sexta-feira, 30 de maio de 2025

Nossas percepções

Autor: Sergio Luiz Pereira Leite (*)

A cada dia que passa a sensação de desamparo nos é mais perceptível.

Vivemos tempos bicudos, em que a marginalidade campeia à solta, é protegida por ONGs que se auto denominam defensoras de direitos humanos de pessoas vítimas da sociedade capitalista e da desigualdade que atinge expressiva parte dos brasileiros. Mas também tivemos nossa capacidade de discernir obscurecida por uma falsa classe política, que deveria nos representar, mas que apenas mantem em alta os seus próprios interesses, nem sempre republicanos e nem sempre confessos.

Mas também o Estado se apropriou na Nação, criando um monstro administrativo em todas as esferas e segmentos e, literalmente, sequestrando o interesse público para alavancar os seus próprios. Quando digo isso, alguns poderão ficar assustados, mas não consigo compreender que os políticos e os juízes, em todas as esferas, estabeleçam os seus próprios subsídios, trazendo à sua remuneração uma infindável série de penduricalhos, que extrapolam o chamado teto constitucional. É uma piada e de muito mal gosto.

Temos hoje uma justiça lenta, cara e ineficiente. Os demais poderes em nada diferem do judiciário, quer na forma, quer no conteúdo, prevalecendo sempre os interesses paroquiais, ao invés do público. A saúde, a segurança e a educação, que deveriam conter uma politica de Estado, foram relegadas, senão esquecidas, ao passo que todos os detentores de poder, ao menor incômodo, não procuram o SUS, mas sim as referencias hospitalares do País, onde o contribuinte arca com os seus custos, alimentando a sanha tributária que campeia entre nós, os tributados.

Há muitos anos que mudei da capital paulista para uma cidade menor no  interior do Estado  de São Paulo. E essa mudança se fez, ao meu sentir, por várias razões, podendo destacar, dentre alguns, problemas de trânsito, de segurança, de custo de vida, de tranquilidade.

Daquela data para os dias atuais, a situação transformou-se em verdadeiro descalabro, ainda que o poder público providenciasse melhorias de infraestrutura e outras medidas, sempre, ao meu ver, paliativas. No caso do trânsito, os congestionamentos não diminuem, apenas se alongam ainda mais e a ignorância de alguns motoristas provoca nos demais um desgaste psicológico que parece inevitável, a não ser que se adote uma educação de trânsito mais profunda, urgente e radical, com posturas mais rigorosas e fiscalização mais atuante.

O mesmo acontece quando pensamos em segurança pública, que inexistente nas ruas pelas quais transitamos, sujeitos a todo tipo de violência, temerosos de obedecer à determinação dos semáforos de parar,  para aguardar a ordem de seguir o fluxo de veículos, quando somos abordados por todo tipo de indivíduos, alguns apenas interessados em vender alguma coisa que colocam à mostra, outros com intenção nefasta e criminosa, nos coagindo em um assalto, para nos levar algum bem material, quando não nos causando algum dano físico, não se inibindo, se necessário sentirem, em sequestrar a nossa própria vida.

Isso me faz sentir saudades de tempos pretéritos, em que o cidadão de bem era preservado e protegido pelo Estado. Os agentes policiais, eram o baluarte que, com sua presença, nos proporcionava segurança. É verdade que a população, assim como as cidades brasileiras cresceram demasiadamente, sem que a educação em  todos os níveis, mesmo familiar, alcançasse seus integrantes indiscriminadamente.

Não basta criar uma estrutura penitenciária pujante, quando  temos a percepção de que o Estado não pretende coibir o crime, privando de liberdade aqueles que afrontam as leis penais. A chamada audiência de custódia, ao invés do juiz perceber e avaliar o caráter e antecedentes do infrator, coloca em xeque a atuação policial. Aliás, a bandidagem alcançou requintes nunca imaginados, com celerados sendo eleitos por seus companheiros.

E a impunidade campeia nessa seara obscura de nossa Justiça, com uma legislação frouxa, ora liberando marginais reincidentes, ora anulando os flagrantes realizados, porque apenas se ouviu a palavra do acusado da infração, questionando se ele foi bem tratado, se houve algum tipo de violência contra ele praticada. É como  enxugar a água do gelo.

Não por acaso, os eleitores residentes das  casas reclusivas (sim, a maioria dos reclusos têm direito a voto) se alvoroçam com a eleição de algum "mano",  que na linguagem carcerária se refere aos colegas determinados pelos chefes das facções que dominam os presídios, para cumprir um mandato eletivo.

O sistema educacional  público é uma quimera em que, mesmo com o esforço de professores idealistas, forma uma quantidade absurda de analfabetos funcionais, interessados em músicas e danças duvidosas  e obrigando às famílias, com alguma posse, a matricular seus filhos em instituições de ensino particular, mas que têm um custo acessível a muito poucos.

E poderia me estender aqui em dissertações mais profundas sobre educação, saúde, justiça, segurança e política. Mas é como bradar no deserto, pois o povo, o real detentor do poder e que o exerce através de seus representantes, também se interessa mais pelas vantagens pecuniárias que eventualmente venha a auferir com a outorga de seu voto, do que com a lisura e honestidade daqueles que elegem.   

Afinal, o eleitor não colocou na direção de nossa Nação um notório corrupto e sua claque, com provas sobradas de suas participações delitivas? Nossos congressistas não elegem para os presidir pessoas com extensas fichas cíveis ou criminais, alguns até com a família inteira envolvida. Esperar o que dessas aberrações?

*SERGIO LUIZ PEREIRA LEITE




-Advogado graduado pela Faculdades de Ciências Jurídicas e Administrativas de Itapetininga (03/76) e

-Militante há mais de 45 anos nas áreas cível e criminal na Comarca de Tietê, Estado de São Paulo.

Nota do Editor:

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