Breve reflexão sobre o fenômeno da Direita no Brasil

 Autor: Marcelo Duarte Palagano (*)

Muito se fala do recente avanço de um sentimento de "Direita" que surgiu no Brasil. Porém, por muito tempo, falar de Direita era sinônimo de defender as atrocidades cometidas por autoridades durante o regime militar que vigorou no Brasil entre 1964 até 1985.

Acontece que essa nova onda que hoje tanto se fala e que nada tem a ver com a sombra que foi colocada sobre a Direita, busca influenciar o maior número de pessoas que se sentem atraídas por esse lado do espectro político.

Mas a final, o que é que a Direita defende?

Não se pretende neste artigo descrever todos os valores e princípios que orbitam sobre este conceito. Tão pouco apresentar as pautas que a Direita tende a defender. Porém, é importante fazer a reflexão como forma de entender o fenômeno que está aí e que muito se fala, e que também se usa para alavancar projetos eleitorais.

O movimento político não é novo, mas, para os brasileiros, pode-se afirmar, com segurança, que a onda começou pelos idos de 2013, quando, em meados de junho, ocorreram uma série de protestos que ficaram conhecidos como "manifestações dos 20 centavos".

Inicialmente, os protestos foram desencadeados pelo aumento das tarifas de transporte público em várias cidades brasileiras, incluindo São Paulo, onde a tarifa de ônibus, metrô e trem foi aumentada de R$ 3,00 para R$ 3,20, um aumento de 20 centavos.

No entanto, as manifestações rapidamente se expandiram e passaram a abranger uma ampla gama de insatisfações sociais e políticas, como a corrupção, os altos custos da Copa do Mundo de 2014, a falta de investimentos em saúde e educação, e a violência policial contra os manifestantes. As manifestações de 2013 foram significativas pela sua amplitude e intensidade, marcando um dos maiores movimentos populares da história recente do Brasil.

De lá para cá as pessoas começaram a se interessarem cada vez mais sobre política e, com isso, muitos autores começaram a ser consumidos pelos leitores.

Mas não somente a parte intelectual passou a ganhar apreço pela sociedade, como também os políticos que tinham suas pautas nos valores e ideias como conservadorismo, liberalismo, segurança e ordem pública começaram a ganhar mais engajamento.

Também o grande avanço da era digital estava em desenvolvimento e plataformas digitais como Youtube, Facebook e Twitter ganharam mais visibilidade e, junto com isso, pessoas passaram a falar sobre ideias, a comentar sobre política e com isso formar opinião ao ponto de se tornarem influenciadores. 

O movimento ganhou ainda mais força após os eventos que marcaram o impeachment da presidente Dilma em 2016, o avanço da Operação Lava Jato, com a prisão de muitos políticos e empresários e, por fim, a eleição de Jair Bolsonaro como presidente da República em 2018.

Desde então, o Brasil nunca mais foi o mesmo, e a Direita ganhou espaço na opinião pública.

Durante o governo de Bolsonaro o mainstream classificou as pessoas que se apoiavam nos valores e princípios da Direita como sendo agentes da Extrema Direita. Na tentativa vã de relacionar a Direita com as ideologias do Fascismo e do Nazismo, os donos do poder acabaram por dar mais força ao movimento.

Hoje já não se fala tanto em Extrema Direita, pois, os espertinhos já se deram conta de que não dá mais para ignorar certa parcela da sociedade que encontra seus valores depositados no colo da Direita.

Chega-se a comentar sobre outras "caras" para a Direita como é o caso do "Bolsonarismo Moderado"” de Joel Pinheiro da Fonseca [1], ou a "Direita Sensata" de Luiz Felipe D’Avila [2].

E independentemente disso é importante ficar atento, pois, no vasto universo da política ninguém é tolo o suficiente para morrer com a ideologia no colo. Todos o que estão atentos sabem que é preciso pegar carona com essa onda, portanto, nada de criminalizá-la ou mesmo, ignorá-la, sob pena de não conseguirem seus status de autoridade nas próximas eleições.

Se os políticos já estão de olho em 2026 e levam consideração o movimento, a nós só cabe entendê-lo para não cairmos nas garras das velhas raposas.

E para isso, mais do que sair por aí lendo escritos de conservadores ou liberais, é importante um consenso sobre o projeto político de nação que queremos para o Brasil. Enquanto não fizermos o dever de casa, não adianta nada flertar com ideais, porque as ideias ajudam, sim, são como óculos que usamos para podermos ver o que está adiante de nós, mas sem o conhecimento do que realmente queremos deixar de legado, as ideias são só um amontoado de conversa para boi dormir e são utilizadas pela retórica eleitoral.

Referências:

[1]https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joel-pinheiro-da-fonseca/2024/04/precisamos-do-bolsonarismo-moderado.shtml

 [2] https://oantagonista.com.br/brasil/felipe-davila-quer-unir-direita-sensata-com-esquerda-inteligente/

 

*MARCELO DUARTE PALAGANO

-Advogado, graduado em Direito pela Universidade de São Caetano do Sul (2015);

 -Pós Graduado em Processo Civil pela Academia Jurídica em 2020; e 

-Atua nas áreas do direito Civil, de Família, Sucessões, Consumidor e do Trabalho.

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