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sábado, 29 de abril de 2017

E aí a Letra Cursiva sumirá do mapa?

Cada vez que a professora deixava a tarefa na lousa, Juliana (8 anos), não a copiava no caderno. Se atrapalhava com o traçado da letra cursiva, demorava pra entender algumas letras e terminava por não escrever. Por isso, pedia sempre a sua professora pra copiar a tarefa diretamente do livro impresso.

A vida social de hoje é toda impressa e digital, e muito mais para a nação digital da nova era. Sim a manuscrita está sendo cada vez mais relegada pelas novas gerações, com a letra cursiva essa tendência se acentua, inclusive no âmbito cotidiano. Por exemplo, nas escolas de Buenos Aires, na Argentina, os professores priorizam que alunos aprendam o que escrevem; compreensão e produção textual com escrita manual e digital-cursiva e letra de fôrma. 

Na Finlândia, desde o ano passado as crianças aprendem um tipo de escrita, a letra de fôrma, e nos Estados Unidos, desde 2014, a cursiva não é mais obrigatória. Valéria, mãe de Juliana, entende toda essa evolução como símbolo da nova geração: para sua filha, que estuda em um colégio particular, não é comum escrever em cursiva, pois para ela, torna-se difícil unir uma letra na outra e dar continuidade nos traços característicos de cada letra. Conta-nos ainda que no grupo de WhatsApp da escola, criado pelos pais e professores de alunos, muitas vezes costumam enviar fotos dos cadernos para que pais possam ajudar a interpretar o que seus filhos escreveram em cursiva, pois muitas vezes, a escrita é ilegível. "Qualquer pôster que a gente vê, na TV, no computador... Tudo está em letra de fôrma. A cursiva morreu quase por completo”!-diz Valéria-. “No 1º ano começaram com a letra de fôrma. Mas a partir do 2º, já começaram com a cursiva, enviando atividades no caderno para fazer tarefas em casa”. -Concluiu.

Em muitas escolas, professores sempre começam o ensino de crianças com o uso do lápis de cor, lápis e lapiseira, para tão logo darem inicio a escrita cursiva. Mas nos últimos anos, esse paradigma mudou, e hoje prioriza-se a produção escrita e não o tipo de letra. "Em vários casos, observa-se que a criança elaborava produções muito interessantes, com a letra de fôrma, mas que, ao escrever em cursiva, essas mesmas crianças não tinham a mesma sorte, e o texto produzido, havia empobrecido muito textualmente. Ocorria que ao ser mais completa e desenhada, a letra cursiva requeria mais tempo e trabalho, dificultando assim, o bom desempenho na produção textual”. Explica Diana Capomagi, assessora pedagógica de uma rede de colégios.

“Muitos professores de ensino Fundamental percebem a dificuldade quando o assunto é letra de fôrma ou letra cursiva, assim como a utilização da letra minúscula e maiúscula”. 

Mas a pergunta que fica é: Será que perdemos o modo da escrita quando deixamos largamos o hábito de escrever em cursiva? 

Julieta Fumagalli, investigadora do Instituto de Linguística da UBA, explica que a cursiva tem uma incidência benéfica no aprendizado da escrita pela palavra, pelos seus rasgos e características próprios que se distinguem de outras letras, eliminando ambiguidades e pelo gesto do traçado que ajuda a compreender a orientação da esquerda pra direita. Ao mesmo tempo, observa-se um impacto positivo na leitura: “Não se deve abandonar a escrita cursiva. É obvio que a escrita de fôrma é muito mais fácil para que o aluno decodifique e mais rapidamente comecem a ler e escrever. Mas acredito que esse novos leitores, devem primeiramente acostumarem-se com todos os modos de escrita, para que assim, possam poder ler, interpretar e escreverem qualquer texto, em qualquer escrita” Explicou. 

A professora Maria Margareth Osório, que hoje ocupa o cargo de vice-diretora em uma Escola Estadual, em Belo Horizonte, disse acreditar no desaparecimento da letra cursiva: “No meu entender a letra cursiva está fadada a desaparecer, porque as pessoas só querem saber de teclar e, ao teclar, deixam de escrever. Hoje não se escreve mais, abrevia-se”. Avaliou. Ela como diretora, não impõe um modo de escrita, mais pede para que a escrita cursiva seja ensinada, para que a criança desenvolva o gosto pela escrita e pela leitura.

Já para Francisca Paulo Toledo Monteiro, que trabalha com alfabetização e letramento na Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em São Paulo, o ensino da letra cursiva no país teve papel importante para a exclusão de milhares de pessoas, no contexto de alfabetizar, pois segundo Francisca, antigamente, a escola excluía alunos com síndrome de Down, paralisia cerebral e outros problemas motores que não conseguiam escrever em letras cursivas. 

A diretora do Instituto de Neurociências & Educação da Fundação Ineco, Florência Salvarezza, conta-nos que historicamente, considera importante a cursiva, pois a mesma representa o processo de alfabetização do individuo e que professores deveriam optar pela união do aprendizado da letra cursiva e da letra de fôrma, apresentando um processo híbrido de alfabetização. 

Não se sabe como irá evoluir a sociedade, com as mídias digitais, TICs e novas modalidades de aprendizados virão. O certo é que a escrita cursiva se transformou, assim como os monges, mas não desapareceu".

POR ADRIANA RAMIREZ














-Paraense, filha de venezuelano e mãe brasileira;
-Graduada em Letras-Português/Espanhol e Literatura;
-Pós-graduada em Cultura Afro-Brasileira;

-Tradutora Juramentada e Intérprete Comercial pela Meritíssima Junta Comercial do Pará (JUCEPA);e
-Autora de 2 livros:
-“A Influência Africana na Formação Cultural do Pará: Análise das Principais Manifestações Folclóricas Paraenses” e
-“La Femme - O Feminino Em Sade”.;
- Concluiu em 2015 Mestrado Profissional de Enseñanza de Español como Lengua Extranjera e está cursando Mestrado em Educação

Nota do Editor:


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sexta-feira, 28 de abril de 2017

LULA- O Fim do Mito


Luís Inácio Lula da Silva, sindicalista, que teve destaque no final dos anos 70 e na década seguinte devido a sua imensa atividade sindical criou o partido dos trabalhadores. Teve um papel importante no fim da ditadura de 21 anos, mobilizou multidões, fez greve, reivindicou direitos para a classe que representava e com isso se elegeu para a Câmara dos Deputados, sendo um dos membros da Assembleia Nacional Constituinte.

No final da década de 80, participou da 1ª eleição direta no pós ditadura militar, foi para o 2° turno e perdeu e todos sabem os motivos, não se precisa repetir. Por mais duas vezes, participou de duas campanhas presidenciais, organizou a caravana da esperança, visitou todo o Brasil, e o sentimento de esperança foi plantado para no futuro se assim a sociedade quisesse, chegaria ao poder, como de fato aconteceu na campanha presidencial de 2002, ganhou nos dois turnos e finalmente o partido fundado por trabalhadores chegou ao poder 22 anos após a sua fundação. 

Podemos assim dizer, que nos primeiros dois anos de governo, houve realmente um grande destaque para os programas sociais de inclusão, com destaque ao programa “fome zero”, o país quitou a sua dívida histórica com o FMI e alcançou a inédita marca de crescimento de 7,5% do PIB, o país atravessava um bom momento desde o plano real. Tudo transcorria as mil maravilhas, mas o castelo começou a ruir com o descobrimento do mensalão, um grande esquema de corrupção da época e que quase custou a sua reeleição, houve uma investigação pesada, grandes nomes do petismo como José Dirceu, Delúbio Soares, foram presos e condenados, Palocci caiu por causa de corrupção, mas a principal estrela petista saiu incólume desta triste página brasileira.

Ao final de seu 2° mandato, sem perspectivas de eleger um nome forte para continuar com o programa de governo petista, pois na minha opinião os próximos presidentes seriam José Dirceu ou Antonio Palocci, mas os mesmos se envolveram em esquemas de corrupção, Lula teve que usar todo o seu prestígio para eleger Dilma Rousseff e foi o que aconteceu. A sua substituta arrogante e prepotente, não teve o mesmo desempenho de seu mentor, muitas das vezes o contrariou e tomou suas próprias decisões, todas erradas por sinal, faltou-lhe a experiência política. Se reelegeu nas eleições mais ferozes que se teve notícia, mas seu 2° governo foi um verdadeiro desastre, a economia estava naufragando, houve pedaladas fiscais e por fim se deu o seu impeachment.

Paralelo a isso, foi deflagrada a operação Lava Jato, operação essa que está sendo um divisor de águas em termos éticos e políticos, de longe deve ser o maior esquema de corrupção do mundo e Dilma estava acuada, sem rumo, Lula alvo de denúncias e delações se sentia em perigo de ter a sua liberdade privada, foi nomeado ministro da casa civil, mas o juiz Sérgio Moro, horas antes, liberou escutas telefônicas devastadoras, onde houve uma tentativa obstrução da justiça por parte da Presidente da República e de Lula, ao final sua nomeação foi rejeitada pelo plenário do STF, ou seja, o velho sindicalista estava sem foro.

Com o avanço da operação lava jato, mais evidencias contra Lula apareciam, triplex do Guarujá, sítio em Atibaia, palestras suspeitíssimas, entre outras denuncias, o sindicalista que movia multidões através de sua retórica populista, estava sem discurso, a ética foi embora, está enlameado até a alma com a corrupção e ainda tem coragem de dizer que é a alma mais honesta do Brasil, eu ainda vou mais longe na ironia, talvez seja a alma mais honesta das galáxias.

Com a delação premiada da família e executivos da Odebrecht, os depoimentos de Léo Pinheiro, além do engenheiro da reforma do sítio em Atibaia, reforçam o sentimento de que a prisão será o seu destino, questão de tempo, pois se precisa de uma sentença sólida, com provas e testemunhos irrefutáveis, para que a alma mais honesta das galáxias fique preso alguns anos.

O esquema dele é bem engenhoso, não está no seu nome, mas as provas de que se beneficiou de todas as benesses da corrupção, estão na mídia e são fartas. O mito LULA acabou, representa alguma ameaça, sim representa, não tem mais o poder de mobilização, a massa está mais esclarecida, as informações são compartilhadas em tempo real, as mentiras são desmascaradas e não vale mais a velha tática nazista de que se repetir uma mentira mil vezes a mesma se tornará verdade. Velho mantra do petismo e do vocabulário surrado e previsível da política, nunca fizeram isso ou aquilo, nunca souberam de nada.

O caminho do velho caudilho populista é a prisão, disso eu particularmente não tenho dúvidas.


POR MARCELO AUGUSTO DOS SANTOS PINHEIRO



– Advogado – OAB/AM nº 9.365
- Especialista em Direito Civil e Processo Civil;
-Área de atuação: cível, ambiental, eleitoral e constitucional.
Fundador da Marcelo Pinheiro - Advocacia

Nota do Editor:
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quinta-feira, 27 de abril de 2017

O que é Justiça para a Doutrina Espírita?


Primeiramente, cabe conceituar o termo justiça que, de acordo com o Dicionário Aurélio é: “1. a virtude de dar a cada um aquilo que é seu; 2. é a faculdade de julgar segundo o direito e melhor consciência”.

Portanto de maneira simples, justiça diz respeito à igualdade de todos os cidadãos.

O conceito de justiça na história é bem interessante e destaco aqui, entre tantos conceitos existentes, o de Platão, filósofo grego da antiguidade, considerado um dos principais pensadores da história da filosofia.

Nesse sentido, portanto, Platão reconhece a justiça como sinônimo de harmonia social, relacionando também esse conceito à ideia de que o justo é aquele que se comporta de acordo com a lei. Em sua obra A República, Platão defende que o conceito de justiça abrange tanto a dimensão individual quanto coletiva: a justiça é uma relação adequada e harmoniosa entre as partes beligerantes de uma mesma pessoa ou de uma comunidade. Platão associava a justiça aos valores morais. 

Perante a Doutrina Espírita, destacarei o Livro dos Espíritos que, em seu Capítulo XI, trata da Lei de Justiça, Amor e Caridade e na questão 875 trouxe a seguinte definição: “A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um”.

E para entendermos melhor o conceito acima, as questões 614 e 621, respectivamente estabelecem: “A Lei Natural é a Lei de DEUS. é a única necessária à felicidade do homem. ela lhe indica o que ele deve fazer ou não e ele só se torna infeliz porque dela se afasta”; “A Lei de DEUS está escrita na consciência de cada homem”. 

Vejamos ainda, um trecho do comentário retirado, do segundo parágrafo do comentário da questão 617.a, também do LE:

“Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: as leis físicas, cujo estudo pertence ao domínio da Ciência. 
As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas suas relações com Deus e com seus semelhantes. Contêm as regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma: são as leis morais.”

Pode-se observar, portanto, que a Lei Natural é tudo o que existe na obra da criação e está presente no mundo material e espiritual, sendo uma representada pelas leis morais (mundo espiritual) e outra pelas leis físicas (mundo material).

Nesse contexto, observa-se que os direitos dos homens são determinados por duas leis: a humana e a natural:

Lei humana: os homens constroem leis de acordo com seus costumes e caráter, porém essas leis variam de acordo com o progresso, são mutáveis e nem sempre o direito dos homens são exercidos com justiça, pois, regulam as relações sociais e extinguem-se junto com as suas instituições/organizações.

Lei natural: regula atos de competência exclusiva do tribunal da consciência, são iguais para todos e são eternas.

É comum ouvirmos as pessoas reproduzirem o que Cristo disse: “querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Mas o que de fato devemos entender por essas palavras? 

DEUS pôs no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o outro, o homem deve perguntar a si mesmo, como gostaria que agissem com ele e, agindo assim, verifica-se que DEUS não lhe poderia dar um guia mais seguro que a sua própria consciência.

Assim, como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o bem. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.

Pode-se afirmar aqui que estamos diante da justiça divina e da lei natural, onde uma está inserida na outra, complementando-se.

Observar que com a necessidade de vivermos em sociedade, há de se respeitar os direitos de seus semelhantes e assim estaremos todos praticando a justiça uns com os outros, posto que a vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

Portanto, no nosso dia-a-dia podemos praticar a lei da justiça divina relevando e esquecendo os comentários e insultos desagradáveis que ouvimos dos nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho, bem como os enganos que essas pessoas cometem, ainda que haja algum tipo de prejuízo, na medida em que, agindo desta forma, evitaremos desentendimentos, inimizades, atritos desnecessários e agressividades gratuitas.

Assim, levando em consideração que cada um dá o que tem, se nos oferecerem destemperos emocionais, devemos relevar tais atitudes, pois não somos obrigados a acolher esses sentimentos desajustados, e assim não criaremos desarmonia nas relações com essas pessoas e nem conosco mesmos, tampouco. 

Devemos atentar que o nosso sentimento e a nossa atitude para com aquele que erra deve ser de amor, pois devemos nos colocar no lugar do ofensor até para saber os motivos que o levaram a agir equivocadamente, procurando sempre ajudar, ainda que sob a forma silenciosa do perdão e da oração.

Nesse sentido, verifica-se que: o amor é um componente básico no exercício da justiça, na medida em que ambos, “justiça e amor” são leis divinas, portanto compatíveis na sua aplicação conjunta:

Justiça = não fazer ao semelhante o mal que não queremos para nós.

Amor = fazer ao semelhante o bem que queremos para nós.

Por fim, na questão 879 do Livro dos Espíritos, reproduzida abaixo, deixarei como fonte de reflexão, pois entendo que todo cristão deve pensar nessa afirmação antes de tomar qualquer atitude para com o seu semelhante: 

“Como resumir o caráter de quem pratica a justiça de acordo com a lei divina? 

R.: O do verdadeiro justo, pois, a exemplo de Jesus, praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.”

Bibliografia consultada:

Allan Kardec – Livro dos Espíritos, Capítulo XI, questões: 614, 617a, 621, 875, 875a, 876, 877, 878, 878a, 879; 

Richard Simonetti – A Constituição Divina - Justiça Iluminada – p. 131 a 133; 

Platão – Site Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Justiça 
POR MARIA DE LOURDES MORAES LIRA












-Advogada e Consultora; 
-Especialista nas Áreas Trabalhista e Previdenciária - OAB/SP nº 130.175 e
-Espírita e estudante da Doutrina

Nota do Editor:

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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Responsabilidade pela Publicidade Enganosa ou Abusiva



O Código consagrou o princípio da veracidade da publicidade ao proibir a publicidade enganosa no seu artigo 37: “É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.” Esse é o grande avanço do Código de Defesa do Consumidor, apresentar um regramento jurídico claro da publicidade enganosa e abusiva, dando-lhe, ademais, capacidade de vinculação contratual. Conforme o §1º do citado artigo 37: “É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.” Trata-se, como se vê, de conceito bastante amplo, mormente tendo-se em conta que a enumeração nele contida é exemplificativa. Depreende-se do conceito legal, todavia, que o elemento fundamental para a caracterização da publicidade enganosa será a sua capacidade de induzir em erro o consumidor a respeito de qualquer dado do produto ou serviço objeto da publicidade. O critério é finalístico: a indução a erro.

O princípio da não abusividade da publicidade está inserido no §2º, do artigo 37, do CDC, que assim define a publicidade abusiva: É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.” Na realidade, o Código não conceituou a publicidade abusiva, apenas a exemplificou em um elenco não exaustivo. E assim fez porque até hoje a doutrina não concebeu um conceito satisfatório de publicidade abusiva. Trata-se, na verdade, de um conceito em formação, um conceito jurídico indeterminado que deve ser preenchido na construção do caso concreto. De se observar, entretanto, que todas as modalidades de publicidade abusiva elencadas no dispositivo supracitado importam em ofensas a valores constitucionais, ambientais, éticos e sociais, e é isso que, como regra, a caracteriza.

Quem responde pelos danos causados ao consumidor pela publicidade enganosa ou abusiva? Só o anunciante(fornecedor) ou também a empresa de comunicação que veicula o anúncio? O CDC, como vimos, obriga (responsabiliza) o fornecedor que veicula a publicidade, consoante artigos 30 e 35. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Não tem a empresa de comunicação a obrigação, às vezes nem condições, de controlar o teor da publicidade que veicula, devendo ainda ser ressaltado que o artigo 13, inc. VI, do Decreto nº 2.181/1997, que regulamentou o CDC, responsabiliza o anunciante até pela incorreção publicitária atribuível exclusivamente ao veículo de comunicação.

O CDC foi concebido para regular a relação de consumo estabelecida entre aqueles que se enquadrem como consumidores e fornecedores. Assim, é que o Código, especialmente nos capítulos da oferta e publicidade, impõe deveres ao fornecedor-anunciante e não aos veículos de comunicação, propaganda e anúncios. Então, os deveres impostos nos capítulos da oferta e publicidade somente atingem os veículos de propaganda, comunicação e anúncios quando estejam na condição de fornecedores. Não é dever dos veículos de comunicação apurar, em princípio, veracidade ou abusividade do anúncio contratado, pois esse ônus é do fornecedor- anunciante, que poderá responder pelo patrocínio da eventual publicidade enganosa ou abusiva. 

Em suma: os veículos de comunicação não respondem por eventual publicidade abusiva ou enganosa. Tal responsabilidade toca os fornecedores-anunciantes, que a patrocinam. 

POR  FLÁVIO CARDOSO



















- Advogado - OAB/SE 8.904;
- Especialista em Direito Público;
- Pós-Graduado em Direito do Consumidor;
- Membro da Comissão de Direito do Consumidor da OAB/SE;

- Sócio do Escritório CBZ Advogados

Nota do Editor:


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terça-feira, 25 de abril de 2017

13 Reasons Why – Por que vale a pena assistir?





Há pontos muito importantes abordados na série que vem dividindo opiniões e levando muita gente a se identificar em algum momento.

Pode ser que você sinta a série se arrastar, que considere muita coisa ‘clichê’, e se incomode com a insegurança e as decisões que as/os adolescentes – e também os adultos – tomam. Mas por que ainda assim vale a pena ir até o fim?

13RW retrata fiel e cruelmente vários pontos do nosso cotidiano. Algumas pessoas irão se identificar mais, outras menos, mas é bem possível que você se identifique com pelo menos um deles, e sinta na pele cada sofrimento. Sofrimentos que estão diretamente ligados à insensibilidade e falta de acolhimento da maioria das pessoas que nos cerca.

Algumas das razões que fazem valer a pena assistir:

A temática

A série aborda questões muito antigas e que são também muito atuais; bullying, depressão, abuso, suicídio, e como todas essas quatro coisas podem estar entrelaçadas.

Nada é ridículo ou pequeno

Um a um os episódios vão mostrando o quanto uma série de coisas que vão dando errado, e que normalmente são consideradas pequenas, ridículas, e não dignas de atenção, não só podem agravar e muito a vida de alguém como podem fazer com que em algum momento a pessoa “quebre”, desistindo de lutar.

“Repara bem naquilo que eu não digo”

Fica muito claro para quem assiste que quase ninguém ali está de fato interessada/o em ouvir. Quando conversam cada uma/um parece estar falando de si o tempo todo, sem deixar espaço para a dor da outra pessoa.

Pais e mães que não ouvem

As mães retratadas são extremamente invasivas, enquanto os pais pecam pela falta. Ambos tentam se comunicar de alguma maneira, mas são raras as vezes em que conseguem deixar que a/o adolescente fale, e escutá-la/o sem um bombardeio de perguntas que termina fazendo com que a/o adolescente desista.

A árdua tarefa do adolescer

A adolescência é uma fase de transição cheia de desafios, medos, dúvidas, conflitos e inseguranças, e nem sempre os pais e mães conseguem lidar muito bem. Por isso a ajuda profissional pode ser muito rica tanto para a/o adolescente quanto para os pais e mães.

A imagem da depressão é a de alguém sempre triste 

13RW mostra uma adolescente que apesar das mudanças de humor, e de estar desmoronando por dentro, passa grande parte do tempo sorridente e comunicativa, e isso é fantástico porque uma pessoa depressiva não necessariamente passa os dias em casa, chorando, e essa imagem da depressão é muito errada. Muitas vezes atrapalha, e faz com que a oportunidade de acolher alguém seja perdida.

“Why her?”

Não tem como não notar que Hannah é uma adolescente que teoricamente está dentro dos padrões, e sofre bullying. Será que em algum momento da série você se questionou sobre isso? Seria só um padrão de hollywood? Esse é mais um ponto que para mim foi interessante e faz muito sentido no contexto.

Quando as pessoas ouvem alguém que se encaixa nos padrões socialmente estabelecidos dizendo que sofre, ou até mesmo aparentando sofrer, a tendência é ignorar. A visão que se tem daquela pessoa é de alguém forte e que tem tudo, ou quase tudo. O que também é um erro, fazendo com que a oportunidade de acolher alguém seja perdida.

Estupro

Não tem como não se sentir na pele de Hannah ou Jessica. As cenas são muito frias. Principalmente a cena em que Hannah é estuprada, onde mostra claramente alguém que desiste de lutar. E essas duas cenas retratam muito bem, algo que está inserido em nosso dia a dia. 

O machismo 

Quando Hannah decide conversar com o conselheiro da escola ela é bombardeada por perguntas que a tiram do lugar de vítima e imediatamente a culpabiliza. Alguma semelhança com o que ocorre com a maioria das vitimas de abuso que decidem buscar ajuda? Toda.

Sobre ter algo em que se apoiar

A conversa entre Clay e o seu pai que eu mais gosto é quando o pai fala que também foi um alvo na escola, mas que ele teve algo em que se apoiar e que o ajudou a passar por tudo. E penso ter sido exatamente o que faltou para Hannah. Por mais que ela buscasse, não encontrava nenhum apoio, ninguém que a enxergasse e a acolhesse, e no final de uma série de coisas que vão dando errado, incluindo as tentativas de acolhimento, ela chega ao ponto de tirar a própria vida.

Para finalizar; a série tem sim os seus problemas que em minha opinião são problemas de roteiro, mas tem uma temática fantástica que compensará ir até o fim. 

Pessoas têm me perguntado se é recomendada para todas as idades, e independente da idade, penso que é bom ter em mente que a série trata de um tema muito presente, mas nem por isso leve, e é difícil não se identificar, então vai de pessoa para pessoa. 

Aconselho que você fique atenta/o ao seu sentimento enquanto assiste ou até mesmo antes de assistir, e que não assista se for muito desconfortável ou que pelo menos não assista sem ter algum apoio, e caso perceba um incomodo em uma pessoa próxima, tente conversar sobre com ela. Lembre-se; nada é ridículo ou pequeno.

Texto originalmente postado em www.psicologakarlak.com.br em 18/04/2017.

 POR KARLA KRATSCHMER 


-Atua na área clínica com uma psicoterapia de base psicanalítica para adultos, adolescentes e casais;
-​O consultório fica localizado no bairro Chácara Santo Antônio, na ZS de São Paulo/SP, na região das ruas Verbo Divino e Alexandre Dumas;
-​Oferece atendimento particular, por plano de saúde via reembolso, ou pelo PROGRAMA DE PSICOLOGIA DIFERENCIADA. 
Contato: 
karlak@karlak.com.br 
(11) 9-9613-5444 (chamadas e WhatsApp) |www.psicologakarlak.com.br 


Nota do Editor:

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segunda-feira, 24 de abril de 2017

Um Conto da Meia-Noite



Todos os assuntos tratados à meia-noite ficam mais sérios.

Yolanda concordou que a sentença fora dita corretamente. Procurar por uma cartomante, sem saber ao certo da sua existência, parecia uma brincadeira de criança, mas fazer isso tarde da noite despertava os instintos e os medos mais primitivos.

-Não importa. Estamos aqui e vamos até o final.

As três amigas já haviam caminhado muito e se arriscado muito, pois seriam severamente castigadas pelas pessoas da sua vila, se essas soubessem para onde elas estavam indo.

Por sorte – ou azar – era noite de lua cheia e o satélite iluminava a mata e as três amigas foram serpenteando sobre os trieiros até encontrar aquela choupana pela primeira vez na vida.

-Você bate na porta!

Yolanda recebeu com espanto a ordem das duas amigas.

-Por que eu?

Não foi possível argumentar. Afinal de contas a curiosidade as havia levado até lá. Seria o desejo de controlar o destino? Ou melhor, de se antecipar ao destino. Brincadeira de criança?

Três batidas tímidas foram suficientes para a porta se abrir.

- Não vi ninguém abrindo a porta. Como isso aconteceu?

A respiração das jovens agora estava suspensa. Nenhuma luz iluminava a velha casa. Nenhum som no seu interior. 

- Não tem ninguém neste lugar. Caímos como bobas numa estória contada para boi dormir. Vamos embora agora.

Ao virarem de costas um vento frio soprou os cabelos das jovens e as folhas espalhadas pelo chão.

- Entrou cisco nos meus olhos.

Com os olhos cerrados contra o vento e o tempo, pois logo seria dia, as jovens iniciaram a jornada de volta para a vila quando Yolanda foi pega pelo braço.

- O que você precisa saber? Pode me perguntar.

Os gritos das adolescentes ecoaram por toda a floresta. Pássaros que dormiam revoaram, lobos uivaram para acompanhar os urros afinados das duas jovens que corriam de volta para casa como gazelas fugindo de uma onça.

- O que você precisa saber? Pode me perguntar.

Yolanda não conseguiu acompanhar as duas amigas. Ela ficou petrificada com a presença daquela mulher de cabelos brancos, pele cinza, olhos opacos e corpo frágil. A voz, no entanto, denotava autoridade e um tipo de confiança que só o tempo é capaz de forjar.

- O que você precisa saber? Pode me perguntar.

Naquele momento nada passava pela cabeça de Yolanda. O medo paralisou os músculos e a mente. O vento assobiava forte, os galhos bailavam nas copas das árvores, num movimento que contrastava com a inércia de Yolanda.

-O que você quer saber? Pode me perguntar.

Os jovens sempre agem como jovens. Eles procuram a aventura, mas não planejam a viagem. Há poucos dias as jovens ouviram a lenda – assim pensavam – da cartomante que morava sozinha na floresta. 

Como jovens que eram duvidaram. Eram jovens - não se esqueceram da história - e se entregaram à imaginação.

- Essa cartomante existe? Porque ela nunca foi vista na nossa vila? Será que ela sabe tudo mesmo? 

Não se sabe explicar porque as mulheres são mais curiosas que os homens. Mas elas são. É fato também que as três jovens, receando um futuro cheio de problemas, de misérias e de doenças – como sempre acontecia na sua vila – resolveram que iriam perguntar para a cartomante qual seria o destino delas.

- Você veio aqui para me perguntar. Você não sabe fazer uma pergunta? Sou velha e logo estarei misturada com a terra. Pergunte-me! Pergunte-me! Eu sei que estou morrendo e não posso deixar de responder a mais uma pergunta. Vamos piralha!

O que se sente quando se está perto da morte? Yolanda sempre se fez essa pergunta. Era curiosa e ansiosa. Não sabia esperar. Afoita, acreditava que a contemplação e a aceitação eram coisas interditas para os jovens. Ah, os jovens.

- Não me deixe morrer sem responder a mais uma pergunta!

A cartomante – ou bruxa – ninguém nunca soube explicar, agora usava um ar ainda mais assustador. Era uma ordem. Era uma urgência. E nunca se deve deixar de atender o último pedido de uma pessoa.

Yolanda estava petrificada e nada podia falar ou responder. Na vida somos sempre mal compreendidos e a inércia da jovem foi encarada como desprezo e desconsideração. Enfurecida a velha mulher vaticinou:

- Você só vai morrer no dia em que o seu amor morrer.

O susto foi enorme. Como aquela bruxa poderia saber da existência de Antônio? Yolanda amava Antônio profundamente e sabia que se casaria com ele. Foi por isso que ela foi à floresta. Ela só precisava saber os detalhes de como seria a sua vida a dois. Foi isso o que a levou a enfrentar a mata à meia-noite. 

***
Antônio era um jovem rico e bonito. Jovem, rico e bonito. Três palavras que soam como música para os ouvidos de uma mulher.

Meu Antônio isso, meu Antônio aquilo... Todos os assuntos de Yolanda a levavam a Antônio e ao casamento. Diga-se de passagem, ninguém nunca havia se preparado tanto para um casamento.

O enxoval é um assunto seríssimo para uma mulher e o enxoval de Yolanda era o assunto de toda a vila. Ele tinha custado uma fortuna... a inveja, entretanto, veio de graça.

A exultação de Yolanda incomodava suas amigas. Mulheres são competitivas e as amigas de Yolanda começaram a odiar aquela incontida felicidade. Tanto ódio e tanto olho gordo fizeram com que Antônio se interessasse por outra moça em pleno noivado. O rompimento foi feito por um simples bilhete que nada explicava, apenas indicava o fim do relacionamento.

Yolanda, que iria se casar, que teria filhos, que seria rica... ficou a ver navios.

***
As dores do amor são piores que a do parto.

A vida de Yolanda era agora dividida entre o esforço de esquecer Antônio e receber suas poucas amigas, que sempre traziam notícias do amado.

- Ele agora vai se casar e dar um anel de brilhante para aquelazinha. Petulante. Ele bem que poderia se mudar daqui. Ele é rico. Porque não se muda para São Paulo?

As pessoas pequenas sempre trazem notícias que afligem os amigos, no intuito falso de demonstrar consideração com a dor alheia. Realmente a inveja é a paralisia da alma.

Passados 10 anos a vida não havia voltado para Yolanda. Desde que Antônio se casara, o entusiasmo abandonara aquela pobre mulher. Música, poesia, comida, livros, nada preenchia o seu vazio existencial.

Perder é normal, conviver com a derrota não é. A vila era pequena e não havia como Yolanda não receber notícias sobre Antônio, o homem mais rico da região, pai de três filhos e o pior, bom marido!

O verde e as lembranças foram embora junto com a felicidade de Yolanda. Já não havia mais florestas naquele lugar. Tudo havia sido derrubado para a formação de pastos. Estradas foram construídas. Duas ruas paralelas demonstravam como agora viviam Yolanda e Antônio. Ela adoeceu. Definhou. Melhor assim, ela concluiu.

As amigas, todas já casadas, acorreram à casa de Yolanda, que morava sozinha. Filha única, ela perdera o pai - um militar sério que nunca tinha feito a barba - e a mãe logo após o término do seu noivado. A última década havia cobrado um preço alto. 

- As coisas ruins andam sempre em bando.

Naquela noite o padre deu a extrema unção. Era noite de lua cheia. Nenhum cachorro latiu durante a madrugada. O cheiro da morte deixou todas as pessoas arrepiadas. Elas só podiam aguardar e rezar.

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Yolanda acordou pela manhã como se tivesse acontecido. As pessoas ficaram num misto de espanto e felicidade.

- Ela não tinha que ter morrido?

-  Você quer que os outros morram?

- Num quero não. Só acho que era pra ter morrido.

A gente pequena da região comentou o caso por muito tempo. Foi Deus ou foi o sobrenatural? Ah, bobagem! Como se vai acreditar no sobrenatural se as pessoas desconfiam hoje em dia até da existência do Divino? 

Para Yolanda pouco importava todas essas questões. Uma nova chance lhe fora dada e ela teria que aproveitar.

Não aproveitou.

Logo a euforia foi abafada pela lembrança de Antônio. Da vida que não tiveram. Das viagens que não fizeram. Enfim, um fim.

O tempo passa rápido e Yolanda contava vinte anos do “término” da sua vida. Aliás, vinte anos e dois dias. Melhor seria se não lhe perguntassem os minutos, pois não se duvidava que ela também os contasse.

A vila agora era uma pequena cidade, pequena, mas apesar disso os seus caminhos nunca mais se cruzaram. Eram como duas retas paralelas. 

A fama precede o homem e Antônio fora eleito Prefeito e em seus discursos, amplamente comentados na cidade, elogiava sempre a “primeira dama”.

- Prefiro morrer!

Tudo que se deseja acontece e Yolanda ficou muito doente. Não existe remédio para a dor do amor e por isso os médicos puderam fazer muito pouco. 

- Eu vou morrer. Aliás, eu já morri.

As amigas de Yolanda agora não tinham mais inveja. A idade faz bem para as mulheres. Maduras, com os filhos criados, elas deixam de competir entre si e encontram a amizade que a juventude retardou.

- Não fale assim Yolanda. Não fale assim.

- Eu quero morrer e preciso descansar. Eu preciso morrer.

A mente cria a realidade. As pessoas se apinhavam em frente à casa de Yolanda em oração. A vigília da noite era regada pelo orvalho frio. Faz frio em outubro no cerrado. 

- Faz frio é no coração de Yolanda, disse uma amiga para outra.

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Ao final de cada crise Yolanda ressurgia forte, o que deixava todos aliviados e também assustados. Mas num repente a vitalidade ia embora e ela logo se entregava à tristeza e voltava a remoer a felicidade perdida.

- Eu preciso acabar com essa vida.

As pessoas, bem poucas, que conviviam com Yolanda faziam o sinal da cruz ao ouvir as suas palavras.

- Não diga isso. É pecado.

- Eu preciso acabar com essa vida.

Yolanda ficava repetindo esse seu mantra e com isso as poucas pessoas que conviviam com ela se preocupavam cada vez mais com a sua saúde mental.

Como sempre acontece com as pessoas que estão presas ao passado, Yolanda não conseguiu conter as areias do tempo. Cinquenta anos. Cinco décadas. Como o tempo voa! Será por isso que os sonhos não realizados têm asas?

Antônio se tornou tudo o que Yolanda sempre esperou. Ex-prefeito, ex-deputado, rico, culto, respeitado, marido, pai e avô. Seis netos. Lindos. A alegria da família.

- Yolanda precisava morrer. 

-  Eu preciso acabar com essa vida.

Yolanda estava presa ao passado. O passado para ela estava ali, esbarrando em cada corredor da sua vida não vivida. Não estudou. Não trabalhou. Não teve forças para construir uma existência. 

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Yolanda foi para a cama novamente, com esperanças de encontrar a morte, que insistia em não aparecer.

- Vossa Excelência tem que aparecer. Sua visita vai fazer bem para ela. 

Antônio estava dividido. Nunca mais ele tinha conversado com Yolanda. Aliás, ele se recordou que nunca chegou a dizer o motivo do rompimento. É ruim quando as coisas acabam, mas não terminam.

Yolanda ao longe repetia o seu mantra:

- Eu preciso acabar com essa vida.

O povo simples suplicou a Antônio. 

- Doutor, o senhor tem que fazer essa caridade. O senhor tem que correr. O tempo está passando. Amanhã pode ser tarde demais.

Antônio comentou com sua esposa que iria fazer uma visita para uma antiga amiga.

- Como eu nunca ouvi você falar dela?

Era uma boa pergunta. Antônio havia simplesmente ignorado Yolanda. Ela nunca tinha feito nada de errado. Ela era bonita, jovem, inteligente. Não havia um motivo concreto. Nunca houve. Uma hesitação? Um desejo de ficar solteiro por mais algum tempo? O medo de assumir responsabilidades sendo jovem, rico e bonito? Nunca se saberá explicar.

Antônio pensou em usar uma roupa simples, ele não queria impressionar Yolanda, mas mudou de ideia. Todos sabiam quem ele era e não adiantava disfarçar.

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Umas poucas pessoas esperavam Antônio na porta da casa de Yolanda. Na verdade era a casa dos pais dela. Yolanda nunca conseguiu sair do seu passado.

Uma vizinha, viúva, levou Antônio até a sala. Ele viu que estava tudo igual. Todos os móveis no mesmo lugar. Os retratos dos pais dela na parede. Assustado Antônio viu o seu retrato em cima de um aparador.

- Meu Deus.

Antônio foi avisado de que Yolanda estava na cama. O encontro não podia mais ser adiado. Ele entrou no quarto. Ela estava recostada na cama, encoberta por um fino lençol. Aquela era a cama de casal dos pais de Yolanda. Dois criados mudos ladeando o leito formavam o quadro de um museu, que guardava intactas todas as características de 50 anos atrás. Antônio sabia que não tinha dado qualquer explicação. Tinha sido insensível. A conversa que fora adiada por todos aqueles anos iria começar.

- O que você precisa saber? Pode me perguntar.

Yolanda perdeu a respiração. Ela nunca esquecera essas palavras e essa mesma pergunta. Não, não podia ser coincidência. É a mesma frase. Cada palavra, cada entonação, cada pausa, em tudo idêntica à pergunta feita pela cartomante – ou seria uma bruxa? – há meio século.

- O que você precisa saber? Pode me perguntar.

Coincidência? Nunca! Yolanda havia perdido o gosto pela vida. Ela desejava ardentemente abandonar a sua existência, mas estava presa. 

Yolanda olhou atentamente para Antônio. Um homem com seus setenta anos. Olhos firmes. Coluna ereta. Dedos grossos. Fala confiante. Em tudo ele era como um jovem. Levará mais de vinte anos para ele morrer, concluiu a aflita mulher.

- Terei que vê-lo brilhar ao lado de outra mulher por mais tanto tempo? Vou ser sempre lembrada do que perdi? Vou sempre me culpar por não ter tido a coragem de seguir em frente? Os pensamentos atormentavam a pobre mulher.

Ela não podia mais viver assim. 

- Eu preciso acabar com essa vida.

O rosto de Antônio ficou pálido quando ele encarou o revólver que Yolanda havia retirado da cômoda do seu pai e apontava em sua direção. Um disparo certeiro atingiu em cheio o coração do homem, que morreu instantaneamente.

Yolanda soltou a arma, deu um profundo suspiro e faleceu. A bruxa – ou seria uma cartomante? – acertou a sua última previsão. Mais uma sentença que fora dita corretamente:

Você só vai morrer no dia em que o seu amor morrer.”

POR LUCIANO ALMEIDA DE OLIVEIRA











- Marido, Pai,Advogado, Escritor 

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