Certo dia em uma esfera transcendente, um sujeito de rosto franzino e de barbas longas tocava seu violão, demonstrando um ar de desencanto. Seu nome era Raul, conhecido outrora por Raul Seixas.
Olhando atentamente aquela cena, aproximou-se um senhor distinto de nome Heráclito que vivera na Grécia há tempos atrás. E disse-lhe:
-“Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais”.
Raul levantou seu rosto e com olhos bem sarcásticos disse-lhe:
-Há algo que você pode tentar me explicar, pois faz anos que tento compreender e não consigo.
O filósofo Grego respondeu-lhe dizendo:
- O que tanto tira seu sossego?
Então o cantor respondeu:
- Se sabes tudo no mundo, me explica o problema da educação brasileira.
Heráclito pensou e falou:
- Certo dia eu afirmei que na vida “Tudo flui”, tudo está em constante transformação. Um mesmo homem não pode banhar-se no mesmo rio duas vezes, pois nem o homem é o mesmo nem o rio, pois suas águas são correntes.
- Muito bom! exclamou o cantor.
Heráclito continuou:
-Porém, acompanhe-me no raciocínio: Vamos recolocar sua tese para o desesperador processo educacional brasileiro:
“Às vezes você me pergunta, porque eu sou tão calado”. Ocorre que pensando sobre educação ou qualquer instância da vida, há uma enorme distância entre teoria e prática, mas na educação desse país ela tende a alastrar-se."
Canta Raul:
Ê dona Dilma, Vê se te emenda. Assim dessa maneira, filha, o Brasil não aguenta!
Heráclito exorta Raul e diz:
- Espere eu concluir meu raciocínio ...
Raul fala:
- “É porque eu sou a mosca que pousou na sua sopa”.
Os dois, enfim, sorriram.
O filósofo, porém, continua a estender-se em sua minuciosa explicação:
“A falta de sentido transforma as salas de aulas – que na teoria deveriam ser caixas de ressonância de conhecimentos- em oásis de inutilidades, onde se precipitam e se cristalizam os rumores e os gestos do útil”. A reprodução verticalizante reveste-se de pseudo-intelectualidade. Somos seres corpóreos e inseridos numa esfera cósmica em constante transformação. Se tudo está em constante transformação porque as pessoas não se tornam abertas a toda forma de mudança? Porque os professores e gestores preferem continuar reproduzindo conhecimento ao invés de ajudá-los a construir!!! Será mais confortável reproduzir a transformar?
Diz Raul:
- Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Heráclito responde:
- Eles (os estudantes brasileiros) estão condenados à inércia, enquanto a educação funcionar como premio de consolação para a maioria dos seus integrantes.
Retruca Raul:
- Então a solução seria uma sociedade alternativa?
Heráclito responde:
- Viva! Viva! Viva a sociedade alternativa!
- E qual sua conclusão : só sei que nada sei? Não! A composição de quadro, lápis, livro, sala de aula, aluno e professor é ambivalente, ou seja, ela pode revolucionar uma sociedade ou mesmo bestializá-la, finalizou o filósofo.
O cantor então grita:
-CHEGA DE CONVERSA, AH! OLHE O TREM! VEM SURGINDO POR TRÁS DAS MONTANHAS AZUIS, OLHA O TREM! É HORA DE PARTIR.