças, até tragédias. Tem palco para tudo, para todos os públicos. Enquanto a realidade nua e crua provocada pela natureza, pelas políticas e pela crueldade humana perde a atenção necessária.
Dia desses estava organizando minha biblioteca sem pressa e olhando para meus livros, tentando puxar pela memória do conteúdo. Alguns lidos recentemente, outros lidos há décadas, foi quando me perguntei: “ tem observado sobre como a vida está repleta de simulacros, disfarçados de espetáculos? Estamos bombardeados diariamente com "imagens brilhantes e narrativas cativantes" que nos mantém entretidos, mas, ao mesmo tempo, nos afastam das realidades mais profundas que nos cercam? É como se estivéssemos todos presos em um eterno sono, inconscientes das questões fundamentais.
Lembrei que no clássico de Guy Debord, "A Sociedade do Espetáculo", somos confrontados com a ideia de que a modernidade é dominada pela espetacularização da vida, onde a imagem e o entretenimento se tornam os principais mediadores das nossas experiências cotidianas, mas, por trás dessa espetacularização, no entanto, há uma sombra que paira sobre a sociedade contemporânea: a sociedade do sono, que podemos chamar também de espectadores.
Enquanto Debord nos alerta sobre os perigos da "sociedade do espetáculo", o sul-coreano Byung-Chul Han expande essa análise ao introduzir conceitos como "sociedade da transparência", "sociedade paliativa" e "sociedade do cansaço". Percebi o quanto essas obras se entrelaçam com a metáfora da "sociedade do sono", que uso em alguns trechos do livro que estou escrevendo, revelando os desafios e as possibilidades de despertar para uma realidade mais autêntica e significativa. Elas destacam a prevalência da visibilidade e da exposição na cultura contemporânea, embora de perspectivas ligeiramente diferentes.
Na "sociedade da transparência", a busca pela visibilidade total e a exposição constante das nossas vidas são promovidas como sinais de autenticidade e conexão. Essa transparência pode muitas vezes obscurecer as verdadeiras emoções e relações humanas, criando uma ilusão de entendimento mútuo. Essa ilusão pode ser comparada à superficialidade das interações na "sociedade do espetáculo", onde a busca pela imagem e pelo entretenimento obscurece a realidade subjacente através de compulsivas performances frente ao imperativo do like como analgésico.
A exposição excessiva e a busca pela visibilidade podem contribuir para uma dormência emocional e uma falta de consciência das questões mais profundas da existência humana. Essa conexão entre os conceitos dos escritores nos permite uma compreensão mais ampla dos desafios enfrentados pela sociedade contemporânea e das possibilidades de despertar para uma vida mais autêntica e significativa.
Já na "sociedade do cansaço", a exaustão física e mental torna-se a norma, alimentada pela constante pressão para sermos produtivos, eficientes e bem-sucedidos. Nesse estado de cansaço crônico, a capacidade de reflexão e resistência é minada, deixando-nos vulneráveis à manipulação, ao sono e ao conformismo.
É evidente que estamos imersos em um estado de dormência e alienação. No entanto, ao reconhecermos esses padrões e desafiar suas premissas, podemos começar a despertar para uma realidade mais autêntica e libertadora.
Espero que possamos nos libertar do sono profundo da ignorância, da ilusão do espetáculo, do conforto paliativo e da exaustão implacável, para abraçar uma vida de consciência, resistência e conexão genuína.
* ADRIANA BATISTA DA ROCHA
Segundo suas próprias palavras:
Adriana Rocha, ou Drika Rocha é Drª H.C. em Literatura,
escritora, autora de vários títulos; premiada nacional e internacionalmente, é
colunista cultural e empresária.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores
Adriana, adorei seu texto. Quando publicar seu livro, coloque lá no grupo do Raphael Werneck, por favor. Tenho muito interesse no assunto que você aborda.
ResponderExcluir