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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O Futebol é Reflexo da Sociedade e Não a Sociedade que é Reflexo dele




O título pode afastar alguns que não gostam muito do esporte, e atrair outros pelo mesmo motivo. A verdade é que precisamos tratar o futebol como um esporte, e tal como todos os demais fazer a sua inserção no contexto social.


É comum no nosso cotidiano ouvirmos sobre violência no futebol. É ainda mais comum amigos e parentes mencionar com espanto para os frequentadores do estádio "Nossa! Você vai ao jogo? Mas não é perigoso?"

Os noticiários informam sobre torcedores do time "X" que se envolveram em confusão com a torcida do time "Y". Parece perigoso. E é perigoso mesmo. 

Ir ao estádio ver uma partida de futebol é tão perigoso quanto ir ao shopping, quanto ir passear no parque, é tão perigoso quanto ir ao seu banco, é perigoso tanto quanto qualquer atividade que envolva sair das grades de segurança da sua casa, porque essa é a atual sociedade que vivemos, ela que é perigosa, o futebol é apenas reflexo dela. 

É verdade que por atrair uma quantidade imensurável de pessoas de diversos credos, cores e camisas discordâncias são mais acentuadas, é verdade também que diversos criminosos se apropriam do esporte para cometer seus delitos. 

Mas, também é verdade que não existe violência no futebol, existe violência social, que também ocorre dentro do ambiente do futebol. 

Historicamente o esporte mais popular do país, se apresenta como alternativa para melhoria do cenário social. Exemplo disso é a luta contra o racismo e aceitação de pobres e negros juntos no mesmo ambiente, demorou sim, mas o futebol miscigenou as classes sociais.

Clubes como Vasco da Gama, Corinthians Paulista, Sociedade Esportiva Palmeiras, possuem em suas histórias glórias de conquistas de direitos sociais, o primeiro foi pioneiro na aceitação de negros em seu plantel de jogadores, o segundo lutou pela democracia em dado momento da ditadura no País, o terceiro fundado por imigrantes e comerciantes renegados deu espaços classes sociais marginalizadas na capital paulista. 

O perfil violento que tratam o esporte não faz parte de sua história, mas sim da história do país. E está na hora do futebol assumir seu papel na sociedade, o futebol atrai milhões de pessoas, movimenta milhões de reais, tem um papel importante na estrutura social, mas é tão marginalizado quanto qualquer outro seguimento no Brasil. 

Quando me perguntam como assim o futebol precisa assumir o seu papel na sociedade, eu costumo responder que o esporte mais popular do mundo pode ser usado como ferramenta a favor do bem social e não como mais uma usada pelos maus. A exemplo disso é que grandes figuras do futebol nacional precisam se posicionar politicamente sobre o país, é preciso orientar seus adeptos, é necessário explorar a força que tem o futebol para converter isso em benefício do país.

Não existe acabar com a violência no futebol, existe acabar/diminuir a violência na seara social. E isso só ocorrerá se houver uma ação conjunta entre Estado, entidades de administração do desporto e as entidades de prática desportiva, juntamente com seus torcedores.


A violência, a impunidade e a generalização não é a síntese do futebol brasileiro, é a síntese da sociedade brasileira. 


Os problemas sociais não são reflexos do futebol, é o futebol que sofre os reflexos dos problemas sociais.

Se faz urgente que o futebol, através de seus representantes, assuma seu papel e responsabilidade com a realidade do país, não podemos querer separar o futebol do restante do contexto, a inserção do esporte mais popular do país no complexo social é medida urgente. Torcedor não é criminoso, mas há criminosos que são torcedores e esses precisam ser tratados como tal. 

Segundo DAMATTA (2006), o futebol é uma forma do cidadão extravasar suas paixões, alegrias, tristezas, fidelidades e etc.(1)

Por esta razão que não podemos deixar de correlacioná-lo com o cenário atual do país. O futebol não pode desprender-se de sua identidade e tampouco da sua importância, em termos políticos desde o século 20, do Estado Novo Getulista ao Regime militar se utilizou do futebol para formação, construção e consolidação da nossa identidade nacional.

Nas palavras de FERNANDES(2):
"Esta construção histórico-social, engendrou a massificação da adesão aos próprios clubes de futebol, democratizando, igualmente, a prática de "torcer" (para o qual concorreu fortemente a emergência de meios de comunicação de massa de abrangência nacional, começando pelo rádio). Os clubes se transformaram, assim em instituições sociais tradicionais, comandando relações de lealdade e identificação muito mais abrangentes e profundas do que as interações propiciadas pela expansão das relações de mercado no âmbito do desenvolvimento nacional."
Cumpre ressaltar que os dois maiores clubes do estado de São Paulo e por sua vez maiores rivais na cidade de São Paulo, já se uniram em prol de uma causa comum, o SC Corinthians Paulista e a Sociedade Esportiva Palmeiras usaram da ferramenta que tinham, O JOGO. À época fizeram frente para defesa do fim do Estado Novo em 1945.

Este momento singular das duas equipes transcende a seara do futebol.

O fato é que o futebol é explorado além de ferramenta cultural também como forma de ludibriar o povo, a paixão cega dos torcedores e o enorme apelo popular é usado para maquiar aquilo que acontece de fato no governo, e é isso que não podemos permitir, o futebol não pode ser o circo no cenário atual, e é perfeitamente possível utilizá-lo como ferramenta para efetiva melhoria do país.

Franco Junior (3) definiu de forma precisa o que somos hoje, ao dizer que o grande problema do brasileiro é que tanto o cidadão quanto o torcedor deposita sua fé em individualidades e não em esforços coletivos, frutos de planejamentos e ações contínuas, o brasileiro está sempre esperando o Messias ou o Pelé, que resolva os problemas, seja na política ou no futebol. 
De todo modo, cumpre salientar que, não podemos isolar o futebol do que acontece no país, nem para o bem nem para o mal, uma vez que o fenômeno esportivo é parte integrante de um todo. Repito: O FUTEBOL É REFLEXO DA SOCIEDADE E NÃO A SOCIEDADE QUE É REFLEXO DELE. Precisamos assumir o nosso papel na sociedade, me incluo porque sou torcedora assídua e frequentadora dos estádios, mas não posso esquecer o meu papel de cidadã, e se preciso for é necessário usar do futebol para ressaltar a importância do envolvimento no cenário político, econômico e social do país.

Como disse MUDAD (4): "O futebol, como nossa paixão popular e esporte número um, encena um ritual coletivo de intensa densidade dramática e cultural, em consonância com a realidade brasileira. É a combinação de simbologias, por meio das quais podemos estudar o Brasil".

E finalizo com a célebre frase de Albert Camus: "O QUE EU MAIS SEI SOBRE A MORAL E AS OBRIGAÇÕES DO HOMEM DEVO AO FUTEBOL”. 


REFERÊNCIAS

(1)DAMATTA, R. A bola corre mais que os homens. Rocco, 2006, p. 157;
(2)FERNANDES4 in REBELO, 2010, p.17);
(3)FRANCO JÚNIOR, H. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. Companhia das Letras, 2007. p.433;
(4)MUDAD, Dos pés à cabeça, Elementos Básicos de Sociologia do Futebol. RJ: Irradiação Cultural, 1996, p.176).

POR ALINE S. TELES













-Bacharelanda em Direito na Universidade Paulista;
-Estagiária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo;
-Natural de Alagoas, hoje residente e domiciliada em Campinas-SP;
São suas palavras: Como anseio por um Brasil melhor, no sentido político e social, escolhi cursar direito para a partir do judiciário contribuir para que essa melhora deixe de ser utopia.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

2 comentários:

  1. Caríssima, já imaginou se o eleitor pensasse o voto como pensa o futebol?

    Técnico sem títulos e jogador perna de pau não iriam perpetuar por décadas sendo reeleitos.

    Quanto à violência no futebol os exemplos vêem de cima. Jogadores dando mal exemplo Unidos à covardia dos torcedores planifica o estado de caos.

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  2. Caríssima, o exemplo vem de cima. A mãe de todas as nossas mazelas se chama IMPUNIDADE.

    O jogador reza, agradece a Deus mas quando um faz embaixadinhas ,vixe🤔🤔🇧🇷

    Quanto ao torcedor violento aponto alguma possibilidades:

    ■ Excesso de drogas e álcool usados antes das partidas🤔
    ■ A COVARDIA latente do ser humano. Observem que quando existem 2 a 3 torcedores de times rivais, brincam tiram sarro e se divertem.

    Passou de se transformam em QUADRILHAS .🤔🤔🇧🇷🇧🇷🤗🤗🤗

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