Autora: Maria Cristina Tofoli (*)
Queridos(as) professores(as),
Como o tempo passa! E, às vezes, eu me pego pensando em toda a minha trajetória nos quase 30 anos na área educacional e me perco nas emoções boas que vivi, e em outras, nem tanto, mas faz parte. Iniciando em escolas multisseriadas na área rural, sendo professora em escolas públicas e privadas, logo assumi direção e coordenação. Isso abriu um grande horizonte profissional que me permitiu, mais tarde, conhecer e atuar no mundo editorial.
Hoje, olhando para o passado, mas com os pés sempre no presente, recorrendo ao aprendizado que todas essas vivências me trouxeram, encarando situações desafiadoras do dia a dia, chego à conclusão de que, em alguns desafios que enfrentei, os problemas poderiam ter sido resolvidos de outra forma. Não faltou amor, mas faltou mais diálogo. E quem não passou por isso?
E digo a vocês: foi muito importante entender os acertos e os desacertos que vivi e que sempre contribuíram para o meu autoconhecimento. E foi a partir disso, que aprendi, de fato, que o autocuidado – a minha saúde mental, física e emocional no contexto profissional e pessoal – era fundamental para a minha vida.
Chorei, sorri; respondi, não respondi; reagi, não reagi; entendi, não entendi; indaguei, não indaguei; adoeci, sacudi a poeira e sobrevivi!
Quantos aqui lendo passaram por situações diversas e, por não conhecerem a si próprios, fecharam-se, emocionalmente, por não saberem lidar com sentimentos e emoções?
"Vivendo e aprendendo" é o ditado popular que representa, fielmente, a importância da aprendizagem durante o processo. E creio que, ao longo dos anos e do caminho percorrido, é que compreendi um pouco mais de mim e do outro, ora resolvendo com a razão e, em outras situações, com o coração (ou seria emoção?) e cheguei até aqui. Minhas decisões foram assertivas? – Acho que nem todas!
Barreiras foram quebradas, outras extintas e algumas ainda permanecem, afinal de contas, acredito que somos seres em construção – eu, ao menos, tento ser.
E, assim, todos nós temos uma boa história para contar, não é mesmo? Ainda mais quando o assunto é emocional!!
Afinal, aonde desejo chegar com esta reflexão do meu "eu" com a temática "autoconhecimento"?
Sendo eu da área educacional, e sempre muito envolvida com minhas responsabilidades, trago aqui uma comparação entre aquele tempo que não volta mais, daqueles ambientes escolares nos quais trabalhei, daquela educação que promovíamos versus a nossa atualidade educacional. No passado, não tínhamos tantas informações nem muitas referências sobre o que deveria ser trabalhado e, muito menos, a tecnologia que atualmente nos ajuda a aprofundar nesses estudos. Hoje, felizmente, a educação nos apresenta uma série de subsídios para trabalharmos o tema com alunos e profissionais nas escolas.
Antes, passávamos por dificuldades de reconhecer emoções e os impactos disso no comportamento dos alunos e de outros. Na época, também não se falava muito sobre isso.
Hoje, porém, temos muito do que precisamos para trabalhar as emoções e o autoconhecimento. Até mesmo, para nós, educadores. As ferramentas estão aí, e o que se deve trabalhar está explicitamente descrito, bastando que isso seja aplicado em sala de aula como uma aprendizagem essencial que os alunos devem ter na Educação Básica.
Como sabem, esse desenvolvimento é amparado pela Base, que, de forma clara, reforça que os alunos precisam desenvolver o conhecimento socioemocional, por meio de uma ou mais das inúmeras abordagens para a formação integral. E que bom! Trazer à tona sentimentos, emoções, vivências, atitudes e suas consequências, sem dúvida, irá ajudá-los a ter mais consciência e equilíbrio emocional e melhor qualidade de vida.
Vale lembrar que a BNCC coloca como "necessidade de o estudante aprender a cuidar da saúde física e emocional através da competência que desenvolve o Autoconhecimento e Autocuidado".
Diz, também: "Conhecer-se e apreciar-se, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. A competência trata do aprendizado que crianças e jovens devem adquirir a respeito de si mesmos, sendo capazes de identificar seus pontos fortes e fragilidades, lidar com suas emoções e manter a saúde física e o equilíbrio emocional".
Sabemos, hoje, e assistindo a tantas barbáries no mundo, envolvendo alunos em situações críticas emocionais, o quão importante é a escolha da abordagem que cada escola adota para aplicar e desenvolver as competências emocionais nos alunos, com o objetivo, também, de reforçar suas aptidões quando se trata de habilidades e competências.
Podemos citar Gardner (1995), que afirma:
"É necessário uma Educação centrada nos alunos, uma educação que pode levá-los a uma situação feliz, em que todos se sentem bem consigo mesmos, encontram seus propósitos e se tornam membros positivos da comunidade".
A escola ter a consciência de seu papel como agente transformador é fundamental para desenvolver a responsabilidade social, e além das questões emocionais, aplicar também conceitos que façam entender o que são práticas morais e éticas, onde a primeira orientará a maneira de agir das pessoas dentro de uma situação. Já a segunda, funciona como uma organização da moral, ou seja, reconhecer valores que definem moralmente o que é certo ou errado, enquanto pessoas e sociedade.
Aprender isso é aprender a se autoconhecer e se cuidar emocionalmente, é saber como lido comigo e com o outro.
Esse tema nunca foi tão importante, e é por isso, que estamos vendo uma “enxurrada” de livros e coleções sobre o socioemocional dos alunos nas escolas.
Atualmente, estou trabalhando na criação de um livro, já em fase de finalização, com o tema Autoconhecimento. Nele, a autora descreve carinhosamente a história de uma linda flor que se acostumou com os elogios e cuidados de uma menina que passava as férias naquela fazenda. E, claro, chegando o tempo das aulas, ela retorna para a cidade. Com sua ausência, a rosa ficou tão triste que não mais sorria, não mais falava com suas amigas flores e acabava se maltratando, por não saber lidar com aquele sentimento de abandono, deixando, assim, de se cuidar e de se valorizar. Ela passa por várias situações de desconforto. Sofre!
O livro chamado "Semear, regar, colher" e que logo estará disponível para aquisição, indaga sobre a importância do autoconhecimento e da habilidade de se autoavaliar, por meio da reflexão contínua sobre suas atitudes. A Rosa Amarela aprendeu que o autoconhecimento é um processo fundamental para a construção de uma vida feliz e realizadora. Aprendeu a cada dia, a tomar decisões mais assertivas, fortaleceu-se emocionalmente, pois entendeu que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir, inclusive ela mesma. E esse processo a ajudou a se conhecer e, dessa forma, a cuidar de suas emoções, bem como a respeitar as dos outros.
Sempre que dirijo a criação de um livro, elaboro materiais complementares para serem exercitados nas aulas dos professores. No caso do Semear, regar, colher, o exercício irá facilitar uma conversa cheia de trocas com os alunos e permitirá que eles e professores percebam o quão necessário esse tema é. Também, acompanha um material complementar com dois questionários, um para os alunos responderem e refletirem sobre o seu autoconhecimento e o outro questionário traz uma dinâmica para entender e conhecer o outro, ou melhor, nesse caso, seus colegas de classe. Muito legal!
Acredito que essa reflexão não servirá apenas para aprendizagem dos alunos, mas também a muitos adultos que necessitam dessa reflexão (como eu, que me vejo hoje e como era no passado) e, assim, viver uma vida mais saudável, física e emocionalmente. Fico feliz em contribuir com esse material, e espero, de fato, que independentemente do que aqui escrevo, todos os professores possam se realizar, cuidar melhor de si e aproveitar a vida, sem tristezas ou desafios que os impeçam de continuar (a vida não é um mar de rosas para ninguém) em sua missão, mas que sejam fortes, posicionando seus limites e que não adoeçam na caminhada.
E, assim, todos nós temos um pouco da Rosa Amarela, resistentes em aprender a se ver, a se conhecer, mas inteligentes para entender que viver bem e feliz, mas com limites, facilitará demais nossos relacionamentos, nossa saúde, nossas vidas.
Termino aqui este delicioso encontro com a frase de Daniel Goleman (2012, p. 278), que diz:
"O aprendizado não pode ocorrer de forma distante dos sentimentos das crianças. Ser emocionalmente alfabetizado é tão importante na aprendizagem quanto a matemática e a leitura."
Segue o exercício de reflexão que faz parte do referido livro:
"Semear, Regar, Colher – A importância do autoconhecimento
E o que de fato esse título nos traz para reflexão?
Todos nós, em algum momento, passamos situações parecidas como a vivida pela Rosa Amarela. E como podemos nos fortalecer, aprendendo a desenvolver habilidades e competências em prol da nossa saúde emocional e de nosso crescimento? Vamos refletir sobre os três termos abaixo e, descobrir como ampliar nossas maneiras de promover o nosso autoconhecimento e o autocuidado.
SEMEAR: É plantar em você o desejo de adquirir habilidades específicas, é focar no campo emocional. Devemos ampliar sempre nossos conhecimentos sobre nós mesmos para tomarmos decisões coerentes e emocionalmente equilibradas. Ser capaz de lidar com a inteligência interpessoal, que é a habilidade de se relacionar com as outras pessoas, e com a inteligência intrapessoal, que é a capacidade de conhecer a si mesmo, é imprescindível nos dias de hoje. Desenvolver essas duas competências já é um bom começo para uma semeadura que deverá ser regada para colher bons frutos. Vivemos em um mundo onde saber se relacionar com o outro é fundamental, mas para isso, aprender a autoconhecer-se é essencial! Vamos pensar, então, no mínimo, em três formas de ampliar/semear o seu autoconhecimento para melhorar suas ações, suas palavras e sentimentos?
REGAR: É fazer crescer em você o desejo de nutrir a relação humana. Pois é, isso é surpreendente e desafiador! Quando o bem-estar emocional e psicológico estão prejudicados, precisamos ter a compreensão de nossos limites. É nessa hora que devemos parar, refletir e regar o conhecimento por meio de suas percepções e cuidando para que frustrações não atrapalhem as relações no seu dia a dia. Se você não desejar isso, outro não fará por você. Essa dinâmica o ajudará a ser mais seguro em suas atitudes. Um bom começo para adquirir esse conhecimento é aprender a se cuidar, e se indagando sobre como poderia melhorar, enfim, uma infinidade de perguntas e respostas poderão ajudar nesse crescimento. O autocuidado é um aspecto essencial do autoconhecimento. Vamos exemplificar e colocar em ação pelo menos três maneiras positivas de nos cuidarmos ao longo das nossas semanas?
COLHER: É quando você vive de forma equilibrada! Havendo equilíbrio emocional, sendo você conhecedor de seus limites e de suas emoções, tudo começa a fluir melhor e, lembre-se, estamos falando de relações humanas. Tomando decisões certas e eticamente corretas, você, sem dúvida, colherá benefícios em seus relacionamentos. O autoconhecimento pode ajudar a enfrentar medos e desafios, mas você terá que sair da zona de conforto, semear, regar e encarar suas vivências de forma mais tranquila, sabendo que o diálogo sempre será necessário, como a Rosa Amarela, que ouviu suas amigas flores e entendeu os limites de Alícia e se cuidou emocionalmente para seguir a vida. O autoconhecimento melhora sua autoestima, é quando você consegue distinguir mais facilmente o que é melhor e o que não é para determinadas situações de sua vida, você consegue resolver os problemas que antes não eram enfrentados. Fica mais confiante! Como podemos trabalhar as nossas emoções e conhecimentos em cada situação do nosso dia a dia para tomarmos as melhores decisões?
Uma ótima reflexão a todos!"
* MARIA CRISTINA TOFOLI
- Atuou como professora, diretora e coordenadora em escolas públicas e privadas; e
Atualmente é Diretora Pedagógica e de Criação na Editora Sigma Educação.
São suas palavras :
"Estou há quase 30 anos na área educacional e essa atividade traz conforto e satisfação ao meu coração"
Nota do Editor:
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