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sexta-feira, 21 de junho de 2024

A Sociedade da Neve


 Autora: Maria Rafaela de Castro (*)

O que nos ensina a Sociedade da Neve?

Quando assisti esse sucesso da Netflix que narra o acidente de avião uruguaio (voo 571), em 1972, na Cordilheiras dos Andes, fui assaltada por uma imensa curiosidade de pesquisar a fundo a história. O avião foi fretado para transportar uma equipe de rugby ao Chile e despencou no coração da Cordilheira em um inverno severo repleto de nevascas.

Adquiri, portanto, o livro "A Sociedade da Neve", inspirador da película, e depois descobri que alguns dos sobreviventes também escreveram livros. Li, ao menos, dois deles em que ambos relatam seus pontos de vista da sobrevivência e o “before and after” após esse fato dramático.

De tanto ler e ver o filme umas três vezes, desenvolvi muitas impressões positivas. Coincidiu com a minha viagem de férias ao Uruguai e, assim, também conheci o Museu dos Andes, localizado no centro de Montevidéu, com um amigo que fiz nas minhas andanças pela cidade, um legítimo uruguaio chamado Pablito.

E, assim, de todas as minhas "pesquisas" e conversando com um "nativo" e os funcionários muito simpáticos do Museu, constatei a mais surpreendente das questões dessa história: o que somos capazes de fazer para sobreviver? O que você seria capaz para se manter vivo? Desistiria ou persistiria até o fim?

Comer carne humana se retratou na época e ainda hoje como o maior desafio dos sobreviventes. Porém, a meu ver, acho que o maior desafio foi construir e manter a amizade apesar de todo o frio e adversidades. No meu entender, é a dificuldade que temos em criar pontes entre nós.

Isso me fez refletir também que a amizade é árdua de conquistar e mais difícil de manter, principalmente, quando estamos no fundo do poço ou da Neve e ela serve como seu único suporte emocional além da fé em Deus para os que creem, por exemplo.

Aqueles vinte e nove sobreviventes inicialmente (ao final, só 16 foram resgatados) demonstraram ao mundo um espírito de solidariedade e união que transborda no lado mais bonito da humanidade. Talvez, pela decadência sistêmica dos valores hoje em dia, fiquei mais sensível ao tema.

Houve uma espécie de comoção quando do resgate depois de 72 dias num episódio miraculoso. Conforme me confidenciou Pablito, naquele dia, foi uma espécie de "Milagre de Natal" e se comparou com a alegria da conquista do Mundial pelo Uruguai na década de 50. A imprensa só falava nisso: era como se eles tivessem voltado do mundo dos mortos para renovar a esperança dos vivos.

Ao contemplar, no Museu dos Andes, muitas das cartas dos que morreram esperando o resgate, sente-se não uma tristeza, mas uma espécie de força para viver a qualquer custo não tanto por si próprio, mas pelos outros.

Nesse cenário, compreendo que a sociedade da neve de um acidente da década de 70 tem muito mais a nos ensinar hoje em dia, principalmente, sobre manter a esperança e o espírito de grupo numa espécie de reconhecimento de classe.

Sendo assim, nasce a vontade de viver para ser mais útil a cada dia.

Temos o privilégio, ainda, de não termos que sofrer um acidente aéreo no meio da Cordilheira dos Andes para percebermos o quanto a amizade é um bem precioso, assim como a compaixão e empatia.

Diante disso, aprendamos a aplicar no dia a dia aquela frase bem autoajuda: a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. E, com isso, saibamos descongelar, a tempo, a neve dos nossos corações, de nossas amizades e dos amores sinceros. Bom voo!

*MARIA RAFAELA DE CASTRO














  -Graduada em Direito pela Universidade Federal do Ceará(2006);

-Pós -Graduada em Direito do Trabalho pela Faculdade Estácio de Sá (2008);

-Mestrado em Ciências Jurídicas na Universidade do Porto Portugal(2016);

-Doutoranda em Direito na Universidade do Porto/Portugal;

Juíza do Trabalho Substituta da 7a Região; 

-Formadora da Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará;

-Professora de Cursos de Pós Graduação na Universidade de Fortaleza - Unifor;

-Professora de cursos preparatórios para concursos públicos;

-Professora do curso Gran Cursos online;

-Professora convidada da Escola Judicial do TRT 7a Região; Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho; e
-Palestrante.

- Instagram @juizamariarafaela

Nota do Editor:

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