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sexta-feira, 9 de maio de 2025

Brasil Polarizado e a Política como Campo de Guerra




 


Autora: Marilsa Prescinoti(*)

A forma como a sociedade percebe a política diz muito sobre a qualidade da democracia em que vivemos. No Brasil de hoje, essa percepção tem sido moldada menos por fatos e análises racionais, e mais por emoções, ideologias e vínculos tribais. O resultado? Bolhas de pensamento que isolam, radicalizam e minam o diálogo necessário para qualquer avanço coletivo.

Vivemos em uma era de polarização intensa e circulação desenfreada de desinformação. Nesse contexto, compreender como se formam as opiniões políticas não é apenas relevante, é urgente. As redes sociais, apesar de democratizarem o acesso à informação, tornaram-se também terreno fértil para discursos simplistas, extremos, e muitas vezes, perigosos. O debate público tem cedido espaço à gritaria virtual.

Além disso, cresce o descrédito nas instituições que deveriam sustentar a democracia — partidos políticos, o Legislativo, a imprensa. Esse vazio de confiança abre espaço para alternativas que muitas vezes soam novas e sedutoras, mas escondem riscos profundos: líderes com discursos populistas ou disruptivos, que capturam o descontentamento e o transformam em poder sem compromisso com as regras do jogo democrático.

É justamente aí que entra o papel vital da educação política. Ela pode parecer difícil de implementar, mas é a chave para a mudança. Cidadãos politicamente conscientes escolhem com mais maturidade, fiscalizam com mais rigor e participam de maneira ativa na construção de um país melhor. Só por meio do pensamento crítico, do acesso a informações confiáveis e do incentivo ao debate plural conseguiremos sair do ciclo de manipulação e apatia.

Infelizmente, essa ainda não é a realidade do Brasil. Líderes que propõem uma gestão baseada em instituições fortes, responsabilidade pública e melhoria do Estado enfrentam uma barreira quase intransponível: o desinteresse e a preferência coletiva por narrativas fáceis e promessas vazias. O populismo fala mais alto e é a ele que muitos ainda respondem.

Mas essa tendência pode e precisa mudar. A democracia não se sustenta apenas no voto: ela exige consciência, participação e responsabilidade. E isso começa com a forma como escolhemos nos informar, pensar e agir politicamente.

Nos últimos anos, o Brasil mergulhou em uma polarização política profunda, com efeitos que extrapolam o debate democrático e ameaçam a própria coesão social. A disputa entre os polos representados por Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, símbolos da direita e da esquerda, respectivamente, não se limita às eleições. Ela se transformou em um verdadeiro campo de batalha ideológica, onde o adversário político passou a ser tratado como inimigo pessoal.

A polarização, por si só, não é necessariamente prejudicial. Em uma democracia saudável, o confronto de ideias é legítimo e necessário. O problema surge quando esse confronto degenera em hostilidade, intolerância e desinformação. O que vivemos hoje é uma polarização destrutiva e disruptiva que desumaniza o outro e inviabiliza qualquer tentativa de consenso. A política foi reduzida a slogans vazios, ataques pessoais e teorias da conspiração. A lógica do “nós contra eles” tomou conta do espaço público, sufocando o diálogo e a construção coletiva (Casarões & Magalhães, 2022).

De um lado, temos uma direita radicalizada, que enxerga nas instituições democráticas um obstáculo, e não um alicerce da República. O bolsonarismo estruturou sua base em torno do combate ao “sistema”, rejeitando a imprensa tradicional, as universidades, o Judiciário e até mesmo o processo eleitoral. Segundo levantamento do Data Folha (dez/2022), 35% dos brasileiros acreditavam que havia fraudes nas urnas eletrônicas. Uma crença sem qualquer comprovação, impulsionada por discursos políticos irresponsáveis.

Do outro lado, a esquerda, liderada por Lula, consolidou-se como força de resistência, defendendo o fortalecimento institucional e viabilizando mais um ciclo democrático. No entanto, o debate entre os dois campos dificilmente ultrapassa a superficialidade. Qualquer tentativa de mediação ou posição mais equilibrada é imediatamente atacada por ambos os lados, o que agrava ainda mais o isolamento e a radicalização. Os extremos se alimentam mutuamente — e o centro, sufocado, não encontra espaço para florescer.

Essa polarização alcançou contornos disruptivos, chegando a ameaçar a estabilidade democrática. A invasão dos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, foi a consequência mais grave dessa escalada.

É urgente que a sociedade brasileira resgate o valor do diálogo, da escuta e do respeito às diferenças. Não se trata de apagar as divergências ideológicas, mas de compreender que elas são parte essencial de uma democracia viva. O futuro do país depende da nossa capacidade de sair das trincheiras e retomar o debate público com seriedade, empatia e compromisso com o bem comum.

A política não pode ser tratada como guerra. Quando isso acontece, todos perdem. Principalmente a democracia.

Em última análise, a forma como a sociedade percebe a política molda diretamente o destino de uma nação. Somente uma sociedade politicamente madura e comprometida com o bem coletivo será capaz de distinguir entre o populista e o estadista (sim, eles existem). Será capaz de votar com consciência, fiscalizar projetos, avaliar condutas, analisar acordos e exigir políticas públicas sérias e eficazes.

Apenas um líder com espírito verdadeiramente republicano é capaz de conduzir a sociedade rumo a uma nação mais justa, sólida e democrática.

Sim, meus caros, a reponsabilidade é toda nossa.

Compreender essa percepção é compreender, acima de tudo, que a responsabilidade é toda nossa enquanto sociedade.

Referências:

  • Casarões, G., & Magalhães, D. (2022). A democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. Zahar.
  • Datafolha. (2022). Pesquisa sobre confiança nas urnas eletrônicas. Disponível em: https://datafolha.folha.uol.com.br

*MARILSA PRESCINOTI com revisão de MARESSA FERNANDES

 










De acordo com suas próprias palavras:

-Empresária;
-Paulista;
-Gosto de filosofia; política; do Estado de SP e de gente bem resolvida.


Nota do Editor:

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