Sempre que se ouve, vê e lê notícias sobre conjuntura econômica, a análise é técnica, mas a visão que o economista tem sobre a vida fica inerente. Vou exemplificar contando uma vivência:
Quando terminando o último ano letivo de Bacharelado em Ciências Econômicas, houve a organização de uma Semana de Economia com palestras de renomados economistas da época. Um deles me chamou a atenção pelo seu pessimismo quanto a conjuntura atual e futura. Eu o abordei ao final da palestra comentando sobre o fato. Ele replicou: "Filha, você é jovem. Quando tinha sua idade era completamente otimista. Depois o tempo vai passando e hoje sou completamente pessimista, ou seja, o que vier é lucro". Ao ouvir isso e nunca mais me esquecendo, estou numa idade de estar meio pessimista. Mas quando me pego pensando assim, lembro disso e procuro olhar a conjuntura com o máximo de otimismo possível.
Esclarecido isto, vamos analisar de um ponto de vista otimista o viés inflação versus mercado de trabalho, perspectivas 2017, afinal, melhora, fica igual ou piora?
Segundo o IPEA, (boletim completo aqui),a inflação gera uma diminuição da atividade econômica, mas os primeiros meses de 2017 mostraram que houve um sensível aumento, mostrando tendência para recuperação, isso não significa que já está tudo recuperado, mas que a curva começa a ser ascendente (explicada nesse artigo). alta do desemprego deve continuar, dado que mercado de trabalho responde de maneira defasada a atividade econômica.
Mas ao final de 2017 para os mais otimistas pode se reverter o ciclo de desemprego para emprego. O problema foi o inflacionamento de empresas "parceiras" dos governos, que faturavam sobre contratos nem sempre claros, ocasionando de muitas empresas ficarem com os nomes envolvidos em investigações como a Lava Jato, entre outras. Isso gera uma parada em novos contratos, geralmente de obras, que gera muitos empregos para mão de obra não especializada. Há mercado para emprego, mas ainda assim a mão de obra não se adequou a novos postos e funções, haja visto que a mercado de trabalho tem evoluído em tecnologia, trazendo facilidades, mas ao mesmo tempo tirando funções antes existentes.
Vamos mostrar um comparativo de funções que hoje existem mas não existiam, e funções que hoje tendem a desaparecer, e algumas perspectivas para oportunidades de trabalho nos próximos anos:
Funções que não existem mais:
➢ Operador de Telex (eram 06 horas) ( tabela 1)
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➢ Datilografo
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➢ Telegrafista
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➢ Operador de Radio PY, empresas em grandes distancia tinham este profissional, onde o telefone não chegava.
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➢ Motoneiro ( condutor dos bondes)
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➢ Mecânico de Automóvel o antigo, pois hoje troca-se chip nos veículos e demais placas de controle.
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➢ Arquivista
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➢ Operador de Kardex – Cardex é o nome de antigo sistema arquivos de fichas e um armário. No armário as fichas são colocadas em uma determinada ordem: assunto, título, cliente
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➢ Operador Contábil – usava uma maquina enorme onde eram lançadas as fichas do razão.
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➢ Operador de mimeografo (as escolas tinham este profissional)
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➢ Caneteiro – profissional que consertava canetas tinteiro, muito comum no centro da cidade de SP, hoje existem ainda, mas são de algumas lojas.
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➢ Operador de microcomputador
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➢ Digitador (06 horas)
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➢ Barbeiro
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Alguns barbeiros modernizaram-se e criaram uma "barbearia conceito", mas ainda muito pouco conhecida no Brasil.
Profissões ameaçadas de extinção nos próximos 20 anos:
Área
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Profissão
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(tabela 2)
Probabilidade de robotização em 20 anos
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Arquitetura e Engenharia
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Cartógrafo
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87,9%
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Desenhista de eletroeletrônicos
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80,8%
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Administração e Finanças
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Contador na área de impostos
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98,7%
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Assistente de empréstimos
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98,4%
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Analista de crédito
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97,9%
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Analista de orçamento
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93,8%
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Vendas
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Operador de telemarketing
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99%
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Caixa
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97,1%
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Vendedor de varejo
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92,3%
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Vendedor de seguros
|
91,9%
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Direito
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Assistente paralegal
|
94,5%
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Educação e informação
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Arquivista
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75,9%
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Bibliotecário
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64,9%
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Assistente de professor
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55,7%
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Gastronomia
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Cozinheiro de restaurante
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96,3%
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Garçom
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93,7%
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Cozinheiro de lanchonete
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82,7%
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Barman
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76,8%
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Transporte
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Motorista de caminhão
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97,8%
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Taxista
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89,4%
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Motorista de ônibus
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88,8%
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Auxiliar de estacionamento
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87,4%
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Fonte: Universidade de Oxford
Pode-se notar na tabela acima que muitas profissões em muitas áreas, pela evolução da tecnologia não terão mais razão de existir (como as da tabela 1), então é bom atentar e se estiver nessa área readeque-se desde já.
Os governos Federal e Estadual criaram nos últimos anos programas de capacitação de mão de obra com recursos próprios e em alguns casos parceria com a iniciativa privada. A tendência é que cada vez mais os profissionais se readequem, e estejam antenados com as mudanças do mercado. Essa resiliência torna-se diferencial, tanto para o indivíduo, quanto para as organizações, e para o país como um todo. Modernização, aprendizado e atualização constante fará que o Brasil ainda se mantenha no ranking dos emergentes e quem sabe volte a ser o 5º em PIB (embora esse não seja um indicador qualitativo, apenas quantitativo).
Concluindo: se os programas de capacitação de incentivo funcionarem, a médio prazo o mercado de trabalho terá profissionais adequados (e espero) com maior produtividade, isso perfazendo uma retomada na atividade econômica em ritmo de suave ascensão para ascensão. Isso para os economistas mais otimistas em fins de 2017. Ano eleitoral, 2018 com certeza terá injeções de recursos do governo para tentar acelerar para que a situação ganhe as eleições. Como ainda otimista, que a resiliência do brasileiro nos ajude a sair dessa. E em breve.
POR ANA PAULA STUCCHI
- Economista de formação;
- MBA em Gestão de Finanças Públicas pela FDC - Fundação Dom Cabral;
- Atualmente na área pública
- Twitter:@stucchiana
- Atualmente na área pública
- Twitter:@stucchiana
Nota do Editor:
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