Autora: Valdirene Ferreira(*)
Por Decreto do Imperador do Brasil, Dom Pedro I, no Dia 15 de Outubro é comemorado o Dia do Professor.
Assim, dedico esse poema a todos os professores e professoras.
Como teria a bela moça um grato
coração por ter nascido mulher,
Se, por um descuido, não crescesse
professora?
Como pode precipitar dos corredores
da profissão
A moça prendada que a dona de casa
requer?
Eis a graça de ser professora-
mulher.
A mulher mãe e amiga que o ofício
requer.
Valiosa que é, percebe a pífia
recompensa em tostões que por si só descompensa...
Não fosse Guimarães: "Felicidade se
acha é em horinhas de descuido", infeliz seria a patroa.
Mas alimentada de uma fome que os tostões não
podem recomprar,
Triunfa ao superar as ignorâncias dando
paz à clareza tão necessária.
A donzela ensaia o menino para os artifícios
de olhar de três maneiras com cada olho.
E ela que dá à luz, a que aponta o
facho de luz para os arrevesados algébricos e pronominais,
Que tanto aterrorizam os
desavisados quanto dá claridade aos mais ousados.
É ela, habilidosa professora, que
visita o labirinto intelectual para arrecadar ideias das cabeças cheias e às
vezes carentes e vazias.
A considerada fada madrinha quando
abre, sem forçar, as janelas da lucidez, aliviada, vai para o lar num descuido
feliz para recomeçar a outra metade que também consome e glorifica.
Mulher traz coisas para casa, professora
traz mais coisas que mulher.
Vai, sua leva e traz, seu dia duro
nas pernas que nunca se cansam não acaba aqui
Corre que suas mãos ainda alcançam
o café gelado.
Apresse que as gotas quentes do
chuveiro não podem te esperar.
E o jantar ainda está na prateleira
da venda.
Mal se deita a inconformada esposa que
deixa gente para trás já se olha no espelho e... ora veja quem lá está!
A tia, professora, fessora, prof, teacher.
Todas professoras ali numa face só.
Corre que o relógio tem rigor e seu
coração humano tem cordas apertadas pela gastura da fessora que deve ir sendo
que hoje a mãe precisava ficar.
Os ruídos ecoando para dentro do juízo
quase frágil da princesa cuja cabeça em casa ficou, conspiram num silêncio sofrido
e ensurdecedor que logo expiram. Claro está que aflição não cabe nas horas
dedicadas.
A tia respira fundo e volta. E a fragilidade
insana ecoando na tremedeira das mãos bem treinadas, calejados dedos alinhavam e
se vão num caminho sem fim desenhando seu delicioso amor pelas palavras que
instruem.
A
avidez dela ecoa na dispersão,
braveja no tsunâme de concorrência que quase tão cabalmente ao seu ofício se
opõe.
A tela que tempo consome, abarrota mãos
e cabeças de crianças paralisando suas mentes nessa dança virtual e perigosa.
Então, trava-se guerra vertiginosamente
vulgar e eficaz para infernizar a já difícil vida da professora.
Mas há uma dor mais doída na alma dessa
cinderela. Das maiores debatidas, incontestavelmente a que maltrata mais é a
dor de não instruir.
Licença de novo, Guimarães: "Eu
quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". Coração de professora
nunca esfria.
* VALDIRENE DIAS FERREIRA
-Graduada em Letras pela FENORD - Fundação Educacional Nordeste Mineiro- Teófilo Otoni - MG;
- Especialista em Educação Básica pela FIJ - Faculdades Integradas de Jacarepaguá - Rio de Janeiro. - Supervisora Pedagógica
Nota do Editor:
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Belo texto! A vida real de uma professora retratada em um belíssimo poema.
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