Autora: Marilice Mello(*)
Porque TEA? Em 2015 a American Psychiatric Association- APA caracterizou o Autismo como Transtorno do Espectro Autismo (TEA), comportamentos severos e problemáticos tendo déficit bastante significativos de comunicação e socialização. Autismo é um conjunto de transtornos neurológicos que afeta o cérebro (desordens). O espectro é largo e tem muita coisa dentro deste espectro, a distância entre um espectro e outro é muito grande. Estudos recentes comprovam que grande parte dos casos de Autismo são de origem genética. (Revista Espaço Aberto da USP. 170ª edição).
A forma da detecção é a comportamental. Apresenta déficits persistentes na comunicação, interação social e no comportamento em vários contextos. (Gomes, 2011).
Contudo, convido o leitor a iniciar nossa reflexão de hoje com a seguinte questão, qual a importância da leitura para a criança com TEA?
A leitura tem funções importantes na vida das pessoas e contribui para a maior compreensão dos estímulos do ambiente, oferecendo recursos para interações mais amplas entre as pessoas, permitindo desfrutar do ambiente escolar por meio da aprendizagem de habilidades mais complexas que dependem da aprendizagem prévia da leitura. O comportamento de ler (e também de escrever), são comportamentos aprendidos, alternados por várias formas de reforço generalizados. Para Skinner a alfabetização é relaxante, sendo assim uma fonte de reforçamento para alunos, estudante, crianças, educandos, professores quando os mesmos ensinam, e para os pais. Com isso evidenciamos a leitura para um processo de inclusão com mais qualidade.
Pensando assim acreditamos que ainda se faz necessário trazer para o debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão social de maior qualidade, que garanta o acesso à educação e considere a diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos. Trata-se das questões de classe, gênero, raça, etnia e geração, constituídas por categorias que se entrelaçam na vida social. Mulheres, afrodescendentes, indígenas, pessoas com deficiência, populações do campo, de diferentes orientações sexuais, sujeitos albergados, em situação de rua, em privação de liberdade, de todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a ser contemplados pelas políticas públicas.
Diante de tal realidade, nos deparamos com os desafios da inclusão da pessoa com Autismo. A falta de conhecimento sobre o que é Autismo é um dos fatores de maior gravidade para aceitação. Para tanto, se faz necessária uma divulgação cada vez maior e de melhor qualidade com o objetivo de melhorar a vida das pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), assim como de seus familiares e sociedade em geral.
Mesmo com o aumento considerável dos estudos sobre o TEA, ainda temos muito o que pesquisar. Os casos de crianças com esse transtorno aumentam a cada dia. Algumas leis de proteção às pessoas com Autismo foram aprovadas na década passada como a Lei n. 12.7642012, conhecida como Lei Berenice Piana, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro Autista. Em seu - Art. 1º, a pessoa com esse transtorno, para todos os efeitos legais, é considerada pessoa com deficiência. A Lei institui também a necessidade de um monitor, com formação qualificada, para acompanhar a criança com Autismo em sala de aula da escola regular de ensino, entre outros pontos.
A partir dessa Lei Berenice Piana, a pessoa com Autismo passa a ter os mesmos direitos da pessoa com deficiência no Plano Nacional de Educação, assim como na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com deficiência, Lei nº.13.146.
Pensando em alguns dados sobre os índices de indivíduos acometidos com TEA, temos atualmente 1 caso a cada 59 crianças atingidas pelo Autismo, conforme dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças- CDC dos Estados Unidos. A cada 4 delas, uma apenas é do sexo feminino, um dos motivos por ser representado pela cor azul.
No Brasil, não existe um número exato; há porém, uma estimativa de que 1 a cada 110 crianças nascidas sejam acometidas pelo Autismo. (Revista Espaço Aberto da USP. 170ª edição). Com o Senso de 2020 teremos a oportunidade de chegar próximo à um número mais real.
O tratamento da pessoa com Autismo é permanente e nem sempre prazeroso, e pensando em uma melhor forma de tratamento destacamos a Análise Aplicada do Comportamento (ABA), a qual tem sido identificada como uma das formas mais eficazes de intervenção ao autismo. Tal intervenção efetivamente tem permitido o desenvolvimento de habilidades e a redução de excessos comportamentais, cientificamente comprovados. (APA, 2015).
Nota-se que: A análise do comportamento tem se destacado na busca por modos de ensinar repertórios complexos a pessoas com atraso na aprendizagem, baseando-se no princípio de que “qualquer indivíduo é capaz de aprender, mesmo aqueles que apresentam limitações ou deficiência (de Rose, 2005; p.31).
Porém o sucesso do ensino está relacionado a diversos fatores, dentre eles estão: a intensidade e sua aplicação (40 horas semanais, distribuídas entre os profissionais e a família); a durabilidade (no mínimo 2 anos). Sabendo da dificuldade de comunicação de grande parte das crianças diagnosticadas com autismo o processo de alfabetização deverá acontecer o mais cedo possível, até mesmo antes das outras crianças típicas, a fim de que a inclusão possa ter melhores resultados. Porém a criança necessitará das habilidades básicas para aprender, como conseguir executar e finalizar atividades simples entre outras.
Pensando assim surgiu o interesse em realizarmos um estudo de caso dentro de um programa de intervenção, baseado em evidências fundamentado na Análise do Comportamento Aplicada à pessoa com Autismo (ABA), o ensino de leitura com compreensão, de três palavras simples para uma criança com TEA. Por meio de relações diversas entre palavras impressas, figuras e a fala, foram realizadas tentativas discretas de pareamento com a criança e a metodologia utilizada mostrou-se de grande eficiência.
Com isso o próximo passo do trabalho com a criança será o ensino de leitura com compreensão de outras palavras que fazem parte do seu repertório do dia a dia, e assim a generalização de leitura.
Diante de tal reflexão apontamos a importância da leitura para criança com TEA, sendo este um dos fatores que irá contribuir para uma inclusão com melhor qualidade.
* MARILICE PEREIRA RUIZ DO AMARAL MELLO
-Doutora em Educação: Currículo
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUCSP;
-Doutora em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUCSP;
-Mestre em Gestão e
Políticas Educacionais pela Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP;
-Graduada em Pedagogia Licenciatura pela Universidade Metodista de Piracicaba-
UNIMEP;
-Participa do Grupo de Pesquisa sobre Práticas de Aprendizagem
Integradoras e Inovadoras- Universidade Federal de Alagoas-UFAL- AL e é membro da
revista desse grupo;e
- Consultora em assuntos educacionais, em especial
sobre Inclusão Escolar voltada às crianças com Transtorno do Espectro do
Autismo -TEA.
Atualmente Diretora de Escola Municipal de Educação Infantil.
Endereço eletrônico:
m.marmello@uol.com.br
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