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sábado, 7 de setembro de 2019

A Dor da Mulher por Trás do Giz


Autora: Valdirene Ferreira(*)


Por Decreto do Imperador do Brasil, Dom Pedro I, no Dia 15 de Outubro é comemorado o Dia do Professor.
Assim, dedico esse poema a todos os professores e professoras.

Como teria a bela moça um grato coração por ter nascido mulher,
Se, por um descuido, não crescesse professora?
Como pode precipitar dos corredores da profissão
A moça prendada que a dona de casa requer?
Eis a graça de ser professora- mulher.

A mulher mãe e amiga que o ofício requer.
Valiosa que é, percebe a pífia recompensa em tostões que por si só descompensa...
Não fosse Guimarães: "Felicidade se acha é em horinhas de descuido", infeliz seria a patroa.
 Mas alimentada de uma fome que os tostões não podem recomprar,
Triunfa ao superar as ignorâncias dando paz à clareza tão necessária.
A donzela ensaia o menino para os artifícios de olhar de três maneiras com cada olho.

E ela que dá à luz, a que aponta o facho de luz para os arrevesados algébricos e pronominais,
Que tanto aterrorizam os desavisados quanto dá claridade aos mais ousados.
É ela, habilidosa professora, que visita o labirinto intelectual para arrecadar ideias das cabeças cheias e às vezes carentes e vazias.
A considerada fada madrinha quando abre, sem forçar, as janelas da lucidez, aliviada, vai para o lar num descuido feliz para recomeçar a outra metade que também consome e glorifica.

Mulher traz coisas para casa, professora traz mais coisas que mulher.
Vai, sua leva e traz, seu dia duro nas pernas que nunca se cansam não acaba aqui
Corre que suas mãos ainda alcançam o café gelado.
Apresse que as gotas quentes do chuveiro não podem te esperar.
E o jantar ainda está na prateleira da venda.

Mal se deita a inconformada esposa que deixa gente para trás já se olha no espelho e... ora veja quem lá está!
A tia, professora, fessora, prof, teacher. Todas professoras ali numa face só.
Corre que o relógio tem rigor e seu coração humano tem cordas apertadas pela gastura da fessora que deve ir sendo que hoje a mãe precisava ficar.


Os ruídos ecoando para dentro do juízo quase frágil da princesa cuja cabeça em casa ficou, conspiram num silêncio sofrido e ensurdecedor que logo expiram. Claro está que aflição não cabe nas horas dedicadas.
 A tia respira fundo e volta. E a fragilidade insana ecoando na tremedeira das mãos bem treinadas, calejados dedos alinhavam e se vão num caminho sem fim desenhando seu delicioso amor pelas palavras que instruem.

A ambição que corre a veia da teacher é  ver assimilada pela menina a lição do dia.
A avidez dela ecoa na dispersão, braveja no tsunâme de concorrência que quase tão cabalmente ao seu ofício se opõe.
A tela que tempo consome, abarrota mãos e cabeças de crianças paralisando suas mentes nessa dança virtual e perigosa.
Então, trava-se guerra vertiginosamente vulgar e eficaz para infernizar a já difícil vida da professora.

Mas há uma dor mais doída na alma dessa cinderela. Das maiores debatidas, incontestavelmente a que maltrata mais é a dor de não instruir.
Licença de novo, Guimarães: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". Coração de professora nunca esfria.

* VALDIRENE DIAS FERREIRA

-Graduada em Letras pela FENORD - Fundação Educacional Nordeste Mineiro- Teófilo Otoni - MG;
 - Especialista em Educação Básica pela FIJ - Faculdades Integradas de Jacarepaguá - Rio de Janeiro. - Supervisora Pedagógica






Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Belo texto! A vida real de uma professora retratada em um belíssimo poema.

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