sábado, 9 de janeiro de 2016

Heráclito, Raul Seixas e a educação brasileira





Certo dia em uma esfera transcendente, um sujeito de rosto franzino e de barbas longas tocava seu violão, demonstrando um ar de desencanto. Seu nome era Raul, conhecido outrora por Raul Seixas. 

Olhando atentamente aquela cena, aproximou-se  um senhor distinto de nome Heráclito que vivera na Grécia há tempos atrás. E disse-lhe:

-“Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais”. 

Raul levantou seu rosto e com olhos bem sarcásticos disse-lhe:

-Há algo que você pode tentar me explicar, pois faz anos que tento compreender e não consigo. 

O filósofo Grego respondeu-lhe dizendo: 

- O que tanto tira seu sossego? 

Então o cantor respondeu: 

- Se sabes tudo no mundo, me explica o problema da educação brasileira.

Heráclito pensou e falou: 

- Certo dia eu afirmei que na vida “Tudo flui”, tudo está em constante transformação. Um mesmo homem não pode banhar-se no mesmo rio duas vezes, pois nem o homem é o mesmo nem o rio, pois suas águas são correntes. 

- Muito bom! exclamou o cantor. 

Heráclito continuou:

-Porém, acompanhe-me no raciocínio: Vamos recolocar sua tese para o desesperador processo educacional brasileiro: 

“Às vezes você me pergunta, porque eu sou tão calado”. Ocorre que pensando sobre educação ou qualquer instância da vida, há uma enorme distância entre teoria e prática, mas na educação desse país ela tende a alastrar-se."

Canta Raul: 

Ê dona Dilma, Vê se te emenda. Assim dessa maneira, filha, o Brasil não aguenta!

Heráclito exorta Raul e diz: 

- Espere eu concluir meu raciocínio ...

Raul fala: 

- “É porque eu sou a mosca que pousou na sua sopa”. 

Os dois, enfim, sorriram.

O filósofo, porém, continua a estender-se em sua minuciosa explicação:

“A falta de sentido transforma as salas de aulas – que na teoria deveriam ser caixas de ressonância de conhecimentos- em oásis de inutilidades, onde se precipitam e se cristalizam os rumores e os gestos do útil”. A reprodução verticalizante reveste-se de pseudo-intelectualidade. Somos seres corpóreos e inseridos numa esfera cósmica em constante transformação. Se tudo está em constante transformação porque as pessoas não se tornam abertas a toda forma de mudança? Porque os professores e gestores preferem continuar reproduzindo conhecimento ao invés de ajudá-los a construir!!! Será mais confortável reproduzir a transformar?

Diz Raul: 

- Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Heráclito responde:

-  Eles (os estudantes brasileiros) estão condenados à inércia, enquanto a educação funcionar como premio de consolação para a maioria dos seus integrantes.

Retruca Raul: 

- Então a solução seria uma sociedade alternativa?

Heráclito responde: 

- Viva! Viva! Viva a sociedade alternativa!

- E qual sua conclusão : só sei que nada sei? Não! A composição de quadro, lápis, livro, sala de aula, aluno e professor é ambivalente, ou seja, ela pode revolucionar uma sociedade ou mesmo bestializá-la, finalizou o filósofo.

O cantor então grita: 

-CHEGA DE CONVERSA, AH! OLHE O TREM! VEM SURGINDO POR TRÁS DAS MONTANHAS AZUIS, OLHA O TREM! É HORA DE PARTIR.

Um abraço e os dois subiram num vagão com destino ignorado. Sabe-se, apenas, que na frente do trem havia uma palavra : Infinito!

Postado por REGINALDO CABRAL





- Professor de História e Sociologia