Recentemente dois fatos ocorridos me chamaram a atenção. Um primeiro foi em uma turma de ensino médio, alguns alunos questionaram a razão de existir da escola. Todos concordavam que a maioria dos conteúdos ministrados pelas diversas disciplinas, estão disponibilizados na internet e de uma forma muito mais acessível, rápida e com melhor apresentação. Tudo poderia ser feito em casa e com mais eficiência. Esta questão me tomou. Outro fato foram as manifestações nas redes sociais de inúmeros alunos e ex-alunos com relação ao cenário político atual. Opiniões diversas. Juízos e críticas sobre os fatos e posicionamento acerca dos mesmos.
Estes fatos tomaram minha reflexão e fez que eu buscasse certa justificativa e entendesse melhor este problema. Compartilho aqui, algumas conclusões.
O conhecimento, ao longo da história, sempre foi sinônimo de poder. O filósofo Francis Bacon, nos primórdios da idade moderna, emite a famosa epígrafe: “Saber é poder!”. O domínio do conhecimento sempre esteve nas mãos de instituições e pessoas privilegiadas. Do antigo Egito até as prestigiadas universidades contemporâneas, o poder do saber esteve em algumas mãos. O conteúdo somado ao longo da história é transmitido pelo sábio àquele que carece de sabedoria, o aluno. O ensino tradicional é ensinar, transmitir o conteúdo e cobrar se ele foi retido.
No entanto, nos últimos 20 anos ocorreram mudanças na disponibilização do conteúdo. Com o surgimento e a propagação da internet, tudo passou a ser acessível a todos. Qualquer sujeito, independente de sua classe ou formação cultural, tem a possibilidade de acessar todo e qualquer tipo de ensinamentos acumulados. Os dados estão aí. E com a propagação das redes sociais, agora o sujeito não só acessa o conteúdo, mas pode gerar, criticar e retransmitir. A internet democratizou o acesso e a elaboração de conhecimento, e sua transmissão não é uma exclusividade de alguns. O poder que antes era restrito as instituições de ensino e as grandes mídias, agora é possível a qualquer sujeito possuidor de um dispositivo móvel com acesso a internet. Proliferam infinidades de “bloggers”, “vloggers”, “youtubers”, paginas no Facebook, perfis no Twitter e Instagram que compartilham dos mais diversos temas. Tudo é assunto, possível de ser ensinado, transmitido e comentado.
A sociedade, que com a propagação da internet havia se tornado a sociedade da informação, com o uso das redes sociais se torna a sociedade do conhecimento. Não cabe ao sujeito simplesmente acessar aos bancos de dados, mas também a emissão de pontos de vista. Cada qual deve ter a habilidade de acessar, analisar e compartilhar. O sujeito consome um conteúdo virtual e não mais é passivo da produção. Ele comenta, dá “like”, crítica ou elogia.
Aqui nasce o descompasso com a educação.
A educação tradicional nos parece não estar preparada para esta nova demanda. Paulatinamente se instaura a necessidade da mudança no paradigma educacional: a educação tem que ser capaz desenvolver um sujeito que faz a interpretação dos dados. O mundo em que vivemos precisa de líderes, gente que relaciona as diversas informações recebidas, as sintetiza e encontra novos caminhos. Os conteúdos já estão aí, é preciso saber utilizá-los.
Todavia, os profissionais de educação, bem como os estudantes, estão no meio deste processo de atualização. Os caminhos para este tipo de pedagogia ainda não estão bem definidos, e por vezes, a geração que detém o domínio do processo formativo não se encontra completamente familiarizado com as exigências e recursos do mundo atual. Este novo modelo ainda não está bem claro, mas está por vir.
Deste modo, surge certa apreensão com relação à educação no futuro, mas também certa esperança. Apreensão pelo risco de que se formem dois tipos de modelos educacionais: um reservado a uma pequena elite crítica, capaz de absorver e sintetizar o mundo ao seu redor, e um outro para a grande massa, repetidora e escrava dos “memes”, que continuará a ter esta enorme potência ao alcance dos dedos, mas sem as habilidades necessárias para usufruir. Mas também, certa esperança com a possibilidade de uma mudança na sociedade que passa pela educação, e gere um cidadão crítico, capaz de processar as abundantes informações que lhe cercam. Um sonho, mas que tem potencial de se tornar real! O certo é que a escola jamais acabará. Ela deve adequar-se a novos modelos e métodos. Dos futuros professores, cada vez mais, será mais exigido. Mas, este aumento de qualidade terá seu reflexo na melhoria da sociedade.
Por FÁBIO DA FONSECA JUNIOR
Por FÁBIO DA FONSECA JUNIOR
- Formado em Filosofia
- Professor da rede pública e privada de ensino de filosofia e sociologia