A educação bilíngue é um fenômeno crescente em
nossa sociedade atual. A maioria das escolas está adaptando seus currículos de
monolíngues para bilíngues para angariar mais estudantes. Entretanto o que
devemos nos questionar é o porquê de escolher uma educação bilíngue em
detrimento da monolíngue.
Em uma primeira análise podemos concluir que a
aquisição das duas línguas seria uma sobrecarga de aprendizado numa época em
que os pequenos também estão aprendendo como fazer amigos, contar, brincar, etc.
No entanto, analisando mais profundamente e estudando melhor o assunto
poderemos ver que este momento do crescimento permite que a aquisição da
segunda língua seja muito mais natural. O cérebro das crianças pequenas é
especialmente preparado para aprender uma segunda língua, uma vez que está em no
ápice da flexibilidade. Eles podem aprender uma segunda língua tão facilmente
quanto aprenderam a andar.
Destarte, se as crianças têm capacidade para
aprender vários idiomas, por que não ensiná-los?
Um estudo recente da York University, em Toronto, sugeriu que
a exposição de uma criança a duas línguas é muito mais benéfica para seu
desenvolvimento cerebral, do que quando exposta a apenas uma língua. Os
resultados mostraram que crianças bilíngues apesentam uma capacidade superior
de se concentrar em uma dada tarefa inibindo os estímulos cerebrais que a
dispersariam.
Os estudos ainda comprovaram que quando uma criança bilíngue
tenta se comunicar ambas as línguas "competem"dentro do cérebro para serem
ativadas e escolhidas. A criança deve selecionar uma e suprimir a outra, o que
requer atenção e foco para escolher os vocábulos da língua selecionada, mas ao
mesmo tempo o cérebro deve também permanecer inibindo a segunda língua. Isso
nos mostra a capacidade de flexibilização do cérebro infantil. A interferência da
segunda língua força o cérebro a resolver o conflito interno, dando à mente um
treino que fortalece seus músculos cognitivos.
As crianças bilíngues também são mais hábeis em
resolver conflitos mentais. Um estudo realizado em 2004 por Ellen Bialystok e
Michelle Martin-Rhee descobriu que os jovens bilíngues tiveram mais sucesso em
dividir objetos por forma e cor do que seus pares monolíngues que apresentaram
maior dificuldade quando a segunda característica (classificação por forma) foi
adicionada.
Isso sugere que a experiência bilíngue melhora o centro de comando
do cérebro, dando a ele a capacidade de planejar, resolver problemas e realizar
outras tarefas que exigem maior esforço mental. Essas tarefas incluem mudar a
atenção de uma coisa para outra, porém manter as informações em mente. Como
exemplo, podemos citar a criança que ao se preparar para ir para a escola segue
atentamente as instruções de sua mãe, ou seja, a criança executa uma ação se
preparando para as que virão em seguida, que são dadas por sua genitora. Essa
ação no adulto seria equivalente a conversar enquanto dirige um carro.
Embora seja mais fácil para as crianças a
tarefa de escolha e inibição por uma língua, também há benefícios para adultos
bilíngues.
As pesquisadoras supramencionadas descobriram que os jovens adultos
que conheciam duas línguas tiveram melhor desempenho nos testes de atenção e
tiveram melhor concentração em comparação com aqueles que só falavam uma
língua. Isso se deve em grande parte ao exercício que nosso cérebro recebe ao
alternar entre uma língua e outra. Isso nos permite focar melhor durante uma
palestra e lembrar informações relevantes.
Outra vantagem apresentada pelo estudo é que aprender
uma segunda língua pode proteger o cérebro de doenças como o Alzheimer. Estudos
recentes mostraram que o cérebro das pessoas bilíngues funciona melhor e por
mais tempo após o desenvolvimento da doença. Um idoso bilíngue que desenvolve
Alzheimer tem esta atrasada, em média, por quatro anos em comparação com um
idoso monolíngues.
Se ainda resta alguma dúvida se a educação
bilíngue confundirá e atrapalhará o desenvolvimento de seus filhos, se lembre
de que seus cérebros são flexíveis e as habilidades que as crianças desenvolvem,
além de aprender uma segunda língua, são imensuráveis. As crianças bilíngues
aprendem que um objeto permanece o mesmo, embora o objeto tenha um nome diferente
em outro idioma (permanência do objeto). Por exemplo, um pé permanece um pé em
inglês e português, mesmo sendo chamado de formas diferentes.
Estudos também
mostraram repetidamente que a aprendizagem de línguas estrangeiras aumentam o
pensamento crítico, a criatividade e as habilidades sociais. Aprender uma
segunda língua também dá ao cérebro habilidades necessárias para facilmente
aprender outros idiomas no futuro.
Em um mundo onde a maioria da população é
bilíngue, parece benéfico pensar em como você pode ajudar seu filho a aprender
uma segunda língua ainda na infância. Conhecer outras línguas e entender outras
culturas é importante para a juventude de hoje. Enquanto se preparam para viver
e trabalhar em uma sociedade global, eles irão interagir rotineiramente com
outras pessoas e culturas ao redor do mundo.
POR PATRÍCIA BASQUE
POR PATRÍCIA BASQUE
-Futura Pedagoga;
-Auxiliar de Sala no 1º ano do Ensino Fundamental e
-Cursando Pós-graduação em Psicopedagogia
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.